Por Renato Moura
A crise do jornalismo é um facto e também o desaparecimento de muitos órgãos de comunicação social: uma arrelia dos cidadãos defensores da liberdade. Continua a haver jornalismo sério, digno, de qualidade.
Os órgãos de comunicação social são um poder forte. Facilitam o acesso à informação. São instrumentos duma cidadania activa no uso do direito à liberdade de expressão e de opinião. Incentivam o debate de temas e ideias. Combatem a desinformação. Corrigem a falsa informação. Fazem investigação. Trazem para a luz malfeitorias ou tramoias escondidas. Vigiam e escrutinam os poderes públicos. Denunciam as repressões da liberdade. Quando assim agem, em prol da sociedade em geral, ou de uma comunidade, são um bem público merecedor de apoio para a sua sustentabilidade, sempre com salvaguarda da liberdade e garantia de inexistência de quaisquer condicionamentos.
Qualquer estado democrático tem Constituição e leis para garantir a liberdade de expressão e de imprensa. Mas os preceitos legais não bastam: é necessário que os poderes instituídos as garantam e os cidadãos as aproveitem e exerçam.
Também há mau jornalismo, submisso, sem liberdade; ou anunciando-se como independente, mas sendo tendencioso. Acresce a pressa em noticiar sem validar a informação e a ânsia da espectacularidade. É publicar, sem verificação, material dos gabinetes de imprensa dos poderes públicos. É noticiar e mesmo opinar sob pressão dos poderes, sejam eles públicos, empresariais ou pessoais.
Ainda assim, para aferir da importância e influência da comunicação social, basta verificar que as agendas dos partidos e agentes políticos funcionam a reboque dos títulos dos jornais!
A comunicação social sempre foi odiada e censurada pelas ditaduras. Todavia os regimes, ditos democráticos, também se sentem muito incomodados pela liberdade de imprensa. Em ditadura matam-se jornalistas; em democracia não falta quem tente condicioná-los. Não fala de cor quem como administrador e director de um jornal viu ser retirada a página da autarquia que constituía receita de publicidade. Como um deputado exigente e reivindicativo, que usava da liberdade de dirigir e opinar num jornal, percebeu a intenção de um presidente de governo, que com um desses jornais, sacado da pasta, o zurziu!
O direito à liberdade de imprensa e de expressão, entre nós, está impresso no papel. Mas uma verdadeira liberdade pode ser amarfanhada pelo papel dos poderosos. Todavia se o nosso papel for de coragem, virá acima a nossa liberdade, que frutificará nos sedentos.