Na Semana Nacional da Cáritas, o tema da pobreza entrou na Novena dos Espinhos
O padre José Paulo Machado, pároco da Fajã de Baixo, em Ponta delgada, é o terceiro pregador da Novena dos Espinhos, que entrou hoje na sua reta final, e afirmou esta tarde que o maior inimigo da pobreza é a indiferença.
“Há um espinho na carne de todos nós que é o confronto com um pobre, que nos deixa quase sempre inquietos. Mas o grande perigo é a indiferença” afirmou o sacerdote que irá pregar os últimos três dias da Novena dos Espinhos que decorre no Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres desde o passado dia 21.
“Há um bloqueio humano que nos faz afastar da realidade do pobre e isso pode resultar na indiferença” afirmou ainda, sublinhando que a justiça ao pobre, tema que inspirou o sétimo dia da Novena dos Espinhos, “faz-se quando deixamos de fugir dele, nos preocupamos com ele e o integramos na nossa vida”.
“Sempre que não o fizermos estamos a afastar-nos de Deus e do seu projecto que é a construção do Reino, que é de todos e para todos”, disse o padre José Paulo Machado.
O sacerdote desafiou os fieis a “entrar nesta dinâmica” da “misericórdia de Deus”, isto é, cada um “poder fazer a sua parte” na luta contra a pobreza e os pobres, indo para além do mero assistencialismo que sendo importante, “é insuficiente”.
“Essa é a verdadeira conversão que a Quaresma reclama” disse , por fim, recordando que o reino de Deus e o cuidado do outro, seja material seja espiritualmente, estão intimamente ligados.
O sacerdote, que é também professor de Educação Moral e Religiosa Católica, irá ainda pregar mais dois dias da Novena dos Espinhos, a primeira grande festa do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada.
A questão da pobreza é cada vez mais candente nos Açores, com novos pobres a aparecerem todos os dias: pessoas que trabalham e não conseguem ter o rendimento suficiente para fazer face às suas necessidades básicas. O alerta foi deixado pela presidente da Cáritas da ilha terceira que diz que o rosto da pobreza está a alterar-se nos Açores.
São mais de 500 mil as pessoas que vivem em privação material e social severa em Portugal, segundo um estudo da Cáritas divulgado hoje. De acordo com as estatísticas oficiais, são particularmente afetadas as famílias com mais baixos níveis de escolaridade, com menor participação no mercado de trabalho, as famílias monoparentais, as que incluem pessoas com deficiência, e as famílias imigrantes.
O documento nacional indica que as maiores taxas de privação material e social severa são registadas nos desempregados (18,4%) e nos outros inativos (8,2%).