Mais dois pecados – a inveja e a ira- foram descodificados esta noite na Igreja da Vila Nova, na segunda catequese da Quaresma promovida pela ouvidoria da Praia, contrapondo-se-lhes a misericórdia e a paz
Os pecados da inveja e da ira foram explicados esta quarta-feira à noite na segunda Catequese Quaresmal promovida pela ouvidoria da Praia, que decorreu na igreja da Vila Nova e teve como oradores Vanessa Medeiros, psicóloga e o cónego Ângelo Valadão, que contrapôs a misericórdia e a paz como alternativas aos dois pecados.
“A inveja provoca o ódio, a bisbilhotice, a maledicência, e nunca levou a nada, por isso, nunca será uma construtora de paz nem de amor”, afirmou a psicóloga clínica Vanessa Medeiros, enquadrando a inveja e a ira num conjunto de emoções geradas pelo ser humano a partir de estímulos diferentes, uns de natureza individuais e outros sociais.
“A inveja e a ira são emoções mas também podem ser sentimentos. A inveja é uma emoção negativa e pode provocar a ira” garante a psicóloga que recordou a dificuldade que as pessoas têm em confessar este pecado ou por não terem dele uma perfeita consciência ou porque lhes custa admitir socialmente uma determinada emoção que os fragiliza.
“Confessá-la é assumir quem nós somos para nós próprios e para os outros e isso nem sempre é fácil” referiu depois de enquadrar alguns aspectos que podem provocar “o gatilho” destas emoções: a frustração, a insuficiência , o insucesso, etc.
“A inveja é prejudicial ao nosso bem estar social e psicológico e ocorre em situações de inferioridade ou de insatisfação, revolta e incompreensão” referiu sublinhando as dificuldades inerentes à confissão deste pecado, sendo mais fácil o ser humano assumir “a culpa, a ambição e a raiva”.
“A conotação social associada ao pecado da inveja é muito negativa e, por isso, é mais difícil de confessar” concluiu destacando que a ira, ou raiva, sendo uma das cinco emoções básicas do ser humano, que estão padronizadas e cientificamente identificadas, é mais facilmente desculpável.
Já o cónego Ângelo Valadão procurou enquadrar teologicamente estes dois pecados oferecendo o seu oposto a partir do comportamento de Jesus, expresso no Evangelho
“Há permanentemente um apelo a todos nós a lutarmos contra o mal seja numa perspetiva bíblica seja numa perspetiva teológica”, afirmou o sacerdote.
“Deus é amor e por isso é rico em caridade e rico em misericórdia, que por sua vez é a `arma´ da paz”.
O teólogo apresentou várias passagens bíblicas para explicar o “amor de Deus pelo seu povo” como sinal explícito da sua misericórdia e desafiou os presentes a desenvolverem comportamentos e sentimentos semelhantes com o “seu próximo”.
“A misericórdia promove a benignidade e a mansidão, sobretudo junto dos mais pobres e necessitados. Temos de valorizar a misericórdia”, disse.
“Contra o pecado da ira a paz aparece como alternativa e como um dom de Deus” disse, por outro lado, destacando que “Cristo é o garante da paz e a paz pode ser considerada em duas dimensões: a paz interior e a paz social” afirmou, exortando os presentes a deixarem “o Espírito Santo trabalhar, através da sua sabedoria”.
“Há muitas guerras que podem ser iniciadas através de uma simples troca de palavras” exemplificou ao recordar que a Igreja, através de vários documentos do magistério, tem desenvolvido várias reflexões sobre a paz, como um dom de Deus, tendo como pilares a verdade, a justiça e a liberdade.
As catequeses quaresmais “Santos, Sãos e Salvos” são uma iniciativa da ouvidoria da Praia, na ilha Terceira e decorrem durante quatro semanas.
No dia 13 de março, a Igreja da Misericórdia da Praia recebe a terceira catequese da Quaresma, que contará com três oradores: a psicóloga Letícia leal falará sobre a “Avareza”; o psicólogo Alvarino Pinheiro sobre a “Gula” e o Cónego Hélder Fonseca Mendes sobre a “Justiça e Abstinência”. No dia 20 de março, na Igreja da Fonte do Bastardo, o psicólogo Filipe Fernandes abordará os pecados da “Luxuria e Soberba” e o padre José Júlio Rocha falará sobre “Castidade e Humildade”.
“Ao olharmos com atenção estes sete pecados, podemos contemplar uma interpelação perene à vida do homem. Neles se encontram toda e qualquer situação possível de vida, de classe social e de problemáticas presentes na jornada de cada homem” refere uma nota enviada ao Sítio Igreja Açores pela organização.
Além disso, “reconhecê-los e olharmo-nos através deles ensina-nos a viver” prossegue a nota.
“Hoje, o discurso e a capacidade sintética dos pecados capitais é tomado e aplicado em diversos contextos da vida social, em especial pelas ciências sociais e humanas, como a psicologia. Através deles podemos fazer luz sobre a condição humana, na sua fragilidade, mas também na sua recuperação e na sua saúde física e mental” justifica a organização, que “convida a todos a participar nestas catequeses quaresmais”.
(Com Diniz Toledo e Mário Jorge)