Por Renato Moura
O Lugar da Ponta da Fajã Grande é uma aprazível povoação onde há 50 anos viviam cerca de 300 pessoas. A emigração e as deslocações diminuíram a população. Interessante e digno de registo, é o facto de ainda assim se ter cuidado de manter vivas as tradições e valores locais, nomeadamente os de natureza religiosa. Não só o seu Império do Espírito Santo está preservado, como se mantém activo o culto à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
A sua igreja, construída num ponto magistralmente escolhido, a encimar uma alta escadaria única na Ilha das Flores, destaca-se na paisagem e é visível à admiração a grande distância. Tem recebido custosas obras de recuperação e conservação, apresentando-se impecável. Tudo isto tem sido possível pela grande cooperação, não só dos residentes, como de todos os naturais da povoação, que estando emigrados ou habitando noutras terras, se consideram como seu povo. Nos últimos anos isso tem sido levado a cabo sob o enquadramento da diligente família Serpa, com a realização de iniciativas de angariação de fundos, as quais têm atraído a disponibilidade para o trabalho de muitas pessoas e a adesão contribuinte de florentinos e forasteiros.
A padroeira é Nossa Senhora do Carmo e a sua festa sempre se vinha fazendo com a devida pompa e aderência geral; nos últimos dois anos reduzida por força das determinações relativas à pandemia.
Nos últimos anos a Ponta da Fajã Grande viveu sob a ameaça da extinção, seja como local de habitação e até de preservação do seu património. Isso colocou sob justificável apreensão os residentes, as pessoas dali naturais, bem como os admiradores da localidade, os quais não são apenas das Flores, mas a generalidade de quantos ali experimentaram ou vivenciaram o conforto e a paz.
Na semana de trabalho da Assembleia Legislativa açoriana, durante a qual se discutiria o projecto de Decreto Legislativo para pôr fim às restrições e anular as investidas contra a Ponta, ocorria a festa da Memória de Nossa Senhora do Carmo, a 16 de Julho. Tive ocasião de viver e sentir a fé dos que costumo chamar «Povo da Ponta», no desejo do andamento dos trabalhos parlamentares empurrar a discussão para esse dia, crentes na intercessão de Nossa Senhora do Carmo.
Acreditou-se, rezou-se, aconteceu e concretizou-se. Nesse dia abriu-se a igreja para agradecer à Senhora do Carmo e no seu adro festejar.
Partilho o testemunho. Recordemos do Evangelho: «Pedi, e ser-vos-á dado» (Mt 7,7) e «Pedi e recebereis. Assim, a vossa alegria será completa» (Jo 16,24). E foi!