A Inteligência Artificial deveria libertar o homem daquilo que o faz perder tempo e aumentar a sua qualidade de vida, afirma investigador

 

Foto: Igreja Açores/JC

Palestra do Professor João Paiva sobre os fascínios e dilemas da Inteligência Artificial aconteceu nas Flores, numa iniciativa da Ouvidoria

O professor João Paiva, da Universidade do Porto, afirmou esta quarta-feira, em Santa Cruz das Flores, que há inúmeras coisas em que a Inteligência Artificial pode, e já é, mais eficaz que o ser humano e, por isso, há que aproveitar “sem medo” e tendo sempre presente “uma dimensão ética”.

“Há muitas coisas em que a Inteligência Artificial (IA) é boa e faz mais do que os homens”, como por exemplo limpar lixo, produzi-lo de forma mais eficaz, ler aspectos relacionados com a saúde humana a partir de exames de diagnóstico; por isso “numa sociedade ideal apoiada tecnologicamente a IA faria tudo o que é menos construtivo para o ser humano e libertava-se o homem para o homem” afirma o investigador da Universidade do Porto, que esta quarta-feira proferiu uma conferência sobre  “Inteligência Artificial e Humanidade- Fascínios e Dilemas”, no centro Cultural de Santa Cruz das Flores, uma iniciativa promovida pela Ouvidoria das Flores em parceria com a Pastoral Familiar da ilha.

“Tudo o que é assegurado em defesa da liberdade deve ser defendido” adiantou João Paiva,  que deveria ter proferido duas conferências na ilha, mas que por causa do cancelamento de voo, na tarde de terça-feira, apenas proferiu uma delas.

O professor de Química , natural da zona centro de Portugal, afirmou, por outro lado, que as grandes mudanças tecnológicas levantam e suscitam medos.

“O dilema ético é também antropológico. Houve vários sustos sociais ao longo da história da humanidade e com razão. Antes eram os nossos pais que nos controlavam e controlavam a nossa liberdade; hoje são organizações de informação muito vastas que nos controlam e isso não nos deve fazer descansar com sentido crítico”, referiu o investigador.

“Antes quem tinha mais poder era quem tinha coisas; hoje ter poder é ter dados e muitos dados” afirmou ainda.

“Temos de aproveitar o que ela tem de bom e estar atentos ao que ela representa de menos bom” disse ainda elecando a educação como um desafio.

A iniciativa da ouvidoria das Flores conta com o apoio das autoridades autarquicas da ilha bem como da pastoral da família.

A questão da inteligência artificial tem dominado as preocupações mais recentes do Papa. Francisco tem alertado para os riscos do homem se tornar escravo do algoritmo.

“A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar uma contribuição positiva no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação”, ressalta o Pontífice.

No entanto, alerta: “a inteligência artificial acabará por construir novas castas baseadas no domínio informativo, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, trará mais igualdade, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época que estamos atravessando, favorecendo a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista”.

João Paiva é Professor no Departamento de Química e Bioquímica e membro da Unidade de Ensino das Ciências da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. O seu principal interesse situa-se nas relações da ciência com outras áreas do saber – nomeadamente a poesia, a filosofia, a religião, a divulgação, a sociologia e a educação. É coordenador do grupo de investigação de “Educação, Comunicação de Ciência e Sociedade” do Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto (CIQUP). É autor de cerca de trinta livros, uma vintena dos quais são manuais escolares.

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