Sacerdote deixa a Casa do gaiato ao fim de 22 anos, quando se prepara para completar 89 anos na próxima quarta-feira
O padre Fernando Teixeira, natural do Nordeste e sacerdote há 62 anos, considera que a “Igreja tem de estar onde estão as pessoas”.
O sacerdote que deixou a liderança da Casa do Gaito ao fim de 22 anos, considera que foi uma experiência enorme conviver com rapazes e conhecer por dentro a Família.
“Não se trata de conhecer a família em concreto, de cada criança, mas de conhecer a dinâmica familiar e isso ajudou-me muito no sentido em que a maioria das famílias por mim visitadas eram famílias pobres, com muitos problemas” refere numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo depois do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.
“Hoje já me sinto cansado mas foram momentos muito intensos e gratificantes os que passei à frente da Casa do Gaiato” refere.
“Ainda hoje é a primeira coisa que faço a seguir ao pequeno almoço é visitar a Casa do Gaiato. Os miúdos já lá não estão, porque estão na escola, mas na minha velhice e na minha solidão, a visita aos gaiatos refresca. Sou assim uma espécie de gaiato velhinho” como dizem alguns na instituição.
“A instituição, que nem sempre foi bem vista- muito por causa dos castigos que se dizia que a Casa impunha- é hoje uma casa de referência no acompanhamento e no cuidado de crianças com problemas” refere o sacerdote quase a cumprir 89 anos, na próxima quarta-feira, dia 11 de dezembro.
Para o padre Fernando Teixeira a separação das atividades dentro das três valências, com a saída dos rapazes para a escola, para a catequese ou para outras atividades abriu a instituição e isso teve ganhos na educação das crianças”, refere.
“A saída e o contacto com o mundo são sempre coisas boas” refere em jeito de metáfora também para a Igreja.
“Nas imediações da minha casa de São Roque onde estive durante 30 anos havia seis cafés, ou tabernas, como quiser; todos os dias lá ia. Raramente encontrei essas pessoas na Igreja mas quando me apanhavam no café era um tal conversar e desabafar. Este é o papel principal da Igreja: escutar e ser próxima” refere ainda o sacerdote que viveu o Concílio Vaticano II com “muito entusiasmo”, seis pontificados e cinco episcopados.
O sacerdote diz, ainda, que um dos maiores legados do Concílio foi a abertura da Igreja.
“Ainda me lembro de celebrar em latim de costas para o Povo. e enquanto estávamos de costas o povo rezava o terço. Ninguém participava na missa propriamente dita” lamenta.
“Ainda hoje há resistência a isto mas não há outro caminho: a Igreja está onde está a pessoa, o trabalhador, o alcoólico ou o drogado. Antes tínhamos de cumprir a lei, mas eu graça a Deus sempre arranjei maneira de lhe dar uma voltinha”, refere com algum sentido de humor lembrando alguns dissabores do Seminário.
A entrevista do padre Fernando Teixeira pode ser ouvida na íntegra amanhã, domingo dia 8 de dezembro, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, a partir das 12h00.