Docente da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade dos Açores foi a convidada da XVII Conversa na Sacristia, de São José
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O tema da XVII Conversa na Sacristia, promovida pela pastoral da cultura da Igreja de São José, em Ponta Delgada, sobre a “Comunicação, Ciência e Conhecimento: quo vadis” foi o mote para um diálogo sobre a comunicação da Igreja e a sua eficácia, num mundo competitivo , em que o modelo broadcaster, ou seja, um ponto emissor que chega a todos, já não serve.
Segundo a oradora convidada, a professora Teresa Borges Tiago, doutorada em Ciências Económicas e Empresariais, as mudanças tecnológicas que ocorreram e que alteraram a relação entre os media e os utilizadores, e sobretudo a relação entre os media e a sociedade, com a introdução dos media sociais, fazem com que a Igreja deva estar atenta a estes fenómenos e possa adequar a sua comunicação a cada um dos meios, procurando seguir sempre uma lógica de relacionamento e de proximidade. A investigadora lembra mesmo que, para além da instituição, estão as pessoas que a fazem e que são também agentes de comunicação.
“Cabe a todos nós, enquanto comunidade, fazermos este bom `marketing´, e eu diria a boa comunicação da Igreja, da sua mensagem, da sua capacidade de atrair”, afirma.
“Estamos sempre no domínio dos relacionamentos e para os mantermos com sucesso temos de atender à emoção- nós só nos relacionamos com aquilo que nos emociona, com aquilo com o qual temos algum sentimento de proximidade emocional- , à empatia e ao conhecimento”, isto é, “ao conteúdo da mensagem que tem de acrescentar sempre valor”, refere. Mas deve haver um conhecimento de cada um dos meios em que a Igreja se movimenta dado que falar para as diferentes redes sociais “tem exigências diferentes”.
“O conceito da massificação já há muito que deixou de ser a lógica. Estamos nos nichos. E mais do que nos nichos, estamos na personalização. Estamos na capacidade do one-to-one, de olhar, olhos nos olhos” disse a investigadora.
É, neste contexto, prossegue, que entra a ciência, isto é, o conhecimento dos números e das técnicas de forma a podermos adequar a mensagem ao meio e também ao objetivo da comunicação bem como ao seu público alvo, dando como exemplo o Tik Tok, a rede social chinesa que é uma das preferidas dos mais jovens, um público que persistentemente a Igreja tenta cativar.
“Se eu quero chegar aos jovens é aí que tenho de estar” prosseguiu.
“Nós vimos, durante a pandemia, as pessoas habituaram-se rapidamente a ter as celebrações nos canais digitais. A Missa deixou de ser transmitida apenas na televisão. Agora, como é que podemos criar mais? Onde é que podemos ter essas partilhas? É este o grande desafio”.
Mais do que “Rebranding”, técnica de marketing dado às ações estratégicas que buscam reposicionar uma marca no mercado e na percepção do consumidor, a Igreja “deve pensar a forma, os canais e o sítio onde possa transmitir mensagens que têm de passar a ser diferentes e recontadas” de acordo “com os lugares específicos e os públicos específicos” disse ainda a professora universitária.
Teresa Borges Tiago sublinhou o papel do papa Francisco neste refrescamento da forma como a Igreja transmite a sua mensagem que é a mesma mas dita de acordo com os sinais do mundo de hoje.
“Só assim conseguimos o engajamento dos nossos potenciais `clientes´”, disse ainda.
Para isso, defendeu a participação de todos.
“O caminho tem de ser conjunto. Nós todos, enquanto Igreja. Nós, enquanto comunidade ativa”, disse ainda Teresa Borges Tiago sublinhando que a Igreja tem “muita matéria prima” que pode trocar.
“A mensagem tem de ter novos ingredientes e deve acrescentar sempre valor ao que já se conhece” refere alertando para a inevitabilidade de uma comunicação mais segmentada, desde logo, porque os públicos são diferentes”.
“O que nós, acima de tudo temos que começar a perceber, é quais são os canais que estão direcionados para diferentes audiências e como é que podemos fazer chegar essa mensagem a esses canais. A mensagem continua a mesma. A forma como nós a vamos comunicar é que é diferente”, concluiu.
A investigadora abordou o conhecimento da ciência dos dados, o marketing e a sua utilização na comunicação da Igreja e analisando as formas de comunicação da Igreja, segundo a nota, que refere a inspiração do tema na mensagem para o 58ª Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2024, afirmou que “compete ao homem decidir se há-de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria”.
As “Conversas na Sacristia” são um projeto de evangelização e pensamento da fé através da cultura, das artes e da ciência, num processo de escuta, de acolhimento e de diálogo com todos, de uma Igreja de portas abertas para os sentidos, para a espiritualidade contemporânea, para a partilha da palavra, das sensações e das emoções, para “uma cultura inédita” que “palpita e está em elaboração na cidade”.