A igreja deve ser pioneira na afirmação de um “jornalismo construtivo”

Jornalista da RTP Açores e ex diretor do Jornal das Flores sublinham papel da igreja no equilíbrio dos media

A igreja precisa hoje e precisará sempre de órgãos de informação próprios que “tenham uma função construtiva” e “garantam o equilíbrio dos media” na sociedade, disse esta manhã o Jornalista da RTP Açores, Luciano Barcelos, nas Jornadas diocesanas de Comunicação Social que estão a decorrer em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel

“A igreja precisa de órgãos de media, mesmo que tenha de perder algum dinheiro e não acho que seja suficiente negociar o acesso ao serviço publico” disse o chefe da delegação da RTP Açores na ilha Terceira, lembrando que o “ciberjornalismo é um caminho” mas “não chega”.

Luciano Barcelos, jornalista desde 1979, formado no jornal a União, propriedade da igreja católica nos Açores, encerrado há três anos, lembrou o dever da igreja de “intervir e marcar a sociedade, dando voz a quem não a tem” e para isso “precisa de órgãos de informação” que estejam na vanguarda de “um jornalismo construtivo que introduza um equilíbrio nos media” e que faça um contraponto com o estado “ de calamidade em que se encontra o jornalismo atualmente”.

“O jornalismo vive em estado de calamidade e mesmo o pretensamente chamado jornalismo de investigação não é mais do que o resultado de um tráfico de informação entre os diferentes poderes”, disse ainda o jornalista.

Partindo de um exemplo recente de troca de acusações entre a oposição política no arquipélago e o Governo Regional dos Açores, a propósito dos preços pagos pelos açorianos no acesso à saúde, o jornalista lembrou que nos media em geral, e nos regionais em particular, sobrevaloriza-se o fenómeno político em detrimento do social e as “pessoas nuncam falam”.

“A igreja tem tudo a ver com isto, porque é uma instituição de dimensão regional e a única instituição ouvida que pode estar distanciada do poder político, e, por isso possui o poder de reinventar o jornalismo na região”, acrescentou.

Outro dos oradores destas jornadas foi o ex diretor do Jornal das Flores. Renato Moura falou das especificidades da Região e da Igreja revelando muitas dúvidas sobre a viabilidade financeira de um órgão de comunicação social da diocese com carácter diocesano, “não porque não faça falta mas porque dificilmente será viável”.

O atual contexto de crise financeira e económica que afeta o país, e sobretudo as famílias têm concorrido para a fragilização de vários órgãos de comunicação social que vão definhando e os da igreja “não são imunes a isso”.

Apresentando o exemplo regional do encerramento de dois títulos importantes- O Correio da Horta e a União- Renato Moura afirmou que ”pior do que não nascer é morrer” e por isso, mesmo reconhecendo a necessidade de uma órgão de informação diocesano que concorra para a promoção dos valores cristãos, não só os da igreja mas todos os que contribuem para a promoção da dignificação humana, “seria difícil senão impossível”.

“Só com um estudo de mercado profundo seria exequível este projeto, através de uma avaliação correta da sua sustentabilidade” precisou lembrando que os jornais “fizeram-se para se vender”.

No entanto, não deixou de elencar alguns requisitos que poderiam, de certa forma, viabilizar um projeto desta natureza.

“Não ser um boletim paroquial açoriano, ter uma linguagem apelativa e competente, uma imagem gráfica atrativa, com uma vertente editorial vincada e presente, conteúdos informativos mas também formativos com uma opinião que privilegie os conteúdos religiosos mas seja igualmente abrangente para os assuntos que interessam ao homem na sua globalidade”, disse Renato Moura lembrando que a Igreja, pela sua dimensão e abrangência, seria a única entidade com recursos para o fazer mas “para isso teria de dispor de muitos recursos financeiros”.

Por isso, e perante o contexto atual “melhor seria evangelizarmos os jornalistas e cronistas, estimulando o empenho de participação em todos os cristãos, formando-os e criando-lhes condições de acesso aos media generalistas”, concluiu Renato Moura, lembrando que será sempre um dilema para a igreja a opção entre ter os meios ou ter os conteúdos.

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