O Papa vai lançar esta Quinta-feira Santa o livro ‘Contra a guerra. A coragem de construir a paz’, que apresenta o diálogo como “arte política” e apela ao desarmamento como “escolha estratégica”, informou o Vaticano.
“Diante das imagens angustiantes que vemos todos os dias, diante do choro de crianças e mulheres, só podemos gritar: “Parem!”. A guerra não é a solução, a guerra é uma loucura, a guerra é um monstro, a guerra é um cancro que se autoalimenta, engolindo tudo! Além disso, a guerra é um sacrilégio, que destrói o que há de mais precioso na nossa terra, a vida humana, a inocência dos pequenos, a beleza da criação”, sustenta Francisco.
A obra, que chega às livrarias da Itália e também como suplemento da próxima edição do jornal ‘Corriere della Sera’, começa por evocar a viagem papal ao “martirizado Iraque”, em março de 2021.
“Pude tocar com as minhas mãos o desastre causado pela guerra, pela violência fratricida e o terrorismo. Nunca teria imaginado ver, um ano depois, rebentar um conflito na Europa”, escreve.
O Papa recorda que, desde o início do pontificado, tem falado numa “Terceira Guerra Mundial”, aos bocados.
“Tantas guerras estão a acontecer no mundo, agora, causando imensa dor, vítimas inocentes, especialmente crianças. Guerras que provocam a fuga de milhões de pessoas, obrigadas a deixar as suas terras, as suas casas, as suas cidades destruídas para salvar as suas vidas. São tantas as muitas guerras esquecidas, que, de vez em quando, reaparecem diante dos nossos olhos desatentos”, pode ler-se.
A Ucrânia foi agredida e invadida. E no conflito, infelizmente, são afetados muitos civis inocentes, muitas mulheres, muitas crianças, muitos idosos, obrigados a viver em abrigos cavados no ventre da terra para escapar das bombas, com famílias que se dividem porque maridos, pais, avôs ficam para lutar”.
Francisco fala na “enésima barbárie” provocada pela guerra, lamentando a “memória curta” da humanidade perante as consequências da violência e do tráfico de armas, que ascenderia a quase 2 mil milhões de dólares por ano.
O Papa considera “dramático” o aumento do investimento em armamento no segundo ano da pandemia, “quando todos os esforços deveriam estar concentrados na saúde global e em salvar vidas humanas”.
A reflexão defende “um novo sistema de convivência”, na comunidade internacional, que abandone “o poder das armas”, rejeitando o recurso a bombas nucleares e considerando “imoral” a posse destes armamentos.
“Passo a passo, aproximamo-nos da catástrofe. Bocado a bocado, o mundo corre o risco de tornar-se o teatro de uma única Terceira Guerra Mundial”, adverte, criticando quem considera a guerra “inevitável”.
Diante das imagens de morte que nos chegam da Ucrânia, é difícil ter esperança. No entanto, há sinais de esperança. Há milhões de pessoas que não aspiram à guerra, que não justificam a guerra, mas pedem a paz”.
Francisco retoma a sua proposta de criar um fundo mundial com o dinheiro que se gasta em armas e outras despesas militares, para “eliminar definitivamente a fome e promover o desenvolvimento dos países mais pobres”.
“Renovo esta proposta também hoje, especialmente hoje. Porque a guerra deve ser parada, porque as guerras devem ser paradas e só pararão se deixarmos de as alimentar”, conclui.