Por Renato Moura
A forma como as pessoas se relacionam é decisiva em todas as actividades. Os resultados dos comportamentos pessoais repercutem-se nas famílias, na comunidade, na actividade profissional, nas colectividades, nos partidos políticos, nos órgãos de poder; em tudo quanto intervenha o homem.
A frontalidade é uma virtude que importaria cultivar por todos. Considero que devemos ser directos, sinceros e frontais sempre que nos pedem opinião, mas também temos o dever de tomar a iniciativa perante os familiares, os amigos, os companheiros de trabalho ou de outras actividades. Temos não só direito, como o dever de o ser perante os políticos, também no seio dos partidos. É que se quem nos pediu opinião o fez com sinceridade, deseja ouvir uma resposta frontal e não aquilo que porventura lhe seria agradável. Se somos nós a tomar a iniciativa estamos a cumprir o dever de suprir aquilo que os nossos interlocutores porventura se esqueceram de fazer, ou lhes faltou discernimento para o considerar necessário, ou tendo o dever de fazer se eximiram conscientemente com o intuito de fazer como querem.
Bem sabemos que a frontalidade nem sempre causa boa disposição naqueles que a recebem. E também é verdade que há quem penalize os que foram directos e frontais, pois nenhum ditador gosta de ser contrariado e por vezes nem sequer questionado. Isto leva a que seja mais fácil, talvez imediatamente compensador, optar pela bajulice ao familiar, ao dirigente da colectividade, principalmente ao chefe ou ao dirigente do partido, ao presidente da Câmara ou ao governante. Esta prática está a generalizar-se, ao ponto de alguns chefes e líderes nem se aperceberem que estão a ser bajulados!
Disse a um líder que algum dia ele perceberia que os amigos dele não eram aqueles que estavam sempre de acordo e com tudo. Ele certamente o percebeu demasiado tarde, porventura quando disse que se é para sair, então saio já!
Costuma dizer-se que no meio está a virtude, mas ela seguramente que não está entre a frontalidade e a bajulice. Nem no consenso, que muitos de nós já aprendemos que frequentemente não foi a vitória dos argumentos, mas a ditadura do número! A frontalidade é indispensável à discussão das ideias e estas essenciais para o progresso. Mas a experiência ensina-nos que também o uso da frontalidade deve ser exercido com equilíbrio, pois por vezes a virtude perde-se pela forma como se disse ou fez e não pelo conteúdo ou acto.
Jesus, na sua perfeição, interpelou, foi frontal, mas também recorreu a parábolas.