Por Renato Moura
Nunca foi tão fácil comunicar e nunca tantos tiveram acesso, seja por meios institucionais ou informais, a tudo o que é notícia, boato ou intriga.
Veja-se a velocidade a que percorreu o mundo a notícia e imagem do golo de Cristiano Ronaldo. Os encómios sobre o treino e a capacidade física, sobre a oportunidade e a colocação, sobre a técnica e a eficácia, elevaram a obra de arte aquele golo, aplaudido pelos adversários, que fez subir ainda mais alto a fama do ilhéu. Um reconhecimento que não o orgulha apenas a ele, mas Portugal, um país dignificado na história mundial, também no mundo do futebol a nível de clubes, da selecção campeã europeia, de jogadores e treinadores que foram famosos e outros que ainda brilham nos maiores clubes do mundo.
Percorrem o mundo, à mesma velocidade, em desprestígio de Portugal, os factos, as notícias e os enredos sobre os últimos tempos do futebol em Portugal. Vive-se um clima de insinuações e suspeições, insultos e ataques permanentes, ofensas e ameaças, guerrilha crescente e culto do ódio! Fazem-se julgamentos mediáticos em nome de uma justiça que tarda em ser feita nas instâncias desportivas e nos tribunais, aumentando o lodaçal em que se afundam não só os acusados como os acusadores. O vendaval arrasta para a lama não apenas os eventuais culpados, mas também os honestos, não trucida apenas dirigentes, mas também dilacera instituições prestigiadas. Ainda que venha a justiça, haverá danos irreparáveis.
Olhemos com uma réstia de frieza: a gravidade do que acontece não é pelo interesse do futebol, ou defesa da verdade desportiva; revela ganância pela vitória, com ou sem mérito, ou pela destruição dos adversários, agora inimigos.
Nova lei da violência?! Pois se ela é antes de mais violência verbal e todas as suas outras formas nela se fundam? E se a violência gera violência, os ataques motivam contra-ataques e redundam em poderosas e perigosas formas de destruição incontrolável?
A violência comunicacional propaga-se semanalmente em dezenas de horas de lixo em programas ditos desportivos, onde o que menos se realça é a qualidade do espectáculo e dos seus protagonistas, para dar lugar à busca persistente dos casos, à promoção das especulações, à divulgação e credibilização dos boatos, tudo frequentemente servido num ambiente de gritaria e falta de respeito entre comentadores, eles próprios se agredindo verbalmente de forma soez.
Não se destrói só futebol. Esquecida a mensagem divina, arruína-se a relação humana, o respeito pelos outros, a presunção de inocência.