A fé do povo vilafranquense “está presente do mar à serra” afirma Santos Narciso

Jornalista foi o orador da sessão de abertura da Festa do Senhor Bom Jesus da Pedra, que no formato atual se cumpre anualmente há 205 anos

A reflexão sobre “A Vila e a sua fé”, feita pelo jornalista Santos Narciso, ao final da tarde desta quarta-feira na Igreja da Misericórdia, em Vila Franca do Campo, marcou o arranque da Festas do Senhor Bom Jesus da Pedra.

“Desde o início que o povo de Vila Franca sentiu a fé como apoio nos momentos difíceis e que, ao longo dos tempos, se foi manifestando em gestos de ação de graças” começou por dizer o orador lembrando que a “Vila”, como é designada localmente a primeira capital da ilha de São Miguel, reúne uma devoção completa à `corte celeste´ dado que as suas cinco paróquias têm como oragos principais Jesus, Maria, um Santo, uma parábola evangélica e um anjo.

“Desde sempre os nossos antepassados souberam expressar a sua fé” disse o jornalista que, numa reflexão mais intimista com recurso a citações bíblicas e literárias, procurou justificar a relação estreita entre este povo e a fé, que tem como expoente máximo o culto ao Senhor Bom Jesus da Pedra, uma imagem do Ecce Homo, sentado numa pedra.

“Diante do Bom Jesus da Pedra este lugar torna-se um novo Tabor. Que a pedra onde o Senhor se senta seja pedra de misericórdia para todos, todos, todos”, disse o jornalista, depois de percorrer o legado de tantos homens de fé, que ao longo da sua vida contribuíram para a afirmação da fé micaelense e, através da sua ação, para o reforço e continuidade de tantas manifestações religiosas.

“A fé deste povo está presente do mar à serra e mostra a sede de infinito dentro de nós, mas o mais importante é que esta fé se traduza na melhoria das relações, no centro da festa e no abraço a quem nos visita”, disse ainda o orador.

“Os séculos e a vida, as suplicas e os gestos de acção de graças foram sempre o resultado de infinitas parcelas de doação, sacrifício e atos de fé”, concluiu o jornalista que sublinhou a profunda fé do povo de Vila Franca do Campo.

O jornalista aproveitou ainda a oportunidade para se referir à recente orientação saída do Conselho Presbiteral no passado mês de abril, no sentido da Ermida de Nossa Senhora da  Paz poder ser elevada a Santuário Diocesano: “que haja um futuro de consensos para bem da Igreja e do concelho”.

A festa do Senhor Bom Jesus da Pedra decorre anualmente no último domingo do mês de agosto e congrega milhares de pessoas para Vila Franca do Campo.

A organização está a cargo da Santa Casa da Misericórdia, uma das mais antigas dos Açores.

A provedora da Mesa da Santa Casa, Eugénia Leal, lembrou a responsabilidade da organização deste evento, que “marca o calendário religioso e sócio-cultural do concelho, mas também da ilha”.

Numa intervenção sobre a esperança, a partir de pronunciamentos do Papa Francisco, Eugénia Leal lembrou que esta tem sido a virtude teologal mais concretizada pela ação da Santa Casa que “tem procurado resolver os problemas da Vila” desde a infância à Terceira Idade, procurando soluções, mesmo no “ meios das frustrações”.

“A esperança realiza-se na confiança e na acção construída todos os dias” mesmo diante “das imagens de guerra, na fome e sede de tantas crianças, na miséria humana das dependências do álcool, das drogas, do uso abusivo das redes sociais”.

“São as dificuldades que alimentam a esperança procurando estratégias para as ultrapassar ou dando-nos força para reivindicarmos junto de quem pode resolver essas situações”, referiu Eugénia Leal.

O Capelão da Santa Casa e ouvidor de Vila Franca, padre José Borges, deixou igualmente umas palavras iniciais sobre a fé, tema da conferência.

“Uma fé alimentada pela Palavra de Deus não divide, une e faz acreditar”, afirmou o sacerdote lembrando que sem fé “é muito difícil viver”. Aliás, “é a fé que capacita a razão”, disse ainda.

A festa deste ano é presidida pelo bispo emérito de São Tomé e Príncipe, D. Manuel Mendes dos Santos, que presidirá à celebração da Palavra no sábado à noite, na Mudança da Imagem da Igreja da Misericórdia para a Matriz de São Miguel Arcanjo; à Missa da festa no domingo, pelas 9h30, com transmissão em direto para o canal 1 da RTP e à Procissão Solene.

O tríduo, que começou esta quarta-feira, será orientado pelo Padre Dinis Silveira. O sacerdote, que participou uma única vez nesta festa há 17 anos, fez uma homilia centrada na importância da oração- “um diálogo com quem nos ama”- que mais do que um dever é um ato de amor.

“Deus ouve e Deus fala. Deus ouve a oração, deseja-a ardentemente” disse o sacerdote, que é ouvidor de São Jorge e pároco do Topo,  desafiando os peregrinos do Senhor Bom Jesus da Pedra a ultrapassar uma relação de conveniência com Deus e a aproveitar a oração para reforçar a intimidade com Ele.

“Não podemos ter uma relação de supermercado com Deus. Não podemos falar com ele só quando estamos necessitados” disse o padre Dinis Silveira.

“Aproveitemos este tríduo não para enfeitar a nossa Igreja e a nossa casa mas para enfeitar o nosso coração, tornando-o puro e livre para o Senhor”, disse ainda o sacerdote.

“Os nossos pais legaram-nos esta fé. Não há nada mais  belo do que ter fé nesta rocha firme que é o Senhor Jesus. Não vos envergonheis nunca de ser de Cristo”, terminou o padre Dinis Silveira.

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