O cónego Hélder Fonseca Mendes presidiu à Missa que encerrou na diocese o Ano da Família Amoris Laetitia e desafiou as famílias açorianas a combater a autorreferencialidade e a adoptar um caminho de saída para o mundo
A família é um recurso para a comunidade eclesial e deve estar disponível para sair em missão e ajudar na construção de uma nova fraternidade que combata o egoísmo afirmou esta manhã o Administrador Diocesano de Angra, na homilia da Missa a que presidiu, na Igreja Matriz de Ponta Delgada, por ocasião do encerramento do X Encontro Mundial de Famílias em Roma.
“Não guardemos escondido o tesouro do nosso amor! Partilhemo-lo com os que vivem ao nosso redor e que precisam tanto! Que cada família cristã busque – entre os vizinhos de casa, no seu bairro, entre os colegas da escola dos filhos,– uma família em dificuldade, um idoso sozinho, uma criança que precisa de ajuda” afirmou o cónego Hélder Fonseca Mendes.
“Cuidemos deles de maneira materna e paterna, carinhosa e concretamente: façamos deles parte da nossa família. Assim, alargaremos as portas do nosso coração e deixaremos que o amor que recebemos permeie o mundo ao nosso redor”, afirmou ainda lembrando as notícias da morte de uma criança em Setúbal, que “infelizmente não deveriam acontecer”.
“O mundo precisa encontrar uma fraternidade nova, e a família é o ginásio onde todos podem aprender a viver esse sentimento” disse o sacerdote estabelecendo um paralelo entre os valores que a humanidade precisa, e que a família deve conter, e os valores do desporto, onde “aprendemos grandes lições” como “a criatividade, a liberdade, o esforço pessoal, o esforço da equipa e a solidariedade”.
O sacerdote destacou que este caminho não sendo isento de sofrimento e de reveses, exige disponibilidade para renovar “os motivos, a causa, a razão da escolha, à medida que se cresce e evolui, sempre com o esforço de discernir, refletir e arriscar”.
“Assim é uma família cristã marcada pelo evangelho e pela graça de Deus” referiu, destacando um itinerário de superação desde logo aos “desejos desmesurados promovidos pela sociedade de consumo”, no respeito pela “ criação e a casa comum”, sem se fechar “no interior exclusivo dos seus membros e supera as relações de domínio, agressividade, abusos ou violência” e que aprende a desenvolver “a capacidade de resistência, de perdoar, de ser compassivo, da aceitação do sofrimento e da morte; reconhece a paciência como uma propriedade do amor, exercita a convivência a partir do diálogo e da comunicação” respeitando “as diferenças uns dos outros”.
“Sentimos forte a necessidade de paternidade e maternidade, ou seja, a necessidade que os cristãos assumam, assim como fazem os pais com os filhos, a responsabilidade face a sociedades que parecem estar a desmoronar cada vez mais e onde há pessoas desorientadas, alienadas e destruídas à busca de um sentido para a vida” afirmou ainda, desafiando as famílias a rejeitar “viver numa autorreferencialidade, mas a adotar um caminho de saída”.
O sacerdote, que hoje assinala também o dia da sua ordenação sacerdotal, ocorrida no dia 26 de junho de 1988, deixou ainda uma palavra para os jovens açorianos que hoje vivem uma festa grande em Ponta Delgada, com a celebração campal de despedida dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude- o ícone de Maria e a cruz oferecida pelo Papa São João Paulo II- no adro da Igreja do Convento da Esperança.
“Gostava de testemunhar a experiência alargada, alegre e feliz que um grande número de jovens açorianos experimentou nas nove ilhas, durante o último mês, a pretexto da presença em todas as ouvidorias dos símbolos mundiais da juventude, isto é, da cruz do Salvador e do ícone da Virgem Maria que João Paulo II entregou aos jovens, sendo hoje a celebração de despedida no Campo de São Francisco, junto ao Senhor Santo Cristo” afirmou.
“Na verdade, não há família sem jovens, nem jovens sem família”, sublinhou ainda.
A celebração desta manhã contou com a participação da equipa de sacerdotes da matriz, o assistente da pastoral familiar e ainda da equipa da pastoral da família e laicado da diocese.
“Em comunhão com o Papa Francisco, que nos tem chamado a atenção para o anúncio do Evangelho e para a ternura das famílias, como pilares da pastoral familiar somos desafiados a sair em missão e a desempenhar este papel” disse Anita Dias, do casal responsável pela secretariado diocesano da pastoral familiar.
No final, o assistente da Família, monsenhor José Constância, pediu criatividade aos casais e sublinhou que a pastoral diocesana no futuro será o que as “famílias quiserem”.
“A pastoral familiar está nas mãos dos casais e das famílias; ela será o que os casais quiserem, sempre numa lógica intergeracional, jovens e idosos”.
“Neste dia em que a nossa diocese abraça a Igreja em Roma continuemos a trabalhar já esta tarde e vamos todos estar presentes no Santuário do Senhor Santo Cristo, juntos jovens, partilhando a alegria deles”, referiu.
A celebração contou com dois momentos simbólicos: o primeiro na Oração dos Fieis, pediu-se pelas famílias diocesanas e por todas as famílias do mundo e no ofertório lembraram-se alguns elementos fundamentais para a vida em família: o sonho de uma casa que ainda está por cumprir por inúmeras famílias; um coração feito à imagem e semelhança do coração de Deus, sempre disponível para acolher com misericórdia; um terço para mostrar a importância da oração em família e uma luz, que é Deus, na vida de todas as famílias.
Esta manhã em Roma, o Papa Francisco presidiu à Missa na Praça de São Pedro, que encerrou o X Encontro Mundial das Famílias e termina o ano da Família Amoris Laetitia.
Esta tarde ainda haverá um converto a partir da Capela Sistina, no Vaticano, com o coro Ortodoxo do Patriarcado Georgiano, num esforço particular do Núncio da santa Sé na Geórgia, o arcebispo açoriano D. José Avelino Bettencourt, que pode ser seguido em direto no Youtube em https://youtu.be/0qGm_F7wqwc