Pedro Lima vai ser ordenado presbítero no dia 3 de setembro na igreja Matriz da Horta
É o único finalista do Seminário Episcopal de Angra neste ano letivo. A caminho dos 24 anos, que completará em setembro, Pedro Lima, natural do Faial, será ordenado presbítero no dia 3 de setembro, no Faial, sua ilha natal. Entrou no diaconado em janeiro, “uma etapa exigente” porque fazer “encarnar” a mensagem do Evangelho no mundo atual “não é fácil” e exige “um trabalho pessoal de conhecimento muito grande”. Numa entrevista ao Sítio Igreja Açores, em janeiro deste ano, o jovem diácono, futuro sacerdote diocesano, não poderia ser mais honesto: “O que me tira o sono é confrontar-me com a exigência do Evangelho e saber se estou capacitado para encarná-lo no meio onde me vou encontrar, com toda a liberdade e responsabilidade”.
Quem o conhece e com ele privou sabe que a humildade aqui é mesmo uma característica identitária. A sua vocação germinou nas Angústias, no Faial, ao lado do Pe Júlio da Rosa e foi discernida no Seminário. Lembra “todos os que o ajudaram a crescer”, na fé e na missão e sublinha que a “vocação é uma questão de felicidade e decisão”. *
Sítio Igreja Açores- Entra numa fase crucial da sua caminhada, com a ordenação diaconal. O que é que esta etapa significa para si?
Pedro Lima- Esta etapa é um momento alto e desafiador que vai transformar toda a minha caminhada de vida vocacional. Não é o fim de um processo de formação, mas o ponto de chegada de uma caminhada espiritual e humana realizada desde alguns anos e que vai partir no assumir uma atitude mais comprometida na Igreja.
Sítio Igreja Açores- O Pedro tem cumprido o seu plano de estudos de uma forma mais ou menos solitária na medida em que é o único aluno do seu ano. De alguma tem sido vantajosa esta experiência?
Pedro Lima- Apesar de ter uma personalidade mais reservada, nunca considerei que tivesse sido uma caminhada solitária. Aliás, tive outro colega que me acompanhou metade do curso do seminário. O facto de ter tido nestes 3 últimos anos um plano de estudos como aluno único confesso que pode ter permitido uma maior confiança e proximidade com o professor, mas com uma grande perda de partilha de experiências.
Sítio Igreja Açores- Se hoje pudesse mudar alguma coisa na sua vida, o que é que mudaria?
Pedro Lima– Não mudaria nada em concreto. Todas as experiências, positivas ou negativas, contribuíram para o meu crescimento e amadurecimento.
Sítio Igreja Açores- Foi profundamente marcado na sua adolescência e juventude pelo Monsenhor Júlio da Rosa. No domingo ele não estará na Sé para ver um dos seus “discípulos”. Além desta falta de quem é que vai sentir saudade especificamente neste dia?
Pedro Lima- Vou sentir saudade de todas as pessoas que marcaram a minha caminhada e a minha decisão vocacional na adolescência, nomeadamente da minha comunidade de origem (Angústias) e os meus colegas da escola, cuja ausência será preenchida pela presença da sua oração e pela amizade. Claro que também sentirei a falta de alguns membros da família, pois seria impossível ter todos presentes na celebração.
Sítio Igreja Açores- Que balanço faz desta sua caminhada?
Pedro Lima- Nesta caminhada tenho a consciência de um grande amadurecimento não só espiritual mas humano. A verdade é que os anos foram passando e a forma de pensar e de me relacionar com os outros também foi-se moldando. Chegar a um meio desconhecido e ter que interagir com as pessoas, ouvir os desabafos e problemas de jovens que nem me faziam passar pela cabeça, a conquista de amizades, o carinho e a preocupação das comunidades connosco são tudo oportunidades que o seminário pode dispor para o nosso amadurecimento enquanto pessoas.
Sítio Igreja Açores- Por estes dias e sendo um jovem do seu tempo que preocupações tem?
Pedro Lima- A minha preocupação é encontrar e ajudar todos aqueles que se cruzam comigo na tarefa da busca de um sentido e de uma razão para a vida, no meio de uma sociedade individualista e cómoda, despreocupada com o essencial e com os valores. No meio disto tudo, ser testemunha da presença de Deus em todos os âmbitos da vida.
Sítio Igreja Açores- Noutras palavras, o que é que lhe tira o sono?
Pedro Lima- O que me tira o sono é confrontar-me com a exigência do Evangelho e saber se estou capacitado para encarná-lo no meio onde me vou encontrar, com toda a liberdade e responsabilidade.
Sítio Igreja Açores- Já falámos sobre esta nova etapa, que é muito séria. Assusta-o e condiciona-o as expectativas que as pessoas possam ter sobre si?
Pedro Lima- Sim. Talvez pela surpresa desta nova missão há sempre uma preocupação/ pressão social e externa sobre nós, que até pode ser incentivadora e estimuladora. No entanto, vou dar o melhor de mim e aquilo que sou.
Sítio Igreja Açores- Como é que vê o papel e a missão de um padre?
Pedro Lima- O padre é, por um lado, um pastor e, por outro, um discípulo. É pastor porque está ao cuidado de um povo/comunidade, conhece-o e guia-o pelo melhor caminho ao encontro de Cristo. Como discípulo, está na condição de servidor da comunidade, preocupado com as suas inquietações e problemas, pronto a escutar, a aprender e a caminhar com o seu “rebanho”.
Sítio Igreja Açores- Encaixa nesse perfil?
Pedro Lima- Tenho vindo a formar-me e a crescer nesse sentido. Agora a prática pastoral é que o vai ditar.
Sítio Igreja Açores- A partir de agora vai ser um “ministro” da Palavra. O que é que mais receia?
Pedro Lima- O ministro da Palavra ajuda a comunidade a encarnar a Palavra de Deus na sua vida, como luz e bússola para a jornada. O receio é estar à altura do Evangelho e ser o guia ou mediador desta Palavra para todos aqueles que me forem confiados. Outro receio é estar à altura da comunidade, na medida em que é necessário conhecer os problemas, as inquietações, anseios e a orgânica de vida das pessoas, no dizer do Papa Francisco “cheirar às ovelhas”, para aí tornar significativa a presença do Evangelho. Esta última tarefa é a mais difícil porque exige um grande esforço de disponibilidade e humildade para ir ao encontro da comunidade.
Sítio Igreja Açores- É commumente aceite que um padre, neste caso, um diácono deve andar com a Bíblia numa mão e o jornal na outra, para que a Palavra encarne na realidade e transmita uma mensagem atual. Está preparado, ou melhor, neste tempo de estudos do Seminário preparam-no para isso?
Pedro Lima- O Seminário prepara-me com toda a bagagem teológica para compreender a Palavra de Deus, com todo o seu contexto e interpretação. Porém, o conhecimento da realidade é um pouco de trabalho pessoal, dado que cada seminarista vive neste mundo e deve fazer a ligação daquilo que aprende com a sua resposta na sociedade e na vida de cada pessoa. A grande tarefa do padre é apresentar o Evangelho e a pessoa de Cristo como proposta actual para hoje. É como ouvi uma vez alguém a dizer: “soluções de hoje para problemas de hoje”.
Sítio Igreja Açores- O Seminário é também, em certa medida, uma escola de vida, com uma formação pluridimensional. Volvidos seis anos, que recordações transporta desta casa?
Pedro Lima- Recordo com alegria a amizade dos colegas que foram passando por esta instituição. Uma das riquezas de estudar no Seminário de Angra é sermos de diferentes ilhas, com tradições e culturas diversas, que permite conhecer o arquipélago numa perspetiva diferente. Quando somos mais novos temos sempre algum elemento de referência e por isso recordo como modelo os meus colegas mais velhos. Entre tantas outras que ficam na memória, destaco as várias atividades que realizámos no agrupamento de escuteiros e na conferência vicentina, um teatro que preparámos para os 150 anos do Seminário e o carinho das pessoas nas várias paróquias da Terceira, por onde colaborei.
Sítio Igreja Açores- Se lhe propusesse um exercício de pastoral vocacional em poucas linhas, que mensagem deixava aos jovens, faialenses, da sua terra e aos açorianos em geral, para os cativar para esta missão?
Pedro Lima- Vocação é uma questão de felicidade e decisão. Decidir seguir mais de perto o exemplo de Cristo é uma grande aventura. Implica arriscar, escolher, optar, confiar e, sobretudo, amar. Nunca esquecendo que o sinal mais visível do amor é a Cruz, a entrega o viver para o outro.
*Entrevista publicada no sítio Igreja Açores em janeiro