D. José Avelino Bettencourt proferiu esta noite uma conferência sobre a história e as carcaterísticas da representação diplomática da Santa Sé no mundo
O novo núncio apostólico na Geórgia e na Arménia, D. José Avelino Bettencourt, proferiu esta noite uma conferência sobre a diplomacia da Santa Sé, numa sessão que decorreu na biblioteca da Escola Antero de Quental em Ponta Delgada, promovida pela Associação de Antigos Alunos.
O novo representante diplomático da Santa Sé, o primeiro de origem açoriana e o segundo português na história da igreja, é natural da ilha de São Jorge, Açores, e está de passagem pelo arquipélago, onde visitará três ilhas: São Miguel, Terceira e São Jorge, onde habitualmente passa férias e onde se encontram as suas raízes familiares mais diretas.
O sacerdote que foi ordenado bispo no passado dia 19 de março, na Basílica de São Pedro pelo Papa Francisco, proferiu uma conferência sobre a história da diplomacia da Santa Sé ao longo dos tempos, começando por recordar que desde o século IV que há legados pontifícios e que esta representação diplomática tem sempre como matriz a defesa da dignidade humana.
“A diplomacia da Santa Sé é a busca sincera de pontes e de diálogo e sendo uma diplomacia ao serviço da humanidade e do homem esforça-se por escutar e disponibiliza-se para ajudar” disse D. José Bettencourt.
“Contribuímos de modo religioso; também podemos dar conselhos políticos mas falamos com o coração procurando imitar Deus na sua paciência, com coragem a magnanimidade, cientes de que poderemos seguir em frente” porque a “paciência constrói o bem”, acrescentou.
E, embora a diplomacia da santa Sé não disponha de recursos militares e políticos, “é muito proeminente” destacou o diplomata sublinhando que o Papa, devido ao peso moral da igreja Católica no mundo “é sempre muito bem informado”.
“É conhecida a influência da Santa Sé” disse recordando que o núncio apostólico é sempre o decano do corpo diplomático e apresentou mesmo vários exemplos onde os diplomatas do vaticano são sempre decisivos, sobretudo em zona de conflitos.
“O diplomata da Santa Sé não defende um território, nem interesses militares e estratégicos mas tem a missão de salvaguardar e defender os direitos humanos e a dignidade humana, desde logo a liberdade religiosa que está na base de uma colaboração entre todas as pessoas, com base em princípios éticos” frisou destacando que a Santa Sé nunca retira um diplomata de um cenário de guerra.
“Mesmo debaixo de fogo a Santa Sé mantém sempre o seu corpo diplomático. A diplomacia do Vaticano é a diplomacia da paciência do bem”, concluiu.
O novo núncio apostólico na Geórgia e na Arménia, países a onde chegará no final de maio, percorreu a história das relações diplomáticas da Santa Sé e refletiu sobre a evolução do papel destes representantes do Papa, que começaram por ser legados pontifícios e hoje estão distribuídos, com estruturas fixas, por 185 estados de um total de 193 nações acreditadas junto da ONU.
D.José Bettencourt deteve-se, de resto, na progressiva alteração de paradigma da natureza destas representações diplomáticas, a partir de 1500 e, sobretudo, depois do Concilio Vaticano II, pela mão do Papa Paulo VI, que através dos vários documentos do magistério, atribuiu um carácter de interclesial à função do núncio.
“O representante pontifício é diplomata junto de quem? Junto da igreja local e se possível junto das autoridades governamentais” disse o arcebispo recordando que uma das principais funções do núncio é estabelecer pontes entre o Vaticano e a igreja local, informando o Papa, com rigor e clareza.
Atualmente existem 106 núncios; muitos deles exercem a função em mais do que um país. D. José Bettencourt será um deles.
No final da conferência D. José Bettencourt ofereceu à Escola Antero de Quental um fax simile da sua nomeação que refere os Açores e, em troca, recebeu da Associação dos Antigos Alunos o selo comemorativo dos 175 anos do nascimento de Antero de Quental, e um livro sobre a Pintura de Domingos Rebelo.
D. José Bettencourt segue agora para a ilha terceira onde irá proferir uma segunda conferência a convite do Instituto Histórico da ilha Terceira.
D. José Avelino Bettencourt, diplomata de carreira da Santa Sé, é natural dos Açores, tendo acompanhado a sua família que emigrou para o Canadá, onde foi ordenado padre em 1993, fazendo parte do presbitério de Otava.
O sacerdote frequentou a Academia Eclesiástica em Roma, tendo-se formado em Direito Canónico, e entrou no serviço diplomático da Santa Sé em 1999.
Depois de ter trabalhado na representação diplomática da Santa Sé na República Democrática do Congo, D. José Bettencourt passou à secção para as relações com os Estados, do Vaticano.
Em 2013, D. José Bettencourt foi condecorado pelo presidente Aníbal Cavaco Silva com a Comenda da Ordem Militar de Cristo; é cónego honorário da Sé de Angra (Açores) desde março de 2015.