Por Renato Moura
O mundo teve boas razões para ficar revoltado com imagens de crianças mantidas, nos Estados Unidos da América, dentro de gradeamentos que pareciam gaiolas. Tratar-se-á sobretudo de crianças descendentes de imigrantes ilegais, apanhados nas malhas da que é conhecida como “tolerância zero” aplicada pela administração Trump. A situação é tão desumana que gerou indignação e críticas também dentro do Partido Republicano.
Os imigrantes irregulares são considerados como delinquentes e sujeitos a processos criminais, mas como as crianças não podem ser acusadas em conjunto com os pais, são retiradas das famílias, situação de que, em poucos meses, já terão sido vítimas uns dois milhares.
Atitudes incompreensíveis e injustificáveis, por parte de Donald Trump, já não surpreendem. O que neste caso é aberrante é o facto de esta violência ser praticada também sobre crianças, arrancando-os dos pais, que é aquilo que elas consideram de mais precioso na situação instável e angustiante em que se encontram, sem saberem sequer se um dia os recuperarão, ou se terão de se confrontar com a sua perda para sempre, por deportação.
O Comité de Direitos Humanos da ONU já classificou esta actuação política como “grave violação dos direitos das crianças”. O ex-Presidente Barack Obama comentou, com acerto e oportunidade a desumanidade, nos seguintes termos: “Ver em directo estas famílias a serem separadas levanta uma pergunta simples: somos um país que aceita a crueldade de se arrancarem crianças dos braços dos pais, ou seremos um país que valoriza a família e que trabalha para a manter junta? Olhamos para o lado ou vemos naquelas pessoas um pouco de nós e dos nossos filhos?”.
Sendo os EUA um país feito pela imigração e o mais rico do mundo, é inevitável considerar como absolutamente cruel, sem precedentes nesta escala, o tratamento a imigrantes que buscam desesperadamente condições mínimas de vivência humana. Trump fica furioso por ter sido apanhado na trama tecida pelas promessas irresponsáveis que fez. Prosseguindo a incongruência do seu mandato, tenta passar a imagem de que odeia a separação das crianças… mas continuará a política contra a imigração!
Infelizmente, também neste continente europeu, vimos longos impasses no desembarque de migrantes, evidenciando que nem o risco de naufrágio, nem a fome, nem a tentação irresistível de seres humanos fugirem à guerra e às perseguições, são já suficientes para despoletar uma solidariedade imediata!
Que mundo! Os governos, pelos votos e pela economia, matam a solidariedade.