Por Renato Moura
Há mais de um ano, numa viagem para o aeroporto de Lisboa, dizia o taxista: “Quando eu era rapaz e comecei a minha vida, os colegas de idade acreditavam que nós teríamos a sorte de trabalhar junto de um aeroporto novo, bem projectado, capaz de servir os passageiros e facilitar a vida dos taxistas”; e acrescentava: “estou à beira da reforma e nunca chegou o novo aeroporto!”.
Nestes dias, que terá pensado o taxista reformado?! E os portugueses em geral?!
Um governo experiente, retocado como quis o 1.º Ministro, passados poucos meses, já evidenciou não ter mobilização nem capacidade para enfrentar os problemas, que se acumulam. Agrava-se a crise no SNS, a inflacção atinge níveis aterradores só vistos há dezenas de anos, o aeroporto bloqueia com o impasse criado ao SEF! Com todos os meios para governar não se veem projectos credíveis, não há ímpeto reformista, não há capacidade de execução, impera o imobilismo!
A cena, destes dias, sobre a localização do novo (ou novos!) aeroportos de Lisboa, é apenas mais uma evidência da crise governativa. Não se trata dum jardim; mas de uma controvérsia com 50 anos. Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas, anuncia, 1.º Ministro manda revogar; todos os analistas sabem que o Ministro tem de se demitir ou ser demitido; Ministro ajoelha-se em pedido de perdão; 1.º Ministro concede nova absolvição. O Chefe de Estado, desta vez é só Presidente, pois o 1.º Ministro é quem escolhe!
Tudo isto é ridículo. O 1.º Ministro viaja muito. E a coordenação? Ministro habitualmente travesso, aparecendo sem estar na fotografia, mas reconfirmado! Manter candidatos à sucessão da liderança PS dentro do Governo, só para amarrar; num governo à PS, que supostamente seria de Portugal.
Desorientação e trapalhadas. Degradação governativa. Instabilidade maior que a havida sem maioria. Crise política inédita. Desgoverno. Imagem, coesão e credibilidade perdidas. Autoridade política e institucional comprometidas. É um caos político num governo de maioria absoluta. E a responsabilidade maior é sempre do 1.º Ministro; mas nunca demite quantos o reverenciam (se necessário com “a corda ao pescoço”)!
Creio que a maioria dos portugueses deu ao PS a maioria para governar, não tanto pelo mérito, mas pelo desejo de coesão e estabilidade; para libertar o governo de negociatas políticas de sustentação no poder.
Não foi honesto convencer os pobres portugueses das virtudes duma maioria absoluta, para de imediato resultar inacção e corrosão política.
Assim entramos em desgraça absoluta!