Cónego Hélder Fonseca Mendes preside à eucaristia de reabertura da Igreja do Colégio e a partir da ideia de paciência e misericórdia lembra que a recuperação das igrejas é vital para a conversão da vida comunitária
O Administrador Diocesano de Angra, cónego Hélder Fonseca Mendes, presidiu esta manhã à eucaristia, e na sua homilia, que marcou a reabertura da Igreja do Colégio dos Jesuítas em Angra, depois de quase seis anos encerrada ao culto para obras de conservação e restauro, desde a cobertura ao interior.
“Este domingo evoca o dia 17 de Julho de 1651 quando os jesuítas transladaram o Santíssimo Sacramento da pequena capela que usavam no colégio propriamente dito para esta igreja quando era dada por concluída a sua edificação. Curiosamente, a diocese de Angra estava em sede vacante, ainda no rescaldo da Restauração”, lembrou o sacerdote que a partir da liturgia, e do apelo à conversão a que este tempo quaresmal convida, classificou este desafio como “um combate” permanente, que deve ser feito a partir de cada um mas que não dispensa a vida comunitária.
“Esta obra não se pode realizar sozinho. Começa por dentro, mas também precisa dos outros, de uma família, de uma comunidade e sobretudo de Deus” realçou o sacerdote sublinhando que “o lugar ou espaço onde tudo isto acontece é na Igreja enquanto corpo místico de Cristo, mas também enquanto lugar de relações e de comunhão, a chamamos de igrejas”.
A Igreja do Colégio esteve encerrada ao culto quase seis anos, depois de várias obras mas também de muitas hesitações e constrangimentos. Um tempo, que o Administrador Diocesano aproveitou para comparar à paciência de Deus que nunca se cansa de nós apesar da “fragilidade humana” e dos sucessivos adiamentos que a humanidade faz em relação a este caminho.
A propósito da liturgia deste domingo, que através do episódio da vinha destaca duas qualidades a que Deus nos convida- paciência e misericórdia-, o Administrador Diocesano estabeleceu uma comparação: “Podemos identificar o dono como Deus Pai, o vinhateiro como imagem de Jesus e a figueira com cada um de nós, como símbolo de uma existência estéril, incapaz de doar e de praticar o bem. A figueira estéril é símbolo de quem vive para si mesmo, incapaz de dirigir o coração e o olhar a quem vive em condições de sofrimento, pobreza e dificuldade ao seu lado” afirmou.
“Os três anos parecem uma alusão ao tempo da vida pública e da missão de Jesus. Aliás, é o vinhateiro que pede ao senhorio mais um ano de paciência e de trabalho para a reconversão daquela figueira. Por contraste, podemo-nos rever naquela árvore, e na prorrogação do prazo, a misericórdia e a paciência de Deus” prosseguiu.
“Temos um vinhateiro que é imagem da misericórdia de Deus que nos concede um tempo, mais um ano, mais uma quaresma para a nossa conversão. Tanta cultura que é necessária reconverter nas nossas ilhas e achamos isso não só razoável como necessário para a produtividade privada e para bem comum. À necessidade que temos de nos converter, à liberdade e ao esforço pessoal que pomos em tal obra, acompanha-nos a paciência, a misericórdia e a graça de Deus”, concluiu salientando que apesar da misericórdia e da paciência a “possibilidade da conversão é urgente, não é ilimitada, tem prazos, tem um tempo “ pois “a colheita de cada ano não passa para o ano seguinte”.
“Devemos perguntar em primeira pessoa o que é que eu preciso cortar, podar, limpar, queimar este ano para que na Páscoa, na primavera e no verão dê fruto” disse.
“O evangelho ensina-nos assim que devemos confiar na misericórdia de Deus, sem abusar dela, pois sabemos que estamos a passar por esta quaresma, mas não sabermos se ela volta a passar por nós. Há oportunidades que não podemos perder. Caso contrário, justificamos a preguiça e a esterilidade espiritual em vez de aumentar o nosso esforço para corresponder prontamente à misericórdia de Deus com sinceridade do coração” concluiu.
Recordando a história e a importância das igrejas para a Companhia de Jesus, nomeadamente para o exercício da pregação, da catequese e do ensino, o cónego Hélder Fonseca lembrou como a arte andava de mãos dadas com a missão da Igreja e a cultura em diálogo com a evangelização.
“Na comunhão dos santos que nos rodeiam, aqui e além, como poderemos esquecer S. Francisco Xavier, Santa Teresa de Ávila, São Domingos de Gusmão e o Beato João Baptista Machado, padroeiro da Diocese de Angra, que nesta igreja, encontrou o início do culto público em 1876, nove anos depois da sua beatificação?”, interpelou.
“As esculturas e pinturas têm a função de auxiliar a fé, a catequese e a piedade para além de glorificar Cristo, a Virgem Maria e os santos, e por isso mesmo devem ser apreciadas na sua função primeira, e depois no seu valor e qualidade artístico, patrimonial e histórico”, afirmou.
Em 1804, a Ordem Terceira de Nª. Sª. do Carmo mudou-se da igreja da Misericórdia para este lugar, que acolheu a belíssima escultura de Nossa Senhora do Carmo e em 1830, a Irmandade de Santa Cruz e Passos, devido à extinção do Convento da Graça fez o mesmo permitindo que a Imagem do Senhor dos Passos aqui ficasse.
“A pergunta que se levanta agora, não é tanto de quem é esta igreja, mas para quem é hoje esta igreja? As imagens por si só não chegam para lhe dar vida, mas sim Aquele que a habita, Cristo ressuscitado e os baptizados que a incorporam, seja numa Ordem Secular, Irmandade, Associação de Fiéis, Comunidade de Vida Consagrada ou outra. Tal como desde o princípio, esta igreja foi construída para a Companhia de Jesus, seja também hoje Jesus a nossa companhia, e nela façamos comunidade uns com outros e para os outros, no serviço da palavra, da oração, da santificação e da caridade, na fidelidade aos seus fundadores e na alegria aos nossos concidadãos” concluiu.
A partir deste domingo, semanalmente, neste dia ao meio-dia será sempre celebrada a eucaristia, como acontecia antes das obras.
Com o nome inicial de Igreja de Santo Inácio de Loyola, esta igreja é conhecida por Igreja do Colégio, pois pertenceu ao Colégio da Companhia de Jesus. De meados do século XVII, é considerada um bom exemplo do impulso evangelizador dos Padres da Companhia. A austeridade exterior, típica do estilo chão, contrasta com o interior, com exemplos de talha portuguesa maneirista e barroca, pintura de mestres portugueses, azulejaria portuguesa e holandesa, rica imaginária e uma belíssima barca-andor de Nossa Senhora da Assunção. É pertença da Ordem Terceira do Carmo.