Por António Pedro Costa
Li, há dias, a seguinte frase lapidar: “enquanto os confessionários das igrejas se esvaziam, os consultórios dos psicólogos se enchem”. Se aprofundarmos bem a questão, somos confrontados com esta realidade dos nossos dias, pois o crescendo desta prática clínica é uma forma das pessoas procurarem ir ao encontro de algo de novo, de diferente, onde se oferece um espaço de escuta a alguém que apresenta uma necessidade psíquica, um sofrimento interior.
Tal como acontece na confissão sacramental, a ida ao psicólogo oferece um momento no qual, quem sofre sente-se verdadeiramente ouvido na sua dor e bem aconselhado, sentindo-se aliviado e orientado.
De acordo com um trabalho realizado pelo Professor da Universidade Católica, o Pe. João de Deus Costa Jorge, a confissão ou sacramento da penitência tem efeitos terapêuticos e possibilita a recuperação da harmonia, numa tese que apresentou, defendendo que a sua prática tem diminuído devido à perda de consciência e de sentido do pecado, além da resistência do ser humano para reconhecer as suas fraquezas.
Por outro lado, aquele insigne sacerdote denunciou a falta de disponibilidade dos padres para o sacramento, bem como as apressadas confissões em massa realizadas durante a Quaresma e o Advento, para cumprimento do preceito de se confessar pelo menos uma vez no ano.
O Professor João Jorge classificou o perdão como uma experiência sublime da pessoa e sublinhou que a fase final do processo de reconciliação, que consiste na transformação do mal em ocasião de bem, ultrapassa as teorias e práticas psicológicas, hoje em dia muito recorrentes, pois assiste-se a uma procura dos consultórios de psicólogos, numa demonstração da necessidade do ser humano de ser ouvido e desabafar.
É certo que a prática da clínica da psicoterapia sustenta-se em pressupostos de verdade, interioridade, intervenção, cura e procura da gestão de conflitos e tensões, em que o psicólogo utiliza nem mais, nem menos um legado deixado pela confissão do cristianismo.
De facto, nos últimos anos, observamos uma mudança significativa nos padrões de busca por ajuda e orientação pessoal. Enquanto os confessionários das igrejas e templos parecem estar a enfrentar um declínio gradual na frequência de fiéis que procuram aconselhamento espiritual e confissão, pelo contrário, os consultórios dos psicólogos a procura aumenta.
Os motivos para essa mudança são diversos. A sociedade contemporânea enfrenta novos desafios que podem não encontrar respostas prontas nos ensinamentos e nas práticas religiosas tradicionais, pois enfrentam muitos problemas, quer sejam stress no trabalho, relacionamentos pessoais complexos, ansiedade e depressão, para citar apenas alguns exemplos das muitas dificuldades que as pessoas enfrentam em seu quotidiano.
Procuram, assim, a ajuda profissional para lidar com problemas emocionais, em detrimento da ancestral confissão sacramental, o que poderá significar como um sinal de fraqueza e falta de coragem para ter uma direção espiritual e religiosa ou mesmo confessar-se, que lhe permitiria encontrar conselhos preciosos para a sua vida e a sua relação com Deus Misericordioso.
É certo que os psicólogos, com a sua formação especializada e abordagem empírica, oferecem um espaço seguro e confidencial para explorar as questões complexas e fornecer técnicas e estratégias eficazes para lidar com desafios emocionais, contudo, a confissão, também conhecida como reconciliação ou penitência é um meio pelo qual os fiéis podem receber o perdão divino de Deus, através do sacerdote.
Durante o sacramento da confissão, os sacerdotes muitas vezes oferecem orientação espiritual e conselhos práticos para ajudar os fiéis a lidar com seus desafios pessoais e a crescer na fé, orientação essa que é muito valiosa para os crentes que procuram uma vida reta e vivências de acordo com os ensinamentos da Igreja.
Todos sabemos que a confissão é protegida pelo sigilo sacramental, o que significa que o sacerdote está obrigado a manter em segredo tudo o que é revelado durante a confissão, o que proporciona aos fiéis um ambiente seguro e confidencial para discutir as suas preocupações mais íntimas, sem medo de julgamento ou repercussões externas.
Estamos a entrar na Quaresma, tempo propício para que os fiéis sejam encorajados a praticar a penitência através do jejum, abstinência, oração e caridade. Essas práticas ajudam os crentes a afastarem-se das distrações do mundo e a se concentrarem na sua relação com Deus e com os outros, contemplando o significado da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Este é um momento para meditar sobre os ensinamentos de Cristo, a sua paixão e sacrifício, e o que isso significa para a vida de cada indivíduo.
Santa Quaresma.