Na Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria, o cónego Hélder Fonseca Mendes assinalou na sua homilia que Maria canta e reacende a esperança, “reativando a utopia da humanidade”
A Igreja da Sé, em Angra, acolheu esta manhã uma celebração ecuménica, reunindo vários devotos de diferentes igrejas cristãs que participam no 36º Festival Internacional de Folclore dos Açores- Folk Zores- que decorre entre 14 e 22 de agosto, na ilha Terceira.
“O festival de folclore que nos reúne nesta assembleia ecuménica e internacional, onde se celebra a Eucaristia para os católicos, referia na sua homilia o Administrador Diocesano, é a prova que no meio de tantas diferenças nos podemos entender. Melhor do que na guerra, pois os países aqui presentes são praticamente os mesmos” afirmou na alocução o Administrador Diocesano, que é o moderador dos sacerdotes da catedral açoriana.
“O que nos move é o prazer da gratuidade, da beleza e da alegria, que é comum a todos os grupos e a cada participante, mas que se diz e manifesta de um modo diferente em todos eles, seja pela dança, pela música e pela letra. Essa diferença não é porém motivo de desagrado ou desunião, mas pelo contrário, é razão de admiração e de respeito. Que lição nos dão para o resto da nossa vida colectiva numa sociedade global” disse ainda o cónego Hélder Fonseca Mendes.
No dia em que a Igreja celebra a Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria, determinada pelo Papa Pio XII e confirmada pelo Concilio Vaticano II, o sacerdote lembrou a partir da Liturgia que a “assunção de Maria, em corpo e alma aos céus, é o cume de todas as aspirações de uma humanidade que se sabe limitada e se enfrenta com a morte”.
“A assunção, como a transfiguração, a ressurreição e a ascensão de Jesus são a confirmação da vitória da vida sobre a morte. Por isso são uma força providencial para reactivar a utopia da humanidade, para reanimar a esperança do povo de Deus a fazer caso da mensagem da Bíblia”, disse.
O cónego Hélder Fonseca Mendes começou a sua homilia a recordar, a partir do Evangelho de São Lucas, que Maria acolhe a bênção de Isabel e respondeu, presenteando, com o ‘Magnificat’, que se pode definir como “o canto da esperança”, que contempla a obra de Deus em toda a história do seu povo.
“Que podem os sonhadores de utopias frente aos planos técnicos, científicos e políticos do sistema? Que podem esperar os pobres frente à terrível realidade dos factos? Que pode fazer uma mulher grávida frente a um dragão, diante da ameaça da violência sobre ela e da ameaça de morte do Filho?”, interpelou.
“Hoje não estamos longe dessas batalhas, como sejam a da violência sobre as mulheres, sobre os menores e sobre os idosos, bem como a ameaça da morte de um filho, que agora tem a primeira modalidade no que eufemisticamente chamamos de interrupção voluntária da gravidez” denunciou o sacerdote ressalvando que os direitos individuais não se podem sobrepor ao direito à vida.
“Tudo é feito em nome do direito individual, embora haja dúvidas se a morte de uma pessoa indefesa, ainda antes de nascer, é um direito unilateral de exclusivamente quem pode decidir” questionou o sacerdote que colocou em causa o financiamento público do aborto elogiando a objecção de consciência da esmagadora maioria dos médicos açorianos.
“Antes de nos declararmos vencidos, antes de nos resignar à realidade, prestemos ouvidos à palavra de Deus” exortou o sacerdote deixando algumas interpelações neste dia em que se celebra Maria como a mulher do serviço e do encontro.
“Essa mulher é a humanidade, pois ainda há sonhadores, poetas e profetas, voluntários e comprometidos na causa da justiça, que vivem pela liberdade, pela igualdade e pela fraternidade entre todos. Maria é a Mãe de todas as batalhas. Nos perigos é vencedora, sobre o pecado e sobre a morte”, enfatizou.
O Administrador Diocesano assinalou que cada um se pode perguntar como essa “inversão profética” anunciada por Maria toca a sua vida.
“Perguntemo-nos então: Temos esperança? Vivemos com gosto de aspirar e subir ao céu algum dia? Já começamos a subir? Que me diz a assunção da Maria? Não me alegra, não me anima e estimula a continuar a trabalhar pelo reino de Deus que já está aqui, onde são enaltecidos e é reconhecida a dignidade dos humilhados, dos menosprezados, dos que não contam, nem são tidos em conta pelo sistema deste mundo?”, interpelou.
A Igreja Católica assinala hoje a solenidade litúrgica da Assunção de Maria, um dogma solenemente definido pelo Papa Pio XII em 1 de novembro de 1950 e celebrado há vários séculos, numa data que é feriado em Portugal.
“Declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”, refere a constituição apostólica ‘Munificentissimus Deus’ com a qual se deu a definição deste dogma da fé católica.
Pio XII referia que “não só os simples fiéis, mas até aqueles que, em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e mesmo não poucos padres do Concílio Vaticano pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição”.
“Com o decurso do tempo essas petições e votos não diminuíram, antes foram aumentando de dia para dia em número e insistência”, acrescentava.
Os católicos orientais celebram esta festa desde o século V com o nome de “Dormição de Maria”.
No calendário litúrgico da Igreja latina celebra-se, com a categoria de solenidade (a mais importante, além das celebrações dominicais), a 15 de agosto.