Por Renato Moura
O PS ganhou as eleições, como previsto, embora sem a anunciada vitória esmagadora. O PSD, novamente derrotado, como fraca alternativa deixou o PS ser governo nos Açores até 2020, ou seja 24 anos no poder, ultrapassando os longos primeiros 20 do PSD.
A surpresa dos analistas foi a abstenção ter atingido 59,16% e muitos encontraram algumas explicações razoáveis; o tido por credenciado Luís Delgado, sem modéstia, caiu no chorrilho de humilhações, que é um dos riscos que se corre, quando se fala do que não se conhece bem.
Abster-se também é um acto consciente de sinalização do descontentamento com a política, a afirmação de não se reverem em nenhum dos candidatos, ou a consciência de que não vale a pena votar pois que não é possível mudar nada.
Já se afirmou, e cada vez melhor se prova, que a Ilha das Flores é um laboratório de estudo dos fenómenos eleitorais. Há quatro anos, com Manuel Pereira, o PS venceu com 1045 votos (49,18%) e agora, com Carlos César na campanha, com o mesmo cabeça de lista de 2012, teve 478 (23,70%), isto apesar de o PS ter voltado a ser escolhido para governar os Açores, quando agora as duas autarquias locais são governada pelo PS e há quatro anos era só uma. Em contrapartida a CDU, que em 2012 tivera 61 votos (2,87%) foi agora a força que venceu com 655 votos (32,47%). O PSD repetiu o cabeça de lista, perdeu 211 votos (menos 8,86%). Até o CDS, concorrendo com o candidato perdedor de 2012, aumentou 3,41%. Atente-se que o candidato da CDU João Paulo Corvelo – um politicamente desconhecido – em vez de brindes, prometeu seguir o modelo de deputados intervenientes em defesa das Flores e das suas gentes, intervir pelos florentinos mais vezes num ano do que os três anteriores em quatro anos e venceu em todas as freguesias do concelho de Santa Cruz. Pós eleições jurou não defender no parlamento a CDU, mas defender as Flores e os florentinos.
Nas Flores a abstenção foi só de 36,67%, que descontados os indevidamente ainda inscritos, é baixa. Quando há verdadeira disputa e avaliação de candidatos, quando os eleitores sabem que o seu voto pode mudar alguma coisa, vão votar e o resultado aparece. Na Graciosa, para se devolver a maioria local ao PS, a abstenção pouco ultrapassou os 45%; em S. Jorge, onde agora eram só três lugares em disputa, a abstenção ficou abaixo de 48%; no Faial onde se quis penalizar o Governo PS e dar a vitória ao PSD, a abstenção não chegou a 50%.
Por que razão a abstenção em S. Miguel ultrapassou 63% e na Terceira quase atingiu 59%?