Por Carmo Rodeia
Tenho de começar por fazer uma declaração de interesses, como agora é moda dizer-se. Nunca simpatizei muito com as discussões em torno das questões de género, homens e mulheres, direitos e deveres, quem tem mais e quem tem menos. No entanto, as palavras do Papa Francisco no final da audiência concedida aos membros da Conferência Episcopal de Porto Rico, esta segunda feira, desafiaram-me a abordar o tema. Sobretudo porque Francisco insiste no que é óbvio mas que muitos teimam em esquecer-se.
“É preciso combater uma certa ideologia do género” diz o Papa sublinhando que “as diferenças entre homem e mulher não são para a contraposição ou subordinação, mas para a comunhão e geração”.
O desafio é gigante para todos, porque até agora, uma lente da ideologia tem impedido que se veja a realidade como forma de entender a igualdade numa perspetiva “do com e da relação” e não na perspetiva do “contra”.
Se há muito ficou para trás – pelo menos nas sociedades ocidentais- o modelo de subordinação social das mulheres ao homem, e foi igualmente superado um segundo modelo, da pura e simples paridade, aplicada mecanicamente, a verdade é que o novo paradigma assenta no reconhecimento de que ambos são necessários, ambos são portadores de uma idêntica natureza que se manifesta de forma própria.
Porque é que isto há de provocar tantos sobressaltos?
A resposta é simples: o terreno está minado pelo preconceito. De ambos os lados. Uns porque temem perder poder; outros porque o querem a toda a força nem que para isso tenham de invocar o género.
Mais do que a guerra dos sexos, quem pode fazer isto ou aquilo, sensato seria abrir as portas da igreja à competência, à sensibilidade, à intuição, à paixão e à dedicação…atributos que não têm género e muito menos quotas ou qualquer forma de discriminação positiva… só porque sim.
Francisco tem se referido ao papel das mulheres dentro da igreja de uma forma aberta. E, desde que introduziu a questão, tem-la discutido de modo franco e sem tabus.
Já este ano, em fevereiro, o Papa afirmou que a plena participação das mulheres na vida das comunidades é uma tarefa inadiável, e que é preciso estudar critérios e modalidades novos para que as mulheres se sintam não hóspedes mas plenamente participantes dos vários âmbitos da vida social e eclesial.
É desejável, dizia Francisco, uma presença feminina “mais capilar e incisiva nas comunidades”, para que se “possam ver muitas mulheres envolvidas nas responsabilidades pastorais, no acompanhamento de pessoas, famílias e grupos, assim como na reflexão teológica”.
Uma das questões levantadas na assembleia plenária do Conselho Pontifício para a Cultura, realizada em Fevereiro deste ano, coloca duas perguntas essenciais: “Porque é que uma presença tão grande de mulheres na Igreja não incidiu nas suas estruturas? Porquê atribuir à mulher na prática pastoral só aquelas tarefas que lhes atribui um esquema algo rígido de resíduos ideológicos e ancestrais?”.
Como em tudo na vida, a paciência é importante. Ela pede-nos e dá-nos tempo. Raramente é uma virtude natural e, na maior parte das vezes, faz-se de decisão e caminho. Também neste assunto, o tempo é um sábio conselheiro. E a paciência a mestra de todas as virtudes.
Santa Teresa de Ávila, que tinha muitas virtudes embora a paciência não fosse uma delas repetiu que ” Nada te turbe/nada te espante/quem a Deus tem nada lhe falta./A paciência tudo alcança/só Deus basta”.
E a nós não nos basta porquê?