Igreja tem de estar aberta à opinião dos de fora, diz Monsenhor António da Luz
Com 80 anos de idade, 57 de ministério sacerdotal, Monsenhor António da Luz é um dos professores do Seminário Episcopal de Angra que mais tempo lecionou, desde a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica até à Teologia Moral. Cónego Penitenciário para a Ilha de São Miguel, recorda os tempos do Seminário, onde passou 35 anos, como “muito agradáveis” e “protetores”, embora a sua vocação fosse mesmo “ser presbítero numa paróquia”. É natural de Santo António (PDL). Hoje, reside nas Capelas, em São Miguel, e mantém-se atento aos sinais do mundo. Sobre a Igreja Açoriana considera que “é tempo de se fazer um Sínodo” diocesano que, além “de necessário é urgente”; que toda a Igreja precisa de uma “verdadeira conversão” para melhor “ser testemunha” e deixar “sinais num mundo cada vez mais secularizado”. Sinais que devem ser de “inclusão” e de “proximidade” sobretudo aos que sofrem, mas sem perder de vista “os ricos” que precisam “ser libertados da escravidão do dinheiro”.
“Se queremos ser fiéis ao Mestre temos de ser pobres e estar ao lado deles. Essa é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo”, diz, lembrando que esta Igreja “não é de massas mas de pequenas comunidades vivas”. Estranha, por outro lado, algum “conservadorismo” de um ou outro sacerdote mais novo bem como certo “vanguardismo” de alguns dos mais velhos. Por isso, pede orientações mais claras para que todos “possam caminhar lada a lado”.
Sítio Igreja Açores- Metade dos portugueses diz-se católica, mas as igrejas estão vazias. Os Açores são a região do país com maior percentagem de prática dominical mas ouve-se amiúde que é preciso evangelizar. Como vê esta realidade?
Monsenhor António da Luz- Há várias questões levantadas pela sua pergunta. Julgo que hoje as pessoas sentem-se tocadas pelo transcendente, o que não significa que tenham uma fé esclarecida e amadurecida. Os dados mostram-nos que há uma enorme religiosidade natural, popular, nos Açores, que importa manter e levar a sério, nunca perdendo de vista a necessidade de uma evangelização permanente. Quanto às pessoas se dizerem católicas e depois não praticarem, a questão que se deve levantar não é bem essa; a questão quanto mim mais pertinente, é questionar que diferença é que essas pessoas fazem na sociedade; como é que vivem e praticam o Evangelho.
Sítio Igreja Açores- Quer dizer que hoje vivemos uma religião celebrativa, apenas?
Monsenhor António da Luz– Pode passar por aí a interpretação. A Igreja é uma realidade mistérica. As pessoas olham e dizem-se Igreja mas apenas através de aspetos exteriores: uma ida à missa, uma procissão, um rito mas a Igreja não é isto. É uma comunhão- um povo de Deus- e antes disso é preciso ver este sacramento da presença de Deus no mundo.
Não basta uma celebração exterior; é preciso que a Igreja seja povo de Deus e um povo de Deus não é um povo qualquer. Não é um conjunto de pessoas, uma multidão em torno de um partido ou de um clube de futebol. É muitíssimo mais que isso. Hoje olhamos para as nossas paróquias e vemos imensos conflitos; pessoas que não se conhecem ou que nunca trocaram uma palavra; às vezes frequentando a mesma igreja. Isto é um contratestemunho.
Sítio Igreja Açores- Como é que se vence esta tendência?
Monsenhor António da Luz- A celebração faz parte da Igreja e não tem mal. Mas é preciso ouvir a palavra; escutá-la, compreendê-la e digeri-la para a poder aplicar e viver. Enquanto a palavra não encarnar nas pessoas nunca haverá uma comunhão, e por conseguinte, nunca será a Igreja de Jesus Cristo. Por isso é que dentro da Igreja há neste momento comunidades organizadas que fazem este percurso: escuta da palavra, formação, que desemboca em celebrações, sobretudo a Eucaristia, e finalmente, o viver a realidade da Eucaristia, na vida prática.
Sítio Igreja Açores- No dia a dia o que é que distingue um cristão de um não crente?
Monsenhor António da Luz- Há uns anos atrás estes problemas não existiam. Toda a gente ia à igreja. Todos eram católicos. Mas que catolicismo era este?
Sítio Igreja Açores- Então, a alegada crise que existe na relação entre as pessoas e a Igreja pode contribuir para uma prática mais esclarecida; para separar o trigo do joio?
Monsenhor António da Luz– Sem dúvida. As crises às vezes são benéficas. A fé desse tempo, maioritariamente, era uma fé infantil. Mas era suficiente para essa altura, dava… hoje, as coisas mudaram muito. São necessários novos sinais que despertem, estimulem a fé. E o trabalho já está feito, veio do tempo do Concílio, que foi beber aos documentos fundamentais da Igreja primitiva. Não precisamos de inventar nada, basta ir ao centro, o amor. Mas, quando falamos do amor de Deus falamos de um amor sem reservas, a todos indiscriminadamente, também aos inimigos; aqueles que estão afastados. Quando isto acontecer temos um sinal junto daqueles que são descrentes.
Sítio Igreja Açores- Ser capaz de dar a outra face é o testemunho que falta?
Monsenhor António da Luz– Nós vemos as reações das pessoas, a partir de nós próprios: quando somos ofendidos, no mínimo, respondemos na mesma moeda, mas o Espírito convida-nos a ir mais longe do que a Lei de Talião: perdoar não apenas sete vezes mas setenta vezes mais. Outro sinal- e o Concílio apelou muito para isso- a que temos assistido é o escândalo da divisão entre cristãos, o que constitui um novo contratestemunho para quem não crê. O que temos de fazer? Deus tem tempo, nós é que não, como dizia Santo Agostinho “Deus é paciente porque é eterno”. Nós não somos nem uma coisa nem outra. Então, temos de procurar unir-nos. Esquecer o que nos divide e valorizar o que nos une. Este é o grande milagre da Igreja do nosso tempo, que foi iniciado no Concílio e que precisa ser acarinhado e estimulado. Muitas das divisões aconteceram e ainda hoje acontecem porque se parte do pressuposto que a Igreja é o centro quando efetivamente o centro é Jesus Cristo. A Igreja é apenas um instrumento, com erros e com valores. O Concílio serviu para esse esclarecimento e a Igreja Católica deu passos fundamentais que levaram à sua conversão.
Ora, estes novos carismas- falei do Caminho Neocatecumenal porque foi um dos que chegou aqui- questionam-nos e desafiam-nos sobretudo na ótica da formação. Comecei a ouvir as catequeses feitas por leigos e achei que eram para mim. Eu sabia tanta coisa de Jesus mas o que é que eu sabia: teorias, teologia, filosofia… enfim coisas sobre Deus que fui estudando ditas por outros. Então no meu tempo de professor também fui transmitindo. Quando chegou o Caminho eu descobri que afinal era possível encontrar o essencial de Deus em Deus. Dar testemunho não é dar testemunho de mim, dos meus conhecimentos mas sim dar testemunho de Jesus Cristo e isto pressupõe muita humildade feita a partir do conhecimento do meu lugar como pecador. O que está na base de tudo é o batismo; é isso que faz de mim cristão, mais próximo de Jesus. É isso que faz o sentido da Igreja-Comunhão.
Sítio Igreja Açores- Aquilo que está a dizer é muito importante e interessante. Mas, é assim na realidade… há esse espírito verdadeiro de comunhão?
Monsenhor António da Luz- Nós vivemos um tempo desafiador. Se nós falamos de uma Igreja-mistério, em que há elementos que são transcendentes- Jesus Cristo ressuscitado como cabeça e o Espírito Santo como alma- é obvio que a Igreja sendo feita de homens tem uma parte terrena que pode baralhar tudo. Mas não há que ter medo.
Sítio Igreja Açores- Como é que o senhor se posiciona neste tempo, na Igreja?
Monsenhor António da Luz- Vejo que há necessidade urgente de formação, não tanto ao nível de cursos de bíblia ou de teologia, por exemplo, mas a formação no sentido em que a fé e Deus estejam no centro. Não tenho nada a opor nem estou arrependido dos estudos que fiz, mas acho que a formação que falta é outra.
Sítio Igreja Açores- Em que sentido?
Monsenhor António da Luz- A Igreja tem sido clara quanto à evolução das culturas, da tecnologia, das ciências de educação, mas sabemos que por trás de tudo isto está muita daquela influência do orgulho do homem que se quer colocar no lugar de Deus, numa espécie de Antropocentrismo.
Sítio Igreja Açores- Estamos a viver de novo Babel?
Monsenhor António da Luz- Estamos sobretudo num tempo em que quem parece ter razão é Marx, Nietzsche e Freud…Estes homens têm um valor imenso, só que partem de princípios em que Deus não conta para nada; só o homem conta.
Sítio Igreja Açores- Qual é o papel da Igreja no mundo de hoje?
Monsenhor António da Luz- É preciso ter coragem de dizer que o Concílio foi decisivo para as mudanças que se operaram na Igreja, umas mais de forma outras de substância. O mais rico está, contudo, ainda muito longe de ser concretizado nas nossas vidas de paróquia ou de família. O Espírito Santo atuou de uma forma muito impressiva nos Padres Conciliares; eles chegaram a consensos incríveis e abanaram as estruturas porque o que ficava para trás era uma Igreja triunfalista, cheia de certezas e de dogmas. Com o Concílio, a Igreja descobriu a sua verdade: que era um dom de Deus, que devia ser pobre e para os pobres. Portanto hoje ficamos satisfeitos quando vemos o Papa Francisco a afirmar todos os dias isto. Hoje quando fazemos esta opção – porque não há outra se queremos ser fiéis ao Mestre- de sermos pobres e de olharmos sempre para os pobres; tê-los aliás como a prioridade das prioridades. A Igreja de Jesus Cristo deve ser uma Igreja serva e pobre, sempre ao lado dos pobres…
Sítio Igreja Açores- É fácil nas palavras… o senhor olha para o mundo vê cada vez mais excluídos, um fosso maior entre os homens ricos e os homens pobres. Porque é que a Igreja não tem sido mais acutilante nesta denúncia?
Monsenhor António da Luz– O nosso tempo humano é sempre curto, mas estamos a fazer alguns esforços nesse sentido. Seria injusto dizer o contrário ou não o reconhecer.
Quando Bento XVI esteve em Portugal e falou aos nossos Bispos colocou o dedo na ferida, já nessa altura. E encorajou os nossos Bispos a lutarem por melhores condições para a nossa sociedade.
Sítio Igreja Açores- Sim, mas o que é que mudou?
Monsenhor António da Luz– Não fizemos um sínodo nacional mas mexeu-se em muita coisa e tem-se estado a fazer essa caminhada sinodal, a vários níveis. Olhe, por exemplo, as questões sociais. Tem havido alguma coragem para viver esta Igreja pobre, ser esta Igreja pobre e denunciar. Julgo que a Igreja portuguesa tem feito um grande esforço nesse sentido.
A Nova Evangelização é também isto: ajudar a libertar os pobres para que vivam melhor e libertar os ricos da sua escravidão ao dinheiro. É isso que nos diz o Evangelho. Deus está no centro, mas o dinheiro na nossa sociedade é um ídolo. Qual é a opção do Cristão? Se for verdadeiramente cristão é só uma; a questão nem se coloca. Se os ricos não tomarem consciência da injustiça que vai no seu coração, o mundo não muda. Portanto, o caminho da evangelização é longo e duro; sobretudo muito trabalhoso.
Sítio Igreja Açores- É uma tarefa dura como o senhor diz e que leva tempo, e o tempo da Igreja não é bem o tempo normal…
Monsenhor António da Luz- E qual é o mal disso? Leva o tempo que for preciso. Temos sempre de ser capazes de caminhar…O que é preciso é voltar às origens, não para decalcar o que existiu, que era próprio de um determinado contexto mas de trazer, de sedimentar um caminho com audácia e com coragem que leve novamente a Jesus Cristo. Sem medo de dar a cara. Os Apóstolos só depois do Pentecostes e da força do Espírito Santo é que ganharam essa coragem para denunciarem aqueles que tinham atentado contra a vida de Jesus, lembrando-lhes que o mataram mas que ele vive ressuscitado. Ora é esta coragem que os cristãos de hoje têm de ter, sem medo, porque só assim serão verdadeiros evangelizadores. Isto é válido para o clero, para os leigos, para os religiosos porque hoje, às vezes, tenho a sensação de que nos contentamos com pouco.
Sítio Igreja Açores- O que é que pretender dizer?
Monsenhor António da Luz– Que vivemos numa espécie de minimalismo, de manutenção ao jeito do “está bem bom assim” e não pode ser. A nossa fé esclarecida tem de nos impelir a sermos evangelizadores, a dar a cara e a vida sem medo por Jesus em todas as dimensões da nossa existência.
Sítio Igreja Açores- O Conselho Presbiteral que se realizou há um mês deixou como indicação a possibilidade da realização de um Sínodo diocesano. Como vê esta proposta?
Monsenhor António da Luz- O assunto já não é novo e o nosso Bispo mostrou-se sempre muito disponível para acolher essa ideia. Não só é necessário como é urgente. São precisas orientações claras para evitar competitividade, disputas e querelas desnecessárias. Sínodo significa caminhar juntos e nós nos Açores precisamos de caminhar mais junto a Jesus e juntos uns dos outros. A igreja para ser credível tem que ter esta unidade. Não vamos transformar nem converter o mundo inteiro de um momento para o outro, há de haver sempre os não crentes, mas nós temos de tentar sem procurar ser uma Igreja de massas.
Sítio Igreja Açores- Numa Igreja de massas, os sinais de que falou há pouco são difíceis de se evidenciarem…
Monsenhor António da Luz- Aí é que está… muito barulho, muitos cânticos, é muito fogo de artifício. Agora, comunidades pequenas que vivem, que experimentam o amor, que vivem esse clima de fraternidade, são robustas, estão unidas e conseguem enfrentar o medo de uma forma diferente. Estes testemunhos estão a ser dados. Por vezes não são é publicitados porque na nossa sociedade mediática só os grandes feitos e o negativo são postos em evidência. O importante é não desfalecermos. Jesus pede-nos pouco mas mesmo esse pouco para a nossa natureza é muito…
Sítio Igreja Açores- O Senhor estava em Roma quando foi anunciado o Concílio Vaticano II, 25 de janeiro de 1959. Olhando para a atuação do Papa Francisco acredita que ele esteja a preparar um novo concilio, como alguns dentro da igreja defendem?
Monsenhor António da Luz- Ainda há muita coisa por explorar dentro do Concílio. Há uma enorme riqueza que falta cumprir. Não creio que seja necessário um novo Concílio. O que acontece é que, como não se conhece toda a riqueza do anterior, os gestos e as palavras do Papa parecem novidade e não são. O que ele está a fazer é mostrar uma Igreja encarnada neste mundo e na sociedade concreta; a ser pobre… ele está a dizer-nos isso através dos seus gestos. Os aposentos, a cruz, os sapatos… tudo isso são gestos que têm um profundo significado mas que se inscrevem apenas no Evangelho.
Estas atitudes do Papa são proféticas porque apontam para aspetos fundamentais dando a indicação do que deve ser a Igreja. Isto pressupõe uma conversão e reflete o mistério da fé.
Sítio Igreja Açores- Como é que o senhor vê a formação dos padres na nossa diocese, hoje em dia?
Monsenhor António da Luz– Eu sou do tempo passado. Fui formado numa disciplina rígida e quando fui sacerdote tive de me adaptar a outros tempos. Tive de me moldar, tive de me atualizar, de estudar porque me vi na obrigação de ensinar os meus alunos a serem sacerdotes do seu tempo.
Sítio Igreja Açores- Foi uma espécie de conversão…
Monsenhor António da Luz- Sim, isso mesmo. Quando saí de Roma, da Gregoriana, vinha cheio de certezas e depois, como era apreciado, julgava que estava no caminho certo e rapidamente percebi que tinha de mudar, que tinha de fazer um esforço para me adaptar aos tempos e os tempos eram desafiantes. Foi um processo difícil. Estamos a falar de uma revolução teológica: aprendi de uma determinada maneira e tive de ensinar de outra. Mas gostei porque isso contribuiu para a minha transformação como pessoa, até porque era novo e a minha capacidade de luta e de renovação eram totais. Se eu estava num Seminário pós conciliar tinha de ser um professor pós conciliar e não alguém que vivesse ainda numa Igreja de certezas e triunfalista.
Ainda me lembro que Lutero, Calvino, credo…iam direitinhos para o inferno. Só os católicos eram bons…A lógica do Concílio deitou tudo isso por terra… e ainda bem.
Sítio Igreja Açores- Considera-se um progressista?
Monsenhor António da Luz– Deus deu-me a graça de ter estado em Lisboa a estudar Filologia Germânica depois de ter estudado Teologia em Roma. E nesse tempo estudei particularmente Nietzsche, filósofo ateu, portanto fora da Igreja, que não podia perceber este mistério, porque era desfigurada a imagem de Deus que os cristãos do seu tempo apresentavam. Quando ele diz, por exemplo, “Deus morreu”, quem foi o Deus que morreu? Um ídolo, um Deus violento, cruel, castigador…O Concílio Vaticano II, que foi da Igreja Católica e não de outra Igreja qualquer, acabou também com essa ideia de Deus. Afinal, Nietzsche poderia não estar tão longe da verdade. Sabe, tenho a ideia de que quem está fora e vê as coisas com menos paixão, de uma forma mais aberta e descomprometida, consegue ver melhor. Por isso, digo muitas vezes, a Igreja precisa mais, ou pelo menos outro tanto, dos que estão fora do que dos que estão dentro. Aproveito para dizer que os maiores perigos para a Igreja não vêm de fora- com esses nós já contamos-, vêm de dentro. Quando não há comunhão, há interesseiros e interesses, o tal mundanismo de que este Papa e outros têm falado, e então estamos mal.
Sítio Igreja Açores- O senhor não tem paróquia. Está mais liberto e atento a esses sinais. Eles são evidentes na nossa Igreja?
Monsenhor António da Luz– Não quero fazer julgamentos. Vejo muita gente com verdadeiro espirito evangélico, de missão. Outros, porém, têm umas ideias que me parecem ainda mais atrasados e mais retrógrados que no meu tempo de estudo em Roma. Eu não sei explicar porque alguns deles foram meus alunos e não me constou que eu ou os meus colegas ensinássemos no Seminário coisas retrógradas. Por isso, espanto-me às vezes com coisas que vejo e que oiço. Gostava de sublinhar, também, o oposto, ou seja, padres mais velhos que também exageram naquilo que é dito moderno, sobretudo no campo da Pastoral.
Sítio Igreja Açores- A desilusão é assim tão grande?
Monsenhor António da Luz- Sinto alguma embora não possa tomar a parte pelo todo e neste caso, os exemplos de um e de outros são a minoria… mas não me deixam de desiludir. Quanto aos novos alunos, sobretudo os que entraram depois de 2000, já não me posso pronunciar tanto porque não os conheço.
Sítio Igreja Açores- Sente saudades do Seminário?
Monsenhor António da Luz– Em certa medida sim… foi muito tempo que estive lá. Foram tempos muito desafiantes, que exigiram muito de mim. Formei-me em Teologia Dogmática e tive de dar Teologia Moral, imagine. Mas gostei muito e enfrentei isso com muita dedicação.
Sítio Igreja Açores- Recorda algum momento especial desse período?
Monsenhor António da Luz- Julgo que será mais fácil serem os meus alunos a recordarem-se do que eu. Lembro-me que aqui, no Seminário Menor, havia uns quantos cábulas que faziam promessas ao Santo Cristo e chumbavam. Depois diziam que não acreditavam em nada. Este é um dos aspetos da religiosidade popular: a religião que vai ao encontro de Deus, para satisfazer as necessidades individuais em vez de ser uma fé esclarecida que perceba que Deus é que vem ao nosso encontro e nos orienta… a fé como uma espécie de negócio era e é ainda, infelizmente, muito comum.
Sítio Igreja Açores- Nunca teve momentos de contradição em que sentiu que este não era o seu caminho ou que estaria a remar contra uma maré poderosa?
Monsenhor António da Luz- Não, sempre fui muito protegido. Sempre partilhei muito com colegas mais novos. Tinha uma certa envergadura e isso protegeu-me e preparou-me. No Seminário tive dúvidas como qualquer um da minha idade. Fui estudando e embora quisesse verdadeiramente ser paroquiar. A verdade é que a Diocese precisou de mim no Seminário e foi lá que eu passei a minha vida. 35 anos entre o Seminário do Colégio, em Ponta Delgada e o Seminário de Angra. Uma vida!.
(*) – Entrevista atualizada a 27-05-2015