Entre o fim de semana de Pentecostes e a Trindade celebram-se 45 impérios
A ilha do Pico, nos Açores vai estar “rendida” ao Divino Espírito Santo, celebrando nas suas 19 paróquias, 45 impérios, desde o sábado, 23 de maio, conhecido na ilha como o Sábado do Senhor Espírito Santo, até ao Domingo da Santíssima Trindade, 31 de maio.
A Festa do Sábado do Espírito Santo, que hoje se vive na Silveira do Pico é a única festividade de Pentecostes nos Açores, a acontecer num sábado e remonta a 1720, altura em que a população fez um voto, na sequência de uma erupção vulcânica que formou o atual Mistério da Silveira.
Juntamente com o Faial, São Jorge e Terceira, o Pico é uma das ilhas do Grupo Central do arquipélago dos Açores, onde as Festas do Divino Espírito Santo são vividas de uma forma mais intensa. Aliás, embora o culto ao Divino Espirito Santo seja uma “marca identitária da açorianidade”, a verdade é que é no Grupo Central que elas conservam uma vivência mais comunitária.
As 45 irmandades da ilha montanha que trazem à rua o Divino Espírito Santo, vão realizar as suas coroações, procissões e convívios, tendo sempre como mote a partilha.
Nas festividades deste ano serão oferecidas mais de 21.000 refeições, 15 mil no fim de semana de Pencostes e 6 mil no Domingo da Santíssima Trindade.
“Este enorme número de refeições, tendo em conta o número de habitantes da ilha que já não chega a 15 mil habitantes, equivale a mais de 10 toneladas de carne e mais de 20 mil pães” refere o Pe Marco Martinho, ouvidor eclesiástico da ilha do Pico.
“Saibamos passar da festa à vivência quotidiana iluminados pelas luzes do Espírito Santo”, sublinhou o sacerdote.
De referir, ainda, que este ano dos 45 mordomos , 13 são senhoras e 32 são senhores.
Os cortejos procissionais e os arraiais são abrilhantados pelas 13 filarmónicas da ilha e ainda pelos grupos de foliões.
Nestas 45 festas além das tradicionais sopas do Espírito Santo serão servidas carne cozida e assada, massa sovada e arroz doce.
Em cada arraial são distribuídas as rosquilhas, vésperas ou pão a todos aqueles que passam pela freguesia.
De referir que as rosquilhas- “reliques”- e o pão são ofertados nos impérios do lado sul da ilha (desde a Madalena até à Calheta de Nesquim) e os bolos de véspera nos impérios do norte da ilha (desde as Bandeiras à Calheta de Nesquim). A Paróquia da Calheta de Nesquim é a única que oferece rosquilhas e bolos de vésperas.
O maior império da ilha (e provavelmente dos Açores) é o da Terça-feira do Espirito Santo na Vila da Madalena, em que são distribuídas cerca de 8 mil rosquilhas, muitas delas partilhadas com forasteiros que acorrem à ilha montanha provenientes do Faial e de São Jorge.
Além destas 45 irmandades, que realizam as suas festas nestes dias, há outras seis que promovem a sua festividade noutras alturas do ano, com coroações, sopas e distribuição de rosquilhas.
“Estas são as festas do povo que se exprimem na alegria do convívio, na interajuda comunitária, na vivência da irmandade e na abundância dos bens materiais que, partilhados, chegam para todos” sublinha o Pe Marco Martinho destacando, ainda, a questão da “igualdade em que não há distinção de classes nem de pessoas, pois todos são irmãos e aquele que se torna imperador é-o para servir os demais”.
É, nestas festas, “que encontramos o verdadeiro sentido do cristianismo”, lembra o sacerdote.