II Colóquio promovido pela Conferência de São Tomás de Aquino reflete sobre o tema “Só labora quem ora”
O excessivo “ativismo” que o ritmo do dia a dia convoca, afasta-nos do essencial- a espiritualidade e a oração- e por isso a ação pode ficar comprometida, disse este sábado o Presidente da Conferência Vicentina de São Tomás de Aquino na abertura do II Colóquio Vicentino da ilha Terceira intitulado “Só labora quem ora”.
“No nosso meio, em nome de uma maior agenda ou da pretensão de a tudo responder com a maior celeridade possível, vemo-nos equivocados entre o dever de agir e a necessidade de aprofundar a nossa espiritualidade para melhor chegarmos a quem sofre com os gestos e o amor de Deus” disse Jacob Vasconcelos, seminarista do 4º ano e presidente da Conferência de São Tomás de Aquino, a única da ilha Terceira, formada apenas por jovens.
A partir das palavras de São Vicente Paulo, o responsável pela conferência vicentina do Seminário Episcopal de Angra frisou que “só trabalha quem reza”.
“Esta máxima devia estar sempre inscrita nas nossas consciências para que nunca nos assaltasse o dilema de Marta na sugestiva cena evangélica de todos conhecida. Escolher a melhor parte é ter a capacidade de discernir os tempos e os momentos para agir e para contemplar”, disse ainda Jacob Vasconcelos, apelando aos vicentinos “que passem mais tempo junto do Senhor”. Até para se combater um certo “ativismo”.
“Se durante o tempo de oração, tiverdes de levar um medicamento ou qualquer auxílio a um pobre, ide tranquilamente, oferecendo a Deus essa boa obra como prolongamento da oração. E não tenhais nenhum escrúpulo ou remorso de consciência se, para prestar serviço aos pobres, tivestes de deixar a oração. De facto não se trata de deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um pobre é também servir a Deus” lembrou Jacob Vasconcelos a partir de afirmações de São Vicente de Paulo.
O II Colóquio Vicentino decorreu no Seminário Episcopal de Angra este sábado, propondo uma reflexão e análise dos tempos mais próximos, num dia respartido entre duas conferências e rabalhos de grupo.
A primeira conferência foi proferida pelo Cónego Gregório Rocha, diretor espiritual do Seminário, que abordou a questão da oração e da ação referindo que muitas vezes “queremos fazer muito sem darmos sentido ao que fazemos”.
Por isso, deixou um desafio para que todos regressem a Jesus para ver “quando e como é que Ele rezava” e “sintonizava a Sua vontade com a do pai”.
O sacerdote sublinhou, ainda a importância da oração “que nos leva a estabelecer prioridades” discernindo “quando é tempo de orar ou de agir”.
“Tendemos a justificar-nos com o trabalho para não tirar tempo para a espiritualidade” esquecendo-nos, muitas vezes que “é a oração que faz com que a ação seja a concretização da vontade de Deus”.
Na segunda conferência o Pe Ricardo Henriques falou da dimensão social da evangelização , inscrita no capítulo IV da exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”.
“O anúncio do Evangelho como nunca é meramente informativo, mas também, performativo, transformador, impele-nos a ir ao encontro do outro” , diz o sacerdote, lembrando que quando o fazemos temos de “ir movidos pelo amor do Senhor”.
“As ideologias interessam-se pelos pobres em função dos seus interesses e o pobre tem é de ser amado pelos mais ricos”, que devem ser “tolerantes” perante a diferença, sem se exercitarem no seu poder porque a “segurança na fé não nos torna imóveis e fechados mas põe-nos a caminho para dar testemunho a todos e para dialogar com todos.” (Papa Francisco)
A seguir realizaram-se os trabalhos de grupo com as ouvidorias presentes, refletindo-se estas temáticas sociais. E, desse trabalho, os cerca de 30 participantes concluiram que “falta tempo e persistência para orar”, “Cansaço, comodismo”; “a necessidade de “levar Deus para a vida e trabalho” ou da “dificuldade em evangelizar pobres de estômago vazio”.
Participaram neste segundo colóquio organizado pelos seminaristas, cerca de 30 poessoas. Carlos Matos o representante do Conselho central agradeceu a boa-vontade da conferência vicentina em promover este evento, único do seu género na ilha Terceira, exortando a que continuem a valorizar este momento anualmente.
A Conferência Vicentina de São Tomás de Aquino, foi fundada a 20 de Janeiro de 1955 e teve como primeiro presidente o Pe José Garcia, sendo o assistente espiritual o então, ainda sacerdote, José Enes. A conferência foi fundada pelos alunos do quarto ano de teologia, do Seminário Episcopal e no dia em que foi constituída foi também iniciado um costume que até hoje se mantém, o chamado “Pobre dos pobres”.
Esta tradição consiste na visita diária ao Santíssimo Sacramento por dois ou mais confrades que deverão, segundo a acta nº 1, pedir a Deus pela Sociedade de São Vicente de Paulo, pela Santa igreja, por Portugal e pelo Santo Padre.
Volvidos 60 anos esta conferência “mantém plena atividade, contando com 17 membros. Todos os seminaristas são vicentinos”. Por trimestre, são feitas mais de 30 assistências. A conferência vive de donativos de vários sacerdotes e outros benfeitores que a auxiliam monetariamente.