Ocorrem, no dia 13.03.2015, dois anos da eleição do brilhante Papa Francisco, sucessor do grande Doutor da Igreja, Bento XVI.
Neste Ano Internacional da Luz (2015) vem-nos à memória a encíclica escrita, na passagem do testemunho, pelos dois Papas, «A luz da fé» (29.06.2013), onde a palavra «luz» surge 120 vezes e se nota, na patente ruptura de estilo, uma filosofia de continuidade entre os dois papados.
Segundo o documento, a fé é o dom que ilumina o caminho da vida na noite da existência (Jo 12:46). Quem crê vê com a Luz que é o próprio Cristo ressuscitado (Jo 8:12). A luz da fé, que abrange todas as dimensões humanas (4), supera as pequenas luzes que só iluminam por breves instantes (3). Ora, essa Luz não emana de nós mesmos; ela vem de Deus (12).
A fé consiste num encontro com Cristo, Deus de Deus, Luz da Luz, que, como mãe, nos dá à luz de uma nova experiência (5). Trata-se de uma visão luminosa que contempla Deus muito próximo, desde a origem ao fim da vida, especialmente na escuridão da morte, onde a luz do seu amor inabalável penetra para nos salvar (16).
Da luz da fé encarnada nasce o conhecimento do amor (26), que responde às perguntas sobre a verdade (34) e permite, assim, uma vida plena (27). Tal é possível porque Cristo se fez «carne» e nós vimos a glória (Jo 1:14) das suas atitudes simples e humanas. No fundo, a luz da fé é a luz de um rosto, o de Jesus, Deus-Filho, no qual se vê Deus-Pai (30).
À luz do amor de Deus damos a nossa resposta pessoal (32), tal como a luz encontra reflexo num espelho (33). É assim que a luz da fé se difunde, para além das palavras: reflecte-se de rosto em rosto, como Moisés, em cuja face resplandecia a glória de Deus, com quem esteve (37). Pela fé vemos que Deus nos ilumina através da luz do rosto de cada pessoa (54).
Tal como os Magos seguiram o caminho à luz da estrela, a luz da fé ilumina os que, provenientes de todas as religiões e filosofias, procuram a justiça e a solidariedade. A Igreja, confessando Jesus como único salvador, anuncia-lhes que toda a Luz de Deus se concentrou nele, na sua «vida luminosa», e que eles, sem o saberem, já vivem no caminho da fé (35).
A fé ilumina a razão humana, para melhor conhecer e amar Deus e os outros (36). Deus lança nova luz sobre a própria revelação, aprofundando-a, como as Oito Bem-Aventuranças explicitam os Dez Mandamentos (46): o amor torna-se a hermenêutica da luz criadora da fé e se concretiza, já neste mundo, na justiça e no direito (55), no fortalecimento e no enriquecimento das relações humanas (51).
O pontificado do Papa Francisco tem sido uma lição viva sobre a encarnação da Luz de Deus em Cristo. No seu rosto podemos contemplar a glória e o conhecimento de Deus-Amor; ele próprio procura a Luz de Deus no rosto de cada pessoa, qualquer que seja a sua cultura, religião ou filosofia. Ilustre pela sua fé e inteligência, tem procurado um cristianismo mais humano, sempre com uma atitude abrangente, mas nunca abstracta, porque desencadeia processos concretos como centelhas brilhantes na noite da crise antropológica que actualmente cobre o mundo.
PadreRicardoTavares.wordpress.com