Representantes de várias paróquias de Ponta Delgada receberam formação de especialistas sobre conhecimento, preservação e divulgação do património religioso.
Conhecer, preservar, valorizar, divulgar e evangelizar são verbos que se conjugam com o património religioso que a Diocese de Angra quer acautelar através da Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja, que em parceria com a Ouvidoria de Ponta Delgada, realizou uma ação de formação com representantes de várias paróquias do concelho, esta terça feira à noite, no Centro Pastoral Pio XII.
O objetivo é sensibilizar os responsáveis pela gestão e conservação do património móvel e imóvel das diferentes paróquias que integram a Ouvidoria de Ponta Delgada para a importância do património enquanto herança mas também enquanto “linguagem que nos permite conhecer a história de um tempo”, como afirmou o responsável pela Comissão Diocesana, o Pe Duarte Melo.
“Através das marcas patrimoniais, das suas gramáticas lemos a história do pensamento, das ideias, das técnicas e da fé”, afirmou Duarte Melo que apelou a todos para que zelassem pelo património herdado mas que olhassem para as novas construções à luz da contemporaneidade, “sem complexos nem conservadorismos”, porque o património “não pode ficar encarcerado como um fóssil”.
Segundo o responsável diocesano pelos Bens Culturais da Igreja as intervenções que forem feitas no nosso tempo devem refletir o espírito deste tempo, sob pena de comprometermos o futuro e a Igreja “sempre teve essa consciência e lucidez”.
“A arte é dinâmica e temos de compreender isso porque é do diálogo que se fomenta a evangelização através da arte”, concluiu Duarte Melo que deixou uma nota contra o Kitsch que deve “ser expurgado das igrejas porque provoca um ruído perturbador que distrai e dispersa daquilo que é essencial e que é a fruição do belo”.
Durante a formação falou-se igualmente das boas práticas na conservação do património edificado.
Igor França, arquiteto e membro da Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja refletiu sobre os “mitos” do património – monumentalidade e antiguidade- e deixou um apelo para que as ampliações e intervenções nas zonas envolventes a edifícios com valor patrimonial sejam devidamente “enquadradas e contextualizadas” para que não se traduzam em “agressões” ou “impactos negativos”.
“Deve existir sempre um diálogo permanente para preservar o que é histórico e o que deve ser feito à luz da linguagem própria de cada tempo”, concluiu.
A conservação e o restauro de bens móveis e integrados foi outro dos temas desta ação de formação. Ana Fernandes salientou a importância do bom estado de conservação dos edifícios por forma a garantir as boas condições de acondicionamento dos bens móveis e integrados como sejam, altares, retábulos, paramentaria, esculturas ou arquivos e bibliotecas.
“O ambiente que proporcionamos às peças é determinante para garantir a sua perenidade”, afirmou esta especialista para quem “prevenir é sempre melhor que remediar”.
O quarto eixo da formação prendeu-se com a inventariação. Partindo da ideia de que “só estimamos o que conhecemos”, João Paulo Constância, defendeu a inventariação e o registo do património como a “única forma segura” de conhecer, divulgar e valorizar o património diocesano que representa mais de 90% do património do arquipélago.
Por decisão superior nenhuma paróquia poderá fazer obras de conservação ampliação ou restauro sem autorização prévia do Bispo de Angra.