Vice Reitor da Universidade Católica diz que a Igreja precisa mais de perguntas que de respostas e convoca os cristãos a viverem o testemunho autobiográfico da fé em vez de repetirem fórmulas.
No dia em que lançou mais um livro – “A Papoila e o Monge”, resultante de uma viagem ao Japão e onde se revela no estilo haiku, poemas de origem japonesa compostos por três linhas- o Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Igreja esteve em Ponta Delgada, na Igreja do Colégio, onde exortou todos os cristãos a abandonarem um cristianismo de ritos e de certezas escritas e pouco testemunhadas.
“É preciso que os cristãos se dispam de um pragmatismo que os esventra, os impedes de refletir, de pensar e de viver”, disse Tolentino Mendonça na Conferência(*) “Anunciar a Fé de uma maneira nova”, organizada conjuntamente pelo Museu Carlos Machado e pela Ouvidoria de Ponta Delgada, no âmbito da iniciativa Fé e Cultura.
“Nós precisamos de uma fé que aceite e faça perguntas” e que, sobretudo “crie o desejo” porque a Fé vive de “afectos” e de questionamentos permanentes, e hoje “o problema de algum cristianismo é fechar a porta ao desejo porque é feito de certezas escritas, repetidas e pouco testemunhadas”.
No dia em que a Igreja assinalou Todos os Santos, o consultor do Vaticano para a Cultura socorreu-se de várias metáforas para lembrar que o importante, sobretudo num tempo marcado pela crise, é fazer das dificuldades um “laboratório de oportunidades”. E, isso convida a Igreja a ser um espaço de enorme liberdade em que cada um possa dar um contributo “mesmo quando se sente que o rebanho é cada vez mais pequeno”.
Este é para Tolentino Mendonça o grande desafio que se coloca num tempo de “transformação” que exige dos cristãos e, dos católicos em particular, “um novo discurso e um novo olhar” sobre a realidade, “sem a esconder ou ignorar”.
Para evoluir e ser a resposta atual, o cristianismo tem de se basear em histórias de vida e de fé autobiográficas, que sejam um testemunho vivo daquilo que é o evangelho.
“É preciso escrever a história de fé de cada um de nós” e não o “comentário” pois Cristo “formou um grupo de discípulos não uma escola de filosofia”, conclui.
Apresentando a Fé como algo que dá “prazer, alegria” e permite a fruição do belo, o responsável nacional pela Pastoral da Cultura garante que é através da Fé que a vida ganha sentido. E, por isso, desafiou os cristãos a fazerem da liturgia “um jogo” de prazer e de vivências.
Numa conferência muito participada, onde não faltou o debate, Tolentino de Mendonça apelou ao regresso às origens, “às bem aventuranças”, dando de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede, procurando sempre fazê-lo com “compaixão”, com “perdão” e, sobretudo com uma enorme alegria pois a palavra do evangelho não nos convida a outro caminho que não seja “ir ao encontro do outro”.
As comemorações do Ano da Fé, na Ouvidoria de Ponta Delgada, terminam este domingo com uma Eucaristia com Te Deum, às 17h30 na Igreja do Colégio, assinalando também o Dia da Diocese.