Congregação possui duas comunidades na Diocese de Angra e está nos Açores há 48 anos
Foi uma espécie de presente antecipado de Natal a vinda das Irmãs Emília Fontes e Fernanda Ramos, que no dia 22 de dezembro de 1966 rumaram a São Miguel. Na bagagem traziam a missão definida: tratar das doentes mentais internadas na Casa de Saúde de São Miguel, gerida pelo Instituto dos Irmãos de São João de Deus.
Atrás destas duas religiosas vieram mais quatro e em janeiro de 67 a Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, fundada em Espanha em maio de 1881, por São Bento Menni, juntamente com Maria Récio e Maria Giménez, instalava-se de armas e bagagens na maior ilha do arquipélago.
Foi uma espécie de “serviço à primeira vista”. 119 doentes a cargo de seis religiosas que “acolheram e empreenderam com esperança, entusiasmo e compromisso” a missão de proporcionar mais qualidade de vida e melhor acolhimento às doentes psiquiátricas, disse ao Sítio Igreja Açores a superiora da Congregação em São Miguel, a Irmã Maria da Graça.
Nem podia ser de outra maneira. “As nossas constituições”, refere, dizem que os destinatários desta missão são em primeiro lugar os doentes mentais, diminuídos psíquicos e físicos, mas também outros doentes consoante as necessidades dos tempos e dos lugares, sempre de preferência os pobres, “a todos eles fazemos presente o amor misericordioso de Deus, através da nossa ação apostólica”, frisa a responsável pela comunidade que dirige a Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição, em Ponta Delgada, inaugurada em dezembro de 1973.
Presentes em 27 países, espalhados por quatro continentes- África, Ásia, Europa e América Latina- a Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, possui duas casas nos Açores. Além da de Ponta Delgada existe a Casa de Saúde do Espírito Santo, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
No total são 11 as irmãs que lidam dirariamente com esta problemática da saúde mental no feminino na diocese de Angra, trabalhando em conjunto com técnicos e auxiliares devidamente formados nas diferentes áreas da saúde mental.
“Através do nosso modelo de intervenção hospitaleiro, que é multidisciplinar e integral, apostamos na reabilitação da pessoa com doença mental, desde programas de ocupação à reabilitação psicossocial com intervenção na comunidade”, refere a Irmã Lúcia Reduto, numa entrevista concedida ao Sítio Igreja Açores aquando da realização da Semana Aberta que a Casa de Saúde do Espírito Santo, na ilha Terceira, realizou no final do ano passado.
Refira-se que estes estabelecimentos hospitaleiros- Casa de Saúde do Espirito Santo e Casa de Saúde Nossa Senhora da Conceição- obtiveram recentemente o reconhecimento e certificação da qualidade dos Serviços Sociais (EQUASS Assurance), pela prestação de cuidados de saúde com um elevado padrão de conforto, satisfação, segurança e qualidade.
Para a superiora da Congregação, na ilha Terceira, existem problemas acrescidos na sociedade de hoje que contribuem para um agravamento da situação da saúde mental.
“Atualmente existem fragilidades como a ausência de família, de afetos muito superficiais” que são fatores que podem “contribuir para o desenvolvimento de doenças mentais, quer sejam depressões ou outra tipologia de doença. A nossa sociedade tem lidado mal com as situações de limite e fragilidade, o próprio ritmo da sociedade promove o isolamento dos idosos e a ausência da família”, refere a Irmã Lúcia Reduto.
“As estruturas da Igreja, nomeadamente o Instituto das Irmãs Hospitaleiras têm estado, particularmente, atentos a estas situações emergentes e têm procurado dar uma resposta atual e de qualidade no campo da saúde, sobretudo da saúde mental”, conclui.
A Congregação desenvolve uma atividade assitencial, desde a prevenção ao tratamento, reabilitação e reintegração social no âmbito da psicogeriatria, psiquiatria e deficiência mental, “tendo sempre em conta as necessidades e urgências de cada tempo e lugar com preferência pelos mais marginalizados”, acrescenta a superiora da casa de Ponta Delgada, lembrando que tudo isso é feito “de acordo com os valores hospitaleiros”.
Mas o dia a dia destas religiosas vai para além do serviço aos doentes.
A jornada quotidiana começa cedo, com um tempo de oração pessoal e comunitária, “porque a oração ocupa um lugar central na nossa vida consagrada hospitaleira”, lembra a Irmã Maria da Graça, ou não fosse o lema da congregação “Orar, Servir e Amar”.
Ao gerirem instituições que prestam cuidados de saúde, a ligação à comunidade “tem de ser muito forte” e por isso “é uma relação de total abertura” refere ainda a Superiora da Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição, em Ponta Delgada. Uma abertura que se traduz num trabalho “em rede” com outras instituições mas também à comunidade em geral.
“Os nossos campos de férias ou inciativas pontuais, em que convidamos jovens para passar uma temporada connosco, são a primeira forma de contacto com a nossa Congregação” refere a responsável.
“Desde logo as diversas actividades e celebrações que envolvem a participação das famílias das nossas doentes, mas não só, também convidamos jovens”.
Vinde e vede é, aliás, o mote para os campos de férias organizados anualmente por cada uma das comunidades.
“Geralmente é aqui que começa tudo”, lembra a Irmã Maria da Graça. Este Ano, dedicado pelo Papa Francisco à Vida Consagrada, a congregação tem atividades “extra” na Diocese, que envolvem as duas comunidades e que são animadas, essencialmente, pelo sector juvenil da Congregação.
Em fevereiro haverá um momento destinado aos jovens intitulado “Procuras +?” que será desenvolvido na Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição, em Ponta Delgada e em março, haverá uma experiência comunitária em Angra do Heroísmo.
“Atreve-te a Ser+” é outro desafio proposto para março, nas duas comunidades.
Em Abril participarão nas celebrações da Semana de Oração pelas Vocações e desenvolverão o projeto “Um coração sem fronteiras”. Em junho, realizarão a peregrinação hospitaleira a Fátima .
“Um dia com” será realizado em simultâneo nas duas casas de saúde, a 31 de maio. Em julho “Vem HospitaliDar» e em dezembro realiza-se o “Natal hospitaleiro”.
Este é o programa já delineado para este ano da Vida Consagrada, mas “podem surgir mais coisas”. Afinal, também será um momento de “captação” de novas religiosas e por isso, “temos de ser nós a dar o exemplo em primeiro lugar”.
A Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração são um dos 15 institutos religiosos existentes na Diocese de Angra. A maior Congregação é a das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, que está presente em cinco ilha e possui Província nos Açores.