“Sentar-se à mesma mesa”

Pelo padre Davide Barcelos

Foto: Padre Davide Barcelos

A Igreja vive um tempo de grandes mudanças. Aceleradas, complexas, muitas vezes desafiadoras, transformações estas que exigem de todos nós escuta, discernimento e coragem para responder com fidelidade ao Evangelho.

É neste contexto exigente, mas cheio de esperança, que se insere a importância crescente do trabalho conjunto entre os dois órgãos fundamentais da vida diocesana: o Conselho Presbiteral e o Conselho Pastoral Diocesano, reunidos nos dias 24 e 25 deste mês, em Ponta Delgada, sob a presidência do Bispo Diocesano, D. Armando Esteves Domingues.

A colaboração entre estes dois Conselhos não é apenas um sinal de comunhão eclesial é, acima de tudo, uma necessidade concreta e urgente. Só juntos podemos refletir, planear e dar corpo a uma pastoral enraizada na vida real das pessoas e fiel à missão da Igreja no mundo de hoje.

É desta escuta mútua e partilha de responsabilidades que pode nascer uma pastoral mais coerente, mais próxima e mais ousada. Um caminho verdadeiramente sinodal, onde cada vocação tem lugar, cada ministério é valorizado, e as decisões são tomadas com espírito de comunhão e corresponsabilidade.

Embora exista uma agenda previamente definida para este encontro, gostaria de destacar alguns temas que, no meu entender e pelo seu impacto pastoral e alcance, merecem ser colocados em evidência. São questões que interpelam profundamente a vida da nossa Igreja e exigem respostas pensadas em conjunto:

  • Como garantir a presença dos padres nas comunidades, numa realidade marcada pela sua diminuição e pelo envelhecimento do clero?
  • Como formar e acompanhar os padres face aos novos desafios humanos, sociais e espirituais que atravessam o nosso tempo?
  • Como reconhecer, envolver e valorizar os leigos, homens e mulheres, na corresponsabilidade pastoral e na liderança de processos evangelizadores nas comunidades?
  • Que reorganização pastoral precisamos de assumir para que as nossas paróquias e zonas pastorais sejam verdadeiramente vivas, missionárias e sustentáveis a médio e longo prazo?
  • E ainda, como acolher o apelo da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, concretizando localmente o impulso dado aos jovens como protagonistas de uma Igreja em saída?

O Papa Francisco sublinhou, o papel imprescindível dos leigos na vida e missão da Igreja: “Os leigos são simplesmente a imensa maioria do povo de Deus. Ao seu serviço está uma minoria os ministros ordenados. A consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja tem crescido notavelmente.” (Evangelii Gaudium, 102)

No que diz respeito à juventude, a JMJ Lisboa o Papa deixou um forte apelo à renovação da pastoral juvenil: “Os jovens não são o futuro, mas o agora de Deus.” (Cristo Vive, 178)

Devemos escutá-los, formá-los, dar-lhes espaço real na construção das comunidades eclesiais. A renovação da Igreja passará inevitavelmente pelo protagonismo juvenil, vivido com responsabilidade e autenticidade.

Estas preocupações não se resolvem em discursos ou em documentos. Precisam de ser assumidas como compromisso pastoral partilhado. E é precisamente esta a missão destes dois Conselhos: refletir, decidir e agir com unidade.

A pastoral não é obra de uns poucos. Exige planeamento, escuta, criatividade, e sobretudo, espírito de comunhão. Só assim seremos uma Igreja que anuncia com alegria, que serve com verdade e que caminha com esperança.

Desejo que este trabalho conjunto, vivido com abertura e responsabilidade, dê frutos duradouros na nossa Diocese de Angra. Que dele nasçam respostas concretas, novos caminhos e um renovado entusiasmo missionário, capaz de envolver padres, leigos, consagrados e jovens na mesma missão: servir o Evangelho no coração das nossas comunidades.

A Igreja que hoje somos é desafiada a renovar-se. E este caminho de renovação começa quando nos sentamos à mesma mesa, escutamos com humildade e decidimos com fé.

Assim caminhamos juntos.

E assim servimos melhor.

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