Pelo Cónego Jacinto Bento
O PEQUENINO REBANHO
«Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino (Lc 13,42)».
O pequenino rebanho da Igreja Mãe de Jerusalém não teme porque o Pai deu-lhes santos e zelosos pastores que os conduzem ao Reino.
Como vos tendes apercebido pelos meus escritos, nesta minha estada na Cidade Santa, tenho experienciado e testemunhado uma fé inabalável nos fiéis leigos, nos religiosos, nos padres e nos bispos.
Esta manhã, segunda-feira da oitava da Páscoa, parti, pelas 07:00, numa comitiva pastoral composta pelos quatro bispos residentes no Patriarcado Latino e por quatro sacerdotes, onde me incluía, para visitarmos as comunidades religiosas de Jerusalém. Começámos pelas Rosary Sisters, em Beit Hania (Palestina), onde dirigem duas escolas secundárias. É a única congregação palestiniana fundada por Santa Maria Alfonsina (1893-1927), canonizada em 2015. Celebrámos a Eucaristia com 22 religiosas. A homilia foi proferida em inglês pelo Cardeal Pizzaballa e traduzida para árabe, pelo seu secretário, muito fluente em línguas. Já os restantes textos foram em árabe.
Após a missa as religiosas serviram um pequeno-almoço, para comemorarmos o 60.° aniversário natalício de Sua Beatitude, o Cardeal Pizzaballa. De seguida, visitámos as religiosas francesas de clausura.
Como se assinala hoje, em Jerusalém, o dia dos discípulos de Emaús e há três lugares que reivindicam este nome, fomos primeiro a Emaús, Abu-Ghosh, em Kyriat-Yearim, onde fomos acolhidos pelas religiosas, que guardam a Igreja: Our Lady Ark of tbe Covenant.
Emaús Al Qubeibeh também é um lugar da Terra Santa que de acordo com os franciscanos faz memória da Ressurreição de Cristo. Está na posse dos franciscanos e tive oportunidade de o visitar em fevereiro de 1997.
Daí, seguimos para Beit Gemal, instituto salesiano que é um ponto de encontro entre judeus e cristãos, entre o passado e o presente, o humano e o divino. Com belezas naturais incríveis que circundam o Mosteiro. No fim, os religiosos serviram-nos um delicioso licor produzido pelos seus confrades em Deir Kremizan, próximo de Belém.
No fim desta visita, Sua Beatitude, o Cardeal Pizzaballa, teve a triste notícia do falecimento do Santo Padre, o Papa Francsico, pelo que fomos para a Igreja Salesiana rezar. Interrompemos as visitas às outras comunidades e regressámos a Jerusalém para o Cardeal iniciar os preparativos da sua viagem para Roma.
Durante quase todo o dia, na conversa que mantive com os outros quatro bispos do Patriarcado e alguns sacerdotes, notei a grande tristeza que eles sentiam na possibilidade de o Patriarca ser eleito Papa. Sabemos que os conclaves são complexos, como nos mostrou o filme com o mesmo nome e pelos conhecimentos que vamos tendo.
Mas, posso dizer que este Patriarca é amado por bispos, padres, leigos e governantes, e já entrou em Gaza duas vezes para levar alimentos e remédios, acompanhado apenas pelo seu Secretário Particular. Não tem medo. A homilia do Domingo de Páscoa é exemplo disso. É um homem do diálogo inter-religioso e ecuménico. Grande conhecedor, não só do Médio Oriente, mas de todo o mundo. É um franciscano italiano. Foi Custódio da Terra Santa por três vezes, Administrador Apostólico e atualmente Patriarca Latino de Jerusalém, sendo o 1.° Cardeal, pelo menos nos últimos séculos. Grande Pastor e bom administrador. Não faz roturas, é conciliador e sabe muito bem o que quer. Numa palavra, é um senhor de uma inteligência rara. No entanto, será o Espírito Santo a escolher.
A Igreja de Jerusalém já tem organizada uma celebração, pelas 10:00, do dia 24 de abril, na Basílica do Santo Sepulcro, para rezarem juntos pelo Papa Francisco.
Após o almoço, parti noutra missão com três bispos do Patriarcado em direção a Emaús Nicópolis, a segunda localidade a reivindicar Emaús, a 30 km de Jerusalém. Fica no cruzamento de Latrún, entre Jerusalém e Tel Aviv. Está aberto aos visitantes e vive ali a comunidade Católica das Bem-aventuranças, que diz ter sido ali, naquele lugar, que Jesus partiu o pão (Cf. Lc 24, 13-35). A celebração foi dentro das ruínas do templo Cruzado. Ao lado estão as ruínas da Igreja Bizantina. Por causa do calor cobriram o teto com panos. A celebração foi presidida pelo Bispo Marcuzzo e concelebrada por mais dois bispos e 22 padres, com uma grande assembleia jovem que cantou cânticos muito alegres ao som de instrumentos eletrónicos. O bispo falou em várias línguas e o Canon Romano foi em Latim. Durante a missa houve grandes manifestações de alegria, não sendo nada parecido com as formalidades do Santo Sepulcro requeridas pelo Status Quo.
No fim da missa as religiosas serviram um “refresco” em alegre convívio com todos os presentes.
Regressámos a Jerusalém extenuados, mas felizes e contentes por termos percorrido o Caminho de Emaús, como os Discípulos do Senhor no dia de Páscoa, à tarde, e por termos feito a fração do pão com cristãos das mais diferentes proveniências.
Chegámos já depois das 20:00 e ainda tivemos tempo de brindar com o Patriarca por ser o seu aniversário.
A conversa dos discípulos de Emaús foi sobre a Ressurreição. Imaginam a nossa sobre o que foi, mas o Espírito Santo decidirá e fá-lo-á bem, através do colégio cardinalício.