Pároco de São Sebastião sairá de novo num `bailinho´ de Carnaval, onde o enredo é cada ator sair vestido de si próprio- “A participação neste tipo de eventos ajuda a humanizar o sacerdote”
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Embora a Igreja nem sempre tenha estado de bem com o Carnaval, desde o século VI que os católicos assumem este tempo como uma festa necessária e até desejável para a evangelização, não “de bíblia debaixo do braço, mas com atitudes e gestos de proximidade” afirma o padre Luís Silva, pároco de São Sebastião e da Fonte do bastardo, que este ano volta a sair como ator num `bailinho´ de Carnaval na ilha Terceira.
“Vou vestido de mim próprio” refere numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar neste domingo de Carnaval, integrando um assunto desenvolvido por Evandro Martins, um dos mais promissores autores de enredos do Carnaval Terceirense.
“A euforia do Carnaval é absolutamente compatível com a nossa fé, desde que a euforia própria deste tempo não ultrapasse o respeito pela dignidade humana”, prossegue o sacerdote que desde a pré adolescência tomou gosto pelos Bailinhos, uma das principais manifestações de teatro popular em todo o mundo, que mobiliza toda a ilha durante o período de Carnaval.
“A abertura à dimensão da festa e da folia é fundamental na fé cristã; todos nascemos para ter um momento de festa, de felicidade e de alegria. Evangelizar e levar Jesus aos povos implica compreender a sua cultura e aproveitar a cultura para evangelizar através dela e não o contrário” refere o sacerdote.
“Dá mais trabalho, é certo, mas os frutos são diferentes. Vejo a existência do Carnaval hoje como uma coisa perfeitamente normal e não contra a fé” adianta o padre Luís Silva.
“Há terreno fértil nestes contextos: as atitudes, a proximidade, tudo isso contribui para a evangelização”, refere.
Até do ponto de vista pastoral, há ganhos nesta vivência, enfatiza o sacerdote.
“A participação neste tipo de eventos ajuda a humanizar o sacerdote”, sublinha.
“Nós já vivemos um tempo em que não era possível o sacerdote participar neste tipo de eventos, porque era colocado num pedestal, mas esse pedestal afastava-o das pessoas. Hoje é diferente; todos fazemos parte e a aproximação dos sacerdotes às pessoas seja por via da cultura, da fé, da vida espiritual é fundamental para desconstruir barreiras que foram construídas, e ajuda as pessoas a perceberem que o sacerdote é como eles”, explica.
“O sacerdote é retirado do povo para uma missão específica, especial e diferente, mas é uma pessoa como as restantes. E, por isso está disponível para as ouvir, para as escutar, mas também para se rir com elas, para dizer umas tolices, em suma, para vivermos num à vontade uns com os outros, sempre dignificando a pessoa”, diz ainda o padre Luís Silva.
“Nestes espaços e contextos quebram-se barreiras e ganha-se à vontade e isso é muito bom do ponto de vista pastoral porque aproxima as pessoas”.
Durante a entrevista o sacerdote fala ainda da ligação entre o Carnaval e a Quaresma e do facto da ilha terceira respeitar os calendários de uma forma “ímpar”, havendo tempo para a folia mas também para o silencia que convida a um tempo de introspecção para fazer uma revisão de vida.
A entrevista com o padre Luís Silva vai para o ar este domingo, no programa Igreja Açores, depois no meio-dia, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.