D. Manuel Clemente considera que o arcebispo emérito de Braga manteve exemplar «espírito coimbrão».
D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse hoje à Agência ECCLESIA que D. Eurico Dias Nogueira, que faleceu esta segunda-feira, é indispensável para “aprofundar o conhecimento” do catolicismo português e de Portugal nas “décadas centrais do século XX”.
“Ele tinha uma memória muito aguda daquilo que tinha acontecido com ele ao longo das décadas e tem trechos absolutamente preciosos para compreendermos a história do catolicismo português, como a história do nosso país, nas décadas centrais do século XX, quer aqui quer em África”, considerou o patriarca de Lisboa.
Para D. Manuel Clemente, para “aprofundar o conhecimento nas décadas centrais do século XX” e para “perceber o que foi a ação de homens da Igreja”, tanto em Portugal como em Angola e Moçambique é “muito importante” ler os testemunhos do arcebispo emérito de Braga, que faleceu aos 91.
“Desde os seus tempos de padre e estudante de direito em Coimbra, depois como Bispo em Moçambique, Angola e em Portugal, concretamente como arcebispo de Braga e na CEP, ele era das presenças mais permanentes e em variadíssimos setores onde a Igreja em Portugal e o catolicismo português tiveram significado, atitude e risco”, sustenta o patriarca de Lisboa.
D. Manuel Clemente considera que o arcebispo emérito de Braga tinha uma memória muito “viva, participativa e comunicativa” da Igreja e da sociedade, que ajudava a “integrar os acontecimentos” e a “perspetivar as coisas”, antes e depois de 1974.
O presidente da CEP referiu que o “gosto da convivência, da conversa lúcida, brilhante e argumentativa” mostra que D. Eurico Dias Nogueira manteve ao longo da vida o “espírito coimbrão”, no “melhor sentido do termo”, dos anos em que esteve na Universidade e no clero de Coimbra.
“Mantinha essa vivacidade. Quem conhece o que era esse espírito coimbrão nas décadas centrais do século passado revia-se muito no senhor D. Eurico”, considera D. Manuel Clemente.
O presidente da CEP lembra que o arcebispo emérito de Braga era uma presença que a comunicação também “gostava de rondar”, uma vezes “para picar”, outras vezes “para acolher”, a confirmar o “seu espírito muito vivo”.
D. Eurico Dias Nogueira nasceu a 6 de março de 1923 em Dornelas do Zêzere, Concelho de Pampilhosa da Serra e Diocese de Coimbra.
Foi ordenado padre a 22 de dezembro de 1945 e no final do mesmo mês passou a frequentar o Colégio Pontifício Português, em Roma; em 1948 reiniciou a atividade docente e pastoral em Coimbra e dez anos depois tornou-se membro do Cabido da Sé.
A 10 de julho de 1964 o Papa Paulo VI nomeou-o bispo de Vila Cabral, atual Lichinga, em Moçambique, e a partir de setembro participou na terceira sessão do Concílio Vaticano II, assembleia que decorreu de 1962 a 1965.
Recebeu a ordenação episcopal no dia 6 de dezembro de 1964 e em 1972 foi transferido para Sá da Bandeira, hoje Lubango, em Angola.
D. Eurico Dias Nogueira pediu a resignação da diocese angolana, aceite por Paulo VI a 3 de fevereiro de 1977, e a 5 de novembro do mesmo ano o Papa nomeou-o arcebispo de Braga, missão que manteria até 1999.
O até agora arcebispo emérito de Braga faleceu esta segunda-feira, aos 91 anos de idade, após “internamento súbito no hospital”, informou a página da internet da Arquidiocese de Braga, realizando-se o funeral hoje, quarta-feira a partir das 15h30.