D. Armando Esteves Domingues retomou esta sexta-feira a visita pastoral à ilha Graciosa, e começou com uma eucaristia no Lar da Santa casa da Misericórdia da Vila da Praia
Não haveria outra maneira melhor de recomeçar a visita pastoral à Graciosa: D. Armando Esteves Domingues chegou de manhã à ilha, com quase 24 horas de atraso devido ao cancelamento do voo por causa do mau tempo que o reteve na ilha Terceira, e celebrou de imediato com os idosos do lar da Santa Casa da Misericórdia da Vila da Praia.
À porta da Misericórdia estava, para além da Mesa da Irmandade desta instituição, que já conta com mais de 400 anos (terá sido edificada entre 1600 e 1630) , o padre Norberto Pacheco, natural da freguesia de Guadalupe, que depois de ter estado 19 anos em casa, serviu mais de 20 na Ribeira Grande, onde se tornou uma referência. Regressou à Graciosa há nove anos e vive no lar da Misericórdia. Não escondeu a emoção pela visita, expressa num abraço prolongado ao bispo de Angra, que aproveitou a liturgia do dia para insistir na ideia de que a família não se pode demitir do cuidado dos seus mais velhos.
“As misericórdias são importantes, essenciais, mas não podem substituir a família; esta tem de estar sempre presente” disse D. Armando Esteves Domingues, pela segunda vez nesta visita pastoral, que começou no passado dia 14 e foi interrompida durante três dias por causa da formação do clero.
“É preciso que a família com os seus meios e as suas diferenças não abandone ninguém. É preciso que eduquemos para o amor da família, pois só ela é a verdadeira reserva de amor onde se nasce e onde se morre”, prosseguiu pedindo aos funcionários “que trabalhem com este amor na sua ausência”.
“ Não nos desculpemos com a sociedade. Que haja mais família nas nossas sociedades”, enfatizou recuperando a ideia de um diálogo intergeracional mais forte, sobretudo numa ilha pequena onde “todos contam” e todos “estão presentes em tantas atividades”.
“A assistência e o acompanhamento dos idosos é também uma atividade onde devemos envolver os jovens” disse ainda, pedindo aos participantes na eucaristia- utentes do lar e centro de convívio- que rezem pelos mais novos.
“Estamos numa misericórdia” recordou D. Armando Esteves Domingues e é bom que “não percamos uma visão social para não deixar para trás ninguém”.
“É o cuidado que nos faz grandes e é esta atenção aos mais pequenos, aos mais necessitados e aos mais frágeis que permanece e é valorizada por Deus” porque “é a marca do Seu amor”.
“O que é feito com amor nunca morre”, concluiu o prelado numa celebração muito participada e vivida com a alegria de viver como se cantava no refrão do cântico final: “Somos a experiência das futuras gerações| todos acreditam no nosso saber | somos as pessoas já cansadas de lutar| mas não cansadas de viver”.
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A Santa Casa da Misericórdia da Praia é uma das duas misericórdias da ilha. Tem um lar residencial , faz Apoio Domiciliário, e tem um Centro de Convívio e o Centro de Atividades e Tempos Livres, destinado aos mais novos. O lar tem atualmente 50 utentes e, na sua maioria, ainda têm uma relativa autonomia, embora também haja doentes acamados. A utente mais velha faz 99 anos em abril próximo. Tem 34 funcionários.
A freguesia de São Mateus , conhecida como Vila da Praia, onde se situa esta misericórdia, é uma das quatro existentes na Graciosa e é uma das zonas balneares da ilha, tendo sido no passado a antiga vila sede de concelho.
Foi elevada à categoria de vila por Carta Régia de João III de Portugal, emitida em Almeirim no dia 1 de Abril de 1546. Com uma área de 12,82 km², a freguesia tem vindo a registar uma perda populacional ano após ano, especialmente acentuada na última década. Entre 2011 e 2021, data do último censos perdeu 100 habitantes, com particular destaque para os jovens, como de resto sublinhou o presidente da Junta de Freguesia a quem D. Armando Esteves Domingues apresentou cumprimentos, como sempre procura fazer nestas visitas pastorais, partilhando ideias e formas de cooperação entre instituições que “devem zelar pelo bem comum”.
Historicamente, a Freguesia de São Mateus desenvolveu-se em torno do seu ancoradouro, que sempre ofereceu as melhores condições de operação. No século XX e até à década de 1970, a freguesia viveu um crescimento económico significativo, impulsionado pelo empreendedorismo local nas áreas da pesca, indústria conserveira, fabrico de telhas e agricultura.
Atualmente a freguesia tem um projeto destinado sobretudo aos mais idosos, intitulado “Ajudas técnicas”, que consiste na cedência temporária de camas articuladas e um sistema de alarme para os idosos que permanecem em casa por não haver resposta social para os acolher.
Ao final do dia, o bispo de Angra irá crismar 10 jovens na Luz, outra das freguesias desta ilha. Aliás, todos os dias desta visita pastoral têm sido pontuados por esta celebração em cada uma das comunidades.
“É a forma do bispo estar com todos” referiu numa entrevista ao sítio Igreja Açores o ouvidor, padre Ruben Pacheco, que organiza pela primeira vez uma visita pastoral.
“Para mim é também uma novidade, mas o povo de Deus nesta ilha está muito contente por acolher o nosso bispo”.
Este sábado, entre outros pontos da visita, está uma ccaminhada com os escuteiros dos dois agrupamentos da ilha: Santa Cruz e Guadalupe. De resto o CNE é o principal dinamizador de inspiração cristã das atividades com jovens na ilha, que se repartem nas diferentes atividades desportivas, recreativas e culturais.