Padre Jesuíta Paulo Duarte orientou formação sobre “Ser casal, ser corpo em caminho de esperança”, que decorreu na Lagoa
Realizou-se este fim-de-semana na Lagoa o retiro anual das Equipas de Nossa Senhora do sector Açores Oriental, que reuniu 10 casais de cinco equipas das 12 que estão ativas na ilha, duas delas ainda em fase de arranque e, por isso, designadas como equipas em pilotagem.
“Este é um momento muito importante na vida das equipas que tem a ver com a paragem e com a reflexão de um tema muito importante para nós equipas e para nós em casal, valorizando sobretudo os dons que temos, sem deixar de reconhecer as nossas fragilidades num processo de autorreconhecimento” afirma Manuel Francisco Sousa, do casal responsável pela equipa de sector.
“O que vivemos aqui sexta e sábado foi uma proposta diferente que nos abriu uma oportunidade para refletirmos como casal cristão num caminho, mas também como corpo de uma comunidade, sempre a partir desta ideia de corpo, que é física mas é também social”, acrescentou Silvia Sousa do casal responsável pela equipa do sector oriental, que engloba as ilhas de São Miguel e Santa Maria.
O retiro começou na sexta-feira à noite com a apresentação do tema- “Ser casal, ser corpo em caminho de esperança”- e durante o dia de sábado foi seguida uma metodologia que procurou dar informação sobre cada um dos temas a abordar, seguida de um momento de silêncio, depois partilha, primeiro em casal e depois em plenário, com o grupo.
“Hoje, diante de tantos ruídos e de tanta informação precisamos muito de silêncio para que essa informação possa calar e habitar”, referiu ao sítio Igreja Açores o padre Paulo Duarte, da Companhia de Jesus.
“O objetivo destes encontros é informar, silenciar e partilhar”, refere lembrando esse “dever de sentar” que é uma das dinâmicas propostas aos casais pelo Movimento.
“A escuta é fundamental: a escuta de Deus no silêncio interior, a escuta do outro, membro do casal e a escuta alargada para que os horizontes também se alarguem” disse ainda o sacerdote.
“Hoje isso é o mais difícil, a escuta interior. Nós fazemos muito pouco silêncio, até para nós próprios, não é? Não testamos sequer se somos bons companheiros de nós próprios” adianta.
“Nós estamos a precisar muito de silêncio, só que também temos medo do silêncio, porque o silêncio muitas vezes leva-nos para os ruídos interiores que não são trabalhados e com os quais temos muita dificuldade em lidar” refere o sacerdote sublinhando que este medo, que muitas vezes é interior, passa também para o casal.
“Noto muitas vezes que enquanto casal, enquanto família, é difícil haver esse silêncio e isso é muito prejudicial. Porque quanto mais ruídos vamos acumulando, mais difícil depois será trabalhá-los”, adianta o padre Paulo Duarte.
“Se não fizermos silêncio e não tomarmos consciência, primeiro de quem somos individualmente e diante de Deus ; depois quem somos em casal e o casal diante de Deus, é muito difícil superar medos e obstáculos”.
“Todos nós somos criados à imagem e semelhança de Deus, mas todos nós que estamos diante do outro também nos vamos formando: como somos, como vivemos o sacramento do nosso matrimónio” são interpelações que devem ser colocadas, alerta ainda o sacerdote, que lembrou aos casais que se encontram unidos há 25 , 30 ou 50 anos que façam da festa não um motivo para celebrar o passado mas sobretudo o presente.
“O sacramento é para viver diariamente”, afirma.
Durante o retiro, o sacerdote procurou sobretudo falar de amor, não como um sentimento ou idealização mas como algo de concreto.
“Um casal que celebra o matrimónio é chamado a amar-se. Duas pessoas que se amam ou que se trabalham nesse amor, porque o amor precisa ser trabalhado, têm de viver o seu matrimónio como um caminho, um caminho que se vai construindo e que não é isento de obstáculos”, refere ainda, destacando, desde logo, a transformação que a vida, a idade, as circunstâncias vão obrigando cada um dos membros a fazer.
“Amar tem desafios. E pode significar sofrer” afirma.
“Quando celebramos o matrimónio dizemos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença… Isto não quer dizer que alguém deseje a tristeza ou a doença; se calhar todos queremos o reino dos céus plenamente, mas ainda não é. Saber lidar com a adversidade, a partir da luz ou da sombra, é um desafio e fazê-lo a partir da experiência de amor do coração de Jesus ainda é mais aliciante”.
“Tudo isto é muito exigente e implica trabalho pessoal, em casal e em casal diante de Deus”.
O sacerdote alerta ainda para questões como o cansaço, as idealizações, as distrações como elementos que podem afetar uma relação e que sucessiva e continuamente não resolvidas dificultarão o sucesso de uma relação. Situações que a sociedade atual estimula e até favorece através das redes sociais, onde não há lugar para vidas imperfeitas.
“É preciso estar atento a estas armadilhas”, alerta.
“Cada casal tem de viver e ser capaz de viver a sua história concreta social, cultural, financeira e até relacional. Se não o fizer será mais difícil”.
O padre Paulo Duarte alertou ainda para a questão do tempo, sobretudo quando hoje somos convidados ao imediatismo.
“No meio de uma dificuldade não devemos desistir nem fazer mudanças de fundo. Precisamos é de parar, de pensar. Se for necessário, até vamos pedir ajuda”, adianta.
“Quem se permite fazer esse caminho de amor naturalmente é testemunha para a sociedade de que o amor faz sentido. E de que nos podemos amar enquanto casal, e que esse amor pode abranger outros campos da sociedade”, diz ainda.
“O amor leva-nos sempre a tomar consciência do outro, isto é, impede-nos de nos auto centrarmos e, isso, em termos sociais é um verdadeiro antídoto contra a indiferença”, diz ainda ao salientar que hoje esta falta de “amor social” é um problema e uma das marcas de uma sociedade marcada pelo egoísmo.
“Se o casal vive a experiência e a força do amor no bom sentido do termo e não numa abstração, só uma coisa bonita pode acontecer”, conclui recordando que numa relação não deve haver “comparação, idealização, censura ou reprovação” mas sim “diálogo, silêncio, humildade e capacidade de aceitar o outro ainda que frágil”.
As Equipas de Nossa Senhora são um movimento de espiritualidade conjugal, fundado pelo padre Henri Caffarel, cujo processo de beatificação está a correr em Roma, para “ajudar os casais a caminhar na santidade”, anunciando ao mundo os valores do casamento cristão pela palavra e pelo testemunho de vida, assumindo-se como uma verdadeira escola de formação para casais cristãos unidos pelo sacramento do Matrimónio.
Está atualmente presente em 92 países dos vários continentes, integrando um total de 135 mil membros.
Apesar de não ser um movimento mariano, as ENS recebem o nome de Maria, colocando-se sob sua protecção.
As Equipas são constituídas por um número indicativo de 5 a 7 casais e um sacerdote, designado Conselheiro Espiritual. Reúnem-se mensalmente num encontro de oração, partilha e estudo de um tema de formação cristã, para se entreajudarem numa caminhada com Cristo.
Em São Miguel existem 12 equipas, com a perspetiva de, a partir de setembro, serem 14. Estas equipas são acompanhadas por seis conselheiros espirituais. No sector Açores Centro existem 26 equipas com 17 conselheiros espirituais.
Este ano as ENS completam o 60º aniversário de presença nos Açores.