O bispo de Lamego foi o pregador do segundo retiro do clero da diocese de angra, que se realizou esta semana na ilha Terceira
“A temática de um retiro tem sempre que ser um encontro com Deus e de Deus connosco. Não poderá nunca sair daí”. É assim que o bispo de Lamego inicia a conversa com o Sítio Igreja Açores numa entrevista que vai para o ar este domingo no programa de Rádio, a partir do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.
“O nosso encontro com Deus tem de ser mesmo um encontro, não com uma ideia de Deus, mas com Deus, com a pessoa de Deus” prossegue lembrando que “cingimo-nos naturalmente à Palavra de Deus e temos que ter em consideração sempre os nossos irmãos, isto é a Igreja, para podermos perceber melhor o que Deus quer de nós, para ouvirmos o que Ele tem para dizer hoje”.
E o que nos diz hoje?
“Há uma parte que ainda pede à Igreja os sacramentos, pede a assistência da Igreja, a presença da Igreja, sobretudo em momentos significativos da vida das pessoas, como é o nascimento, como é depois o batismo, como é uma altura festiva, como o matrimónio, as alturas mais importantes da vida. Mas, grande parte do nosso mundo hoje anda um bocadinho à deriva e pouca coisa pede à Igreja, se é que pede alguma coisa” prossegue D. António Couto ao referir que a evangelização hoje é muito “mais exigente”.
“É um trabalho que cada vez requer maior especificidade, mais atenção, mais pormenor, mais subtileza, porque a Igreja tem de fazer esse serviço, mesmo que às vezes o mundo fuja” diz lembrando que no passado já foi também assim.
“Neste momento penso que nós estamos a viver um momento particular nesse sentido da relação do mundo com a Igreja e temos que aperfeiçoar muito mais a nossa maneira de estar no mundo, não é só estar dentro das Igrejas e edifícios, mas é também estar onde estão as pessoas e comunicar com elas, dialogar com elas e levar Deus para o mundo, porque o grande ausente deste mundo, penso, pelo que vejo e pelo que analiso, o grande ausente deste mundo hoje é Deus” afirma o prelado diocesano de Lamego, pedindo aos leigos que se empenhem mais no anuncio.
“Hoje, verdadeiramente, são os leigos que devem ser lançados na evangelização, como fazia São Paulo”, afirma.
“São Paulo nunca foi sozinho, se fosse sozinho não chegava a lado nenhum, ele tinha muitos e bons cooperadores que ele preparava e que enviava. Nós temos de fazer a mesma coisa, temos de ter uma igreja com muita gente bem preparada, a começar pelos nossos principais cooperadores, agentes de pastoral que andam mais perto de nós, tipo catequistas, os nossos conselhos de pastoral e outros, outras pessoas, e que têm de começar a fazer essas atividades, e seguramente as pessoas ficarão felizes por fazerem esse trabalho pastoral”, afirma ainda.
“Penso que isso hoje é decisivo”, enfatiza destacando o papel dos carismas e dos ministérios dentro da Igreja.
“Por norma, analisamos a atividade da Igreja e, digamos, o número de pessoas que ainda vêm à Igreja, é por aí que nós analisamos tudo, e às vezes vemos uma Igreja cheia e ficamos todos contentes” mas “é preciso mais”.
“Temos de levar as pessoas para Deus, levar Deus às pessoas, isso sim é o nosso grande trabalho, a nossa grande tarefa, a única grande tarefa, diria”, lamentando que nem sempre se faz isso.
“Julgo que não estamos a fazer tudo: a evangelização está amortecida, não temos um ministério de evangelização, um ministério de visitação, para visitar as pessoas, bater-lhes à porta de vez em quando, ver o que é preciso, ver como estão, ver o que é que nós podemos fazer” refere o bispo de Lamego.
“Precisamos destes carismas, destes ministérios de proximidade, de evangelização, de visitação, de presença, de presença, porque nós não podemos estar mais só presos na sacristia e nas igrejas, temos que estar, de facto, onde estão as pessoas, temos que ir ao encontro delas”, afirma.
“A minha perceção é que estamos muito vinculados a coisas de teor social, metemos-nos um bocadinho para o mundo social, porque houve um tempo em que isso era necessário, hoje já não será tanto, hoje a maior necessidade que este mundo tem, vou repetir, é Deus, temos que levar Deus às pessoas e não sei se o estamos a fazer”.
A entrevista pode ser ouvida na íntegra este domingo no ´radio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, a partir do meio dia ou aqui em www.igrejaacores.pt/podcast .