Os dois ranchos da ilha- um masculino e outro feminino- já estão a fazer a preparação com base no jubileu da Esperança
No princípio estranhavam, agora já é tudo “mais normal”: à passagem dos ranchos de romeiros e de romeiras, as pessoas nas freguesias da ilha de São Jorge “já se abeiram para pedir orações” e o próximo passo é a “pernoita em casa de famílias” dos romeiros, garantem os dois mestres dos ranchos de Nossa Senhora do Rosário, que este ano, logo no início da Quaresma sairão para a estrada.
O primeiro a sair será o rancho feminino que cumprirá a sua quinta romaria entre 7 e 9 de março, no primeiro fim-de-semana da Quaresma. As cerca de 40 romeiras sairão da sua paróquia, no Topo, e terminam a romaria na paróquia de Nossa Senhora do Rosário nos Rosais.
“Fazemos a ilha por duas vezes” refere Sandy Ramos, catequista no Topo e mestre do rancho de Romeiras há cinco anos. Neste ano jubilar sairão mais 10 irmãs, quase todas elas jovens.
“O que as leva é a fé e terem momentos de oração. Este é sempre o propósito” refere elencando logo um conjunto de intenções.
“Todos os dias somos confrontados com tanta desgraça no mundo que é preciso mesmo rezar. As pessoas, se calhar, ainda não perceberam bem o poder da oração e poder da oração feita em conjunto” refere apelando mesmo “aqueles que não podem ir de romaria por questões de saúde ou outro motivo”.
“Se juntarem a oração deles à nossa será mais forte”, adianta.
Este ano as reflexões, uma vez por mês durante o ano e quinzenalmente quando se aproxima a data da romaria, são sobre a esperança.
“Quem é que não deseja um mundo melhor?” diz Sandy Ramos.
Esta preocupação é partilhada com o irmão mestre romeiro, que este ano assume a liderança do rancho masculino de Nossa Senhora do Rosário pela primeira vez.
“A minha única preocupação é que tudo corra bem não só do ponto de vista logístico, mas sobretudo espiritual” refere Carlos Brasil.
“Começamos a preparação espiritual, depois estudamos os regulamentos e, finalmente, ensaiamos entradas e saídas das igrejas e os cânticos” adianta.
Embora as inscrições só terminem a 10 de fevereiro, o rancho já conta com 25 irmãos, que sairão de 18 a 23 de março.
“Antes era mais estranho, agora as pessoas já estão mais familiarizadas com as romarias e já se aproximam de nós para pedirem orações por intenções particulares” adianta recordando que com esta maior familiaridade talvez se possa, a breve trecho, completar a romaria com as pernoitas em casa de famílias.
“Gostaríamos de dar este passo mas nem todas as paróquias ainda estão familiarizadas com esta dinâmica e por isso ainda não o podemos fazer”, refere.
As Romarias Quaresmais são uma peregrinação típica de São Miguel, com mais de 500 anos que agora se estendeu também a outras ilhas e até à diáspora açoriana, sobretudo no Canadá, onde existem dois ranchos masculinos.
Durante oito dias das 4h00 da manhã às 7h00 da noite, do nascer ao por do sol, grupos de homens percorrem a ilha de São Miguel, dormindo em casas de famílias e comendo do que lhes é dado.
È porventura uma das realidades da piedade popular com maior despojamento envolvendo comunidades inteiras, pois além dos homens que caminham, as famílias, os que os acolhem e as comunidades por onde passam juntam-se à sua oração.
Este movimento, profundamente mariano, tem um código de conduta próprio constante no regulamento das romarias que sendo válido para São Miguel também é seguido em São Jorge e na Terceira, onde este ano se completará a XIX Romaria.