O paradoxo do Natal

Por António Pedro Costa

Foto: Igreja Açores

O Natal, uma época de luzes cintilantes, encontros calorosos e celebrações familiares, carrega em si um paradoxo profundo que nos convida à reflexão: celebramos, no aconchego de nossos lares, Aquele que nasceu ao relento, numa manjedoura inóspita, sem um teto que O abrigasse. A simplicidade e a humildade do nascimento de Jesus contrastam com o conforto que muitas vezes marcam as nossas festividades, lembrando-nos da essência desta data – a compaixão, o amor e o estender a mão ao próximo.

Neste contexto, o espírito natalício manifesta-se de formas discretas e tocantes, como pequenas estrelas que iluminam a escuridão. São gestos simples, quase sempre anónimos, mas carregados de significado. Nos diversos cantos da cidade, constatei que há quem se dedique a partilhar com os sem-abrigo algo que transcende o material – uma refeição quente, um cobertor, um sorriso. Estes atos de bondade transformam-se em pontes entre aqueles que têm pouco e aqueles que têm ainda menos, aproximando corações, em nome de uma causa comum: a humanidade.

Há também quem dirija, nesta quadra festiva, os seus gestos solidários para os “retornados” que chegam cá, vindos compulsivamente do Canadá ou da América, sem familiares por perto e que são empurrados para anos de separação. Para muitos destes, as refeições natalícias são mais do que um banquete; são um símbolo de conforto, de memórias recuperadas e de uma tentativa de levar um pouco de solidariedade para com estes excluídos da vida pela sorte.

Em cada alimento oferecido e em cada mão estendida, vive-se o Natal em toda a sua plenitude, não apenas como uma festa, mas como um ato de comunhão, compaixão e humanidade.

Estes exemplos recordam-nos que o Natal é muito mais do que uma troca de presentes ou de celebrações festivas. É uma forma de empatia, de generosidade e de partilha. Nos pequenos gestos, muitas vezes invisíveis aos olhos do mundo, encontram-se o verdadeiro espírito natalício, vivido com toda a sua grandeza.

Assim como o Menino Jesus, que veio ao mundo de forma humilde para nos ensinar o amor incondicional, somos convidados a acolher nos nossos corações aqueles que mais necessitam, transformando cada ação concreta neste Natal, numa prova viva de solidariedade.

Que neste Natal possamos inspirar-nos nestes gestos anónimos e significativos, que nos tocam profundamente no coração, tornando as nossas celebrações num reflexo do amor que transformou uma simples manjedoura no marco da maior mensagem de esperança e paz que o mundo já conheceu.

Feliz Natal.

António Pedro Costa

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