Por António Pedro Costa
O primeiro sopro do frio em dezembro traz com ele um perfume inconfundível: o cheiro do Natal. Misturam-se na brisa os aromas de cedro fresco, do forno exalando bolos e das guloseimas típicas da época. As ruas das vilas e cidades, em cada uma das nossas ilhas, ganham vida com as decorações luminosas que piscam em sincronia com os sorrisos das pessoas. Parece que, de repente, todos carregam no rosto um reflexo da esperança.
Nas lojas e nas grandes superfícies comerciais, instala-se a azáfama. O ritual de escolher as prendas é um dos mais esperados e, ao mesmo tempo, desafiadores. Entre prateleiras abarrotadas, busca-se algo que traduza carinho, lembrança e, talvez, até mesmo surpresa. Há quem planeie com meses de antecedência e quem deixe tudo para a última hora, enfrentando filas intermináveis. Seja como for, o essencial não está no valor do presente, mas na intenção, naquele sorriso que se espera ver quando o papel colorido é rasgado.
Na sala de estar, a construção do presépio é um momento de reunião. Mesmo os pequenos detalhes ganham vida, em que o musgo é recolhido com cuidado, vai-se procurar a areia fina para os caminhos e as casinhas dispostas como numa pequena freguesia encantada. Ali, todos têm seu lugar. O presépio está armado, e os avós e os netos rendem-se ao resultado mágico do estábulo, como símbolo central.
Estão primeiro os pastores que chegam primeiro, representando os humildes. De chapéus desajeitados e cajados na mão, lembram-nos que o milagre do Natal é para todos. Deixam os presentes junto à gruta, onde os esperam o Menino Jesus, Maria e José, acompanhados da vaca e do burrinho. Logo atrás, vão os Reis Magos, figuras imponentes com trajes régios e presentes preciosos: ouro, incenso e mirra. Eles carregam o simbolismo da esperança que não conhece fronteiras nem distinção.
Quando, finalmente, chega a noite da consoada, há algo fascinante no ar. O mundo parece suspender por algumas horas os problemas e as diferenças. A família junta-se ao redor da mesa, onde brilham as velas e se exibe o peru ou bacalhau, que se tornou moda neste torrão insular. Trocam-se risadas, memórias e abraços. E no meio de tudo isso, o presépio recorda: no Natal, mais do que prendas ou ceias, celebramos a simplicidade do amor que se renova.
O Natal é muito mais do que uma celebração repleta de presentes, luzes e festas; é uma oportunidade de renovarmos os laços de humanidade e empatia. É um momento em que somos chamados a olhar para além das nossas próprias necessidades e reconhecer o valor do outro, especialmente daqueles que enfrentam fragilidades e desafios nas suas vidas.
Solidariedade, no contexto natalício, significa compartilhar não apenas o que temos, mas também o que somos, a nossa atenção, a nossa escuta e nosso tempo. Trata-se de um gesto de amor que transcende interesses pessoais e que busca aliviar as dores e as dificuldades do próximo, criando uma corrente de esperança e acolhimento.
Ao estendermos a mão aos mais frágeis da comunidade, seja oferecendo alimentos, conforto emocional ou simplesmente uma presença calorosa, damos vida ao verdadeiro espírito do Natal, ou seja, a celebração de um amor que se doa sem reservas. Assim, aprendemos que a maior alegria desta época não reside no que recebemos, mas no que podemos dar.
Que a solidariedade intensamente vivida pelo Natal inspire motivações que perdurem para além de dezembro, transformando os nossos lares em lugares de maior compreensão, justiça e fraternidade.