Ilha está preparada para acolher e celebrar com D. Armando Esteves Domingues, procurando refletir eclesialmente os desafios futuros desta Igreja particular
A dispersão geográfica, numa ilha muito acidentada e cada vez menos povoada, pode ser uma oportunidade para que as comunidades jorgenses sintam uma interpelação imediata para pensar novas formas de organização e de ser Igreja num território que nem sempre facilita a proximidade.
É com esta certeza que os cristãos da ilha vão receber a Visita Pastoral de D. Armando Esteves Domingues, que se inicia a 7 de dezembro e termina no dia 15, com uma visita a todas as comunidades da ilha.
É a segunda Visita Pastoral no episcopado do atual bispo de Angra, que procura seguir um modelo de proximidade às comunidades, ao celebrar com elas, mas sobretudo, “procurando ir ao seu encontro para estar com elas, com tempo” como reconheceu na Carta ao Povo de Deus, dirigida a todos os diocesanos, em especial aos que residem nas Flores, São Jorge, Graciosa e Santa Maria, os quatro primeiros destinos do prelado.
A ilha tem apenas uma ouvidoria, resultado da união das antigas ouvidorias de Velas, Calheta e Topo nos anos 70 do século passado. Dela fazem parte 13 paróquias, 7 curatos, mais 75 centros de culto e o Santuário Diocesano do Senhor Santo Cristo da Caldeira, criado, em 27 de Abril de 1996, por D. Aurélio Granada Escudeiro. Cada paróquia conta ainda com um número considerável de ermidas.
A ilha tem 53 km de comprimento e 8 km de largura, sendo a sua área total de 237,59 km², e tem uma população de 8465 habitantes, sendo as duas sedes concelhias – Velas e Calheta – as mais povoadas, respetivamente.
A grande particularidade geográfica desta ilha são as Fajãs, quase todas habitadas mas de acesso difícil. Na costa Norte, destacam-se as Fajã do Ouvidor, Fajã da Caldeira de Cima, Fajã da Ribeira da Areia, Fajã dos Cubres e Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Na costa Sul, as mais importantes são a Fajã dos Vimes, Fajã de São João e a Fajã das Almas.
A ilha viveu uma grande crise sísmica em plena pandemia, embora tenha sido no século XVIII o maior terramoto, que causou cerca de 1.000 mortos, 125 dos quais na Vila do Topo, sendo seguido de tsunami de fraca intensidade.
O histórico isolamento da ilha só começou a ser rompido no século XX, com as obras dos seus dois principais portos: o Porto de Velas e o Porto da Calheta, a que se somou a construção do Aeródromo de São Jorge, inaugurado em 23 de Abril de 1983. Isso permitiu que a ilha se tivesse aberto a novos horizontes de desenvolvimento e progresso com o aproveitamento dos seus recursos naturais, a expansão da pecuária e pesca, o fabrico do famoso queijo da Ilha de São Jorge e o turismo. O sismo de 1998, que afetou as ilhas do faial, Pico e São Jorge, provocou apenas danos materiais.
Atualmente a maior atividade produtiva é sem dúvida a que está ligada à exploração agropecuária que se traduz na criação de bovinos para a produção de carne e de leite, este último entregue nas Cooperativas, sendo transformado no queijo de São Jorge, que é detentor de Denominação de Origem Protegida. Além das atividades ligadas à agricultura, uma parte substancial da população está ligada aos serviços e ao turismo, sector emergente na ilha, que certamente será um setor preponderante no tecido económico.
A iniciativa privada vai ganhando cada vez mais espaço, mas há uma grande falha de mão de obra na ilha. Há falta de trabalhadores no setor terciário, principalmente na construção civil, nas pescas, operários fabris (queijo e conservas de atum) e na agropecuária.
A ilha tem três escolas: a da Calheta e Velas, que leccionam do 1ºao 12 º ano; Topo do 1º ao 9º ano, com 283, 514 e 86 alunos, respetivamente. A disciplina de EMRC é lecionada nas três escolas da ilha e a taxa de inscrição na disciplina “é muito boa”, entre os 80 e os 90%, procurando-se agora que esta tarefa seja entregue aos leigos, libertando os sacerdotes para outras tarefas mais de acordo com o seu ministério. Atualmente prestam serviço na ilha cinco sacerdotes.
A ilha de S. Jorge mantém uma religiosidade bastante forte e que molda a sua fisionomia social, comunitária e económica, como em todas as ilhas, com uma grande devoção à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, mas a prática religiosa andará entre os 15 e 30%.
Nas zonas mais urbanas, Velas e Calheta, a prática é manifestamente mais baixa, nas zonas rurais poderá chegar aos 30%, sendo a zona do “Topo a mais tradicional, fechada e participativa”
“Há que reconhecer o avanço do secularismo em toda a ilha, embora a ritmos diferentes. Para isso contribui os meios de comunicação social, as redes sociais, os imigrantes que chegam à ilha e os estudantes universitários que tomam contacto com realidades altamente secularizadas. Para além do secularismo somam-se também a indiferença e o relativismo que resultam numa prática ocasional e sem compromisso” como fica claro das declarações feitas pelo ouvidor ao sítio Igreja Açores, numa entrevista que vai para o ar este domingo, dia 1 de dezembro, depois do meio-dia.
“Trata-se de uma ilha cheia de tradições, na sua maioria ligadas ao calendário religioso, onde se destacam as festas em honra do Divino Espírito Santo” salienta ainda.
Para além das festas em honra da Terceira Pessoa da Trindade, existem também inúmeras festas ligadas aos titulares das igrejas e ermidas que marcam a alma religiosa de S. Jorge. Estas festas congregam as pessoas ao longo de todo o ano.
Nos últimos dois anos, a Igreja Jorgense tem sido notícia por variadas vezes por causa da reorganização que está a implementar procurando responder aos desafios da desertificação e falta de sacerdotes.
Os serviços têm sido organizados ao nível da ouvidoria, nomeadamente a Catequese, a pastoral juvenil e a pastoral familiar, cuja coordenação é repartida entre sacerdotes e leigos, com os primeiros a assumirem o acompanhamento espiritual das equipas. A pastoral da ouvidoria está organizada a dois níveis: paroquial e de ilha.
A pastoral litúrgica e vocacional começa também a ter uma nova dinâmica seguindo a mesma lógica, com um acento tónico na formação.
“Tem sido esta a ideia: responsabilizar todos, a partir de uma formação estruturada, capacitando as pessoas para assumirem a sua responsabilidade na missão que é a do anúncio de Cristo vivo no meio do mundo, caso contrário andaremos a combater moinhos de vento, numa manutenção estéril, que não leva a nada” afirmou ainda o ouvidor na entrevista ao Sítio Igreja Açores.
Apenas restam na ilha movimentos como o Movimento da mensagem de Fátima ou o Apostolado de Oração. De criação recente existem ainda os Ranchos de Romeiros, masculino e feminino, de Nossa Senhora do Rosário do Topo. Estão em crescimento e consolidação. Fazem a formação necessária e mantém atividade para além da Romaria.
A ouvidoria conta ainda com a presença de uma comunidade religiosa das Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus, sediada em S. Rosa na paróquia de S. Antão. Tem 3 religiosas que se dedicam ao ensino no Centro Social e Paroquial de Santo Antão, catequese e visita aos doentes.
O pólo de espiritualidade da ilha, ou o “seu pulmão” como se diz em São Jorge é o Santuário do Senhor santo Cristo da Caldeira.