29ª Semana Bíblica de São Miguel reflete sobre o discipulado no Novo testamento e as ressonâncias nas comunidades de hoje

Padre Francisco Ruivo, biblista, volta a ser o orado da Semana que abordará os quatro evangelhos e algumas cartas de São Paulo

Arrancou esta noite na Salga, ouvidoria do Nordeste, ilha de São Miguel, a 29ª Semana Bíblica de São Miguel que, até quinta-feira, aprofundará o ensinamento de Jesus sobre o discipulado.

“Vamos percorrer de novo os Evangelhos e algumas cartas de  São Paulo, para percebermos como cada um, em cada tempo e diante da sua comunidade concreta,  pode ser discípulo” já que  “os evangelhos e as cartas de São Paulo vão apresentando aspectos específicos do discipulado” refere o padre Francisco Ruivo, biblista da diocese de Santarém.

“Temos feito um percurso nestes últimos anos sobre cada um dos livros do Novo Testamento: as estruturas o pensamento de cada autor, as envolvências, as mensagens, as cartas e este ano foi pedido que me debruçasse sobre o discipulado, um tema central no Novo Testamento e que nos convoca a refletir sobre o que é ser discípulo hoje”, esclarece ainda o sacerdote ao salientar que o modelo de discipulado é claro.

“Há duas ideias essenciais: estar com Jesus, fazer a experiência de Jesus e aprender de Jesus e fazemos isso através da escuta e da reflexão da Palavra. E,  essa palavra, deve produzir em nós uma adesão à pessoa de Jesus que nos impele a segui-Lo”, acrescenta o sacerdote que tem orientado estas semanas bíblicas .

“Aprendemos de Jesus tal como o grupo dos 12 aprendeu; Ele chamou-os e depois enviou-os. É isso que se pretende: que possamos conhecer o seu estilo, para depois sermos enviados”, refere ainda o sacerdote da diocese de Santarém, que já percorreu todas as ouvidorias de São Miguel.

“Nós podemos ser muito fortes na doutrina mas não sermos discípulos e o que Jesus nos pede, desde o princípio, é o discipulado. Qualquer doutrina se não se converter em experiência e vivência terá pouco valor”, conclui o sacerdote.

“A nossa esperança chama-nos a sermos homens e mulheres de fé, com muita esperança, e pessoas com esperança têm que ser discípulos” salienta por sua vez o ouvidor da Ribeira Grande, padre Vítor Medeiros, que é o assistente do Secretariado Bíblico de São Miguel.

“Regressar à origem faz-nos bem porque vemos uma igreja entusiasmada e apaixonada por Cristo. O que era feito pelos primeiros discípulos é aquilo que a Igreja nos pede hoje: uma igreja em saída que vai ao encontro de todos, nas suas circunstâncias, uma igreja que encontra as pessoas e possa ver as vicissitudes de todos  os ambientes e aí dar a sua experiência de amor e de contacto apaixonado com Jesus”, adianta o sacerdote.

Os grupos bíblicos na ilha são cada vez mais reduzidos, mantendo-se ativos apenas quatro: em Rabo de Peixe, na Ribeira Grande; na Ribeira Quente, na Povoação; em São Pedro e Covoada, em Ponta Delgada.

“Nós não somos uma igreja fora do tempo ou da sociedade em que vivemos e somos chamados a interpretar os sinais dos tempos para a partir deles anunciarmos o Evangelho” começou por dizer o padre Vítor Medeiros no arranque desta Semana Bíblica que tem por objetivo “fortalecer o conhecimento de Jesus” para melhor “o poder imitar”.

As narrativas que vão ser abordadas- os quatros evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João e algumas Cartas de São Paulo- oferecem as principais informações e descrições da vida do discípulo, nomeadamente o que significa seguir Jesus.

No primeiro dia foi refletido o Evangelho de Marcos, o mais antigo e que mostra a dependência dos discípulos do seu Mestre, a importância da sua relação com Ele e da sua permanência com Ele. A ideia da relação com o mestre é, porventura, a mais importante.

Já Mateus realça três elementos fundamentais para o discipulado: a comunhão de vida com Jesus, os ensinamentos de Jesus (o discipulado em sentido estrito) e o conforto que deriva da comunhão com Ele.

Em Lucas, o traço mais claro é a decisão de escrever a continuação do evento de Jesus nos Atos dos Apóstolos, isto é, a continuidade entre a situação de Jesus e a situação de seus seguidores, a ideia de testemunho, as diferenças entre apóstolos e seguidores posteriores, a missão de anunciar o Evangelho como prioritária para todo discípulo.

Finalmente, em João, o discipulado é apresentado com algumas novidades: fé, testemunho, amor, serviço, amizade, Espírito, comunhão. E, ao longo do Evangelho vemos a importância do amor como a moldura de todas as ações: o Amor a Jesus e amor recíproco que se mostra no serviço e isso é o traço distintivo do discípulo.

 

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