Projeto passou a programa e hoje distribui mensalmente várias toneladas de alimentos em Ponta Delgada
Cerca de 50 voluntários participam diariamente nas ações do projecto `Zero Desperdício´ que, na ilha de São Miguel, é gerido pela Associação Séniores de São Miguel, e dá apoio diário com uma refeição completa a 70 famílias e duas refeições ligeiras- pequeno almoço e lanche- a 25 utentes de uma residência para sem abrigo. Acresce a este serviço diário, uma vez por semana, a distribuição de alimentos para mais seis Centros de Convívio/Dia nas freguesias de Mosteiros, Várzea, livramento, São Sebastião, Santa Clara e Lajedo, no concelho de Ponta Delgada. O projeto apoia, ainda 80 pessoas em situação de sem abrigo, através da Associação Novo Dia uma vez por semana e, ao sábado, é responsável pela distribuição de 50 refeições na Casa dos Manaias.
“Deixámos de ser um projeto e passamos a ser um programa e isso implicou muitas mais tarefas que só são possíveis devido à enorme consciência social quer dos nossos doadores- 24- quer dos nossos voluntários( cerca de 50)” refere Leonor Anahory, presidente da direção da Associação Séniores de São Miguel que gere o programa nos Açores.
A Autarquia de Ponta Delgada foi a primeira dos Açores a fazer parte do projeto nacional “Zero Desperdício”, da Associação DareAcordar, que prevê a recolha dos excedentes alimentares na restauração e unidades hoteleiras do Concelho, os quais são distribuídos por pessoas e/ou agregados familiares com graves carências económico-sociais.
“Crescemos muito e contamos com a ajuda de muitos” afirma Leonor Anahory, presidente da direção da Associação Séniores de São Miguel.
“A nossa resposta é hoje muito mais alargada do que a que foi inicialmente em 2015 quando nos tornámos parceiros da associação nacional DareAcordar” diz a responsável.
Atualmente o programa gere produtos alimentares confecionados mas também produtos não confecionados, como carne, peixe e sobretudo pastelaria.
“So no mês de setembro tratamos de distribuir oito toneladas de alimentos”, refere.
O programa conta com uma equipa de três motoristas que garante a recolha e a distribuição e três voluntários “a tempo inteiro” que diariamente acompanham e supervisionam toda a logística das equipas de voluntários seja na separação seja na distribuição dos alimentos a pessoas vulneráveis.
Hoje assinala-se o dia mundial dos pobres. Segundo as últimas estatísticas regionais um em cada três açorianos é pobre; na sua maioria os recebedores do Rendimento Social de Inserção nos Açores trabalha e recebe a prestação social como complemento ao rendimento mensal que é insuficiente para cobrir as despesas.
A presidente da Cáritas da ilha Terceira, Maria do Natal Sousa, alerta para o aparecimento de um novo grupo de pobres.
“Temos novos desafios com pessoas que tinham a sua vida equilibrada e, de repente, por uma situação de saúde ou situação financeira não conseguem superar dificuldades e mesmo sendo trabalhadores e tendo alguns rendimentos, não conseguem fazer face às suas despesas”, disse Maria do Natal Sousa, numa entrevista no âmbito do Dia Mundial dos Pobres 2024, ao programa de rádio ‘Igreja Açores’, da Diocese de Angra.
“Temos aqui uma nova franja de pobres e isso preocupa-nos e é um desafio da nossa intervenção diária”, acrescentou a presidente da Cáritas da ilha Terceira, nestas funções há um ano.
Segundo Maria do Natal Sousa, a instituição católica está “perto dos pobres e daqueles que com eles trabalham”, porque cooperam “com todos”, uma “ação bastante intensa” com desafios permanentes, mesmo que a ação da Cáritas seja cada vez mais preventiva, aposta na educação e capacitação de pessoas vulneráveis, com uma atenção especial a crianças e jovens em risco.
Entretanto, hoje, neste Dia Mundial dos Pobres, a presidente da Cáritas Portuguesa afirmaque a resposta à pobreza e ao aumento de pessoas em “situação de fragilidade” passa pela proximidade e pela centralidade do ser humano, em vez dos números.
“Acredito na proximidade, é por isso que acredito na ação da Cáritas, portanto, acredito que os municípios também poderão e terão obrigações de fazer mais próximo, de uma maneira diferente, porque a pobreza não é igual em todos os territórios, não me canso de dizer isto”, refere a convidada entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, no VIII Dia Mundial dos Pobres, que a Igreja Católica celebra hoje por iniciativa do Papa.
Para esta responsável, a proximidade ajuda a “convocar e exigir as medidas” para responder à pobreza e exclusão social.
“O Estado não conhece a pobreza em Portugal. Quem conhece a pobreza em Portugal é quem está próximo”, sustenta, questionando “uma leitura de números e não de pessoas”.
Num olhar sobre as últimas décadas, Rita Valadas afirma que o país “não tem conseguido resolver o problema da pobreza” e se têm somado “novos pobres, novas situações”.
“A resiliência da pobreza é um forte obstáculo à resolução dos seus problemas”, alerta.
A entrevistada, pela Agência Ecclesia e pela Rádio renascença, elogia a “cultura da Cáritas”, que procura ir ao encontro dos “problemas” concretos das pessoas.
“Nós queremos mesmo é conhecer para cuidar, não é conhecer para agredir”, assume.
Rita Valadas assume preocupação com os problemas da habitação e, em particular, das crianças.
“Se já é difícil pensar que existem 10 pessoas a viver num quarto, como é que conseguimos pensar em duas famílias viver no mesmo quarto? Por isso digo que não é só um número, é a tipologia que se junta a este número”, precisa.
A responsável assinala que, ao problema da habitação, se junta “um conjunto de medos”, sobretudo por parte da população mais excluída, que vive “em situação de sobreocupação, escondida”.
A responsável indica que o país vive com “grandes problemas sociais” e que as pessoas “começam a ficar exaustas”.
“Não há discussão em relação à situação dos pobres. Não é discutível, é evidente: nós sabemos onde estão, quem são”, acrescenta.
Neste Dia Mundial dos Pobres, a Rede Nacional da Cáritas lança a sua campanha de Natal ‘10 milhões de estrelas – um gesto pela paz’, que a presidente da organização apresenta como uma “chamada de atenção”.
“Cada um de nós pode ser uma estrela na vida de alguém”, indica.
A Cáritas convida os portugueses a participar nesta iniciativa, através da compra de uma “vela estrela” de cor branca ou vermelha, disponível pelo custo 2 euros.
Dos valores arrecadados, 65% destinam-se a financiar “ações de impacto social” em Portugal, enquanto os restantes 35% suportam o Fundo Lusófono ‘Laudato Si’, que financia projetos de ecologia integral nos países de língua oficial portuguesa.
No Açores a campanha inicia-se no último fim de semana de novembro.
(Com Ecclesia)