D. Armando Esteves Domingues foi o último orador dos VI Encontros de Reflexão promovidos pela ouvidoria da Praia com o tema “Feliz daquele que cuida do pobre”
A reflexão do bispo de Angra centrou-se na narrativa da multiplicação dos pães e a forma como Jesus encarou a fome daquela multidão.
“Quem não gostaria de ter um Cristo à mão?” interpelou o prelado na alocução que fez no último dia dos VI Encontros de Reflexão da Ouvidoria da Praia, que decorreram no Centro Paroquial das Fontinhas, na ilha Terceira, com o tema “Feliz daquele que cuida do pobre”, onde refletiu sobre o modo de agir de Jesus que ultrapassou o saciar de uma fome física.
“Às vezes vemos as necessidades mas não vemos as pessoas. E o que Jesus faz é diferente: ensinou-os, começou a ensinar-lhes muitas coisas como diz o relato do Evangelho (Mc 8 e Mt 15), e saciou-os pela Palavra” afirmou D. Armando Esteves Domingues.
“Quando olhamos para um pobre temos de o ver para além das suas necessidades físicas, temos de olhar para ele olhos nos olhos e ver a pessoa”, afirmou o prelado.
“No relato da multiplicação dos pães o pouco valeu muito; a cena do matar a fome é muito semelhante à Eucaristia. Aliás, a multiplicação dos pães é a Eucaristia: chega para todos e sobra” referiu afirmando que “assim como não pode existir uma comunidade cristã sem Eucaristia também não pode existir uma comunidade cristã sem caridade, sem a partilha com o outro”.
“Uma comunidade que celebra a Eucaristia mas depois não exercita a caridade que olha as pessoas nos olhos, como Jesus faz, com amor de Cristo, e descobre aí os pobres, não é uma comunidade eucarística” sublinhou o bispo de Angra.
“Podem ter devoção pela Eucaristia mas não têm devoção pelo Corpo de Cristo, porque não olham por aqueles irmãos onde Cristo está” enfatizou.
“ A caridade não é só a mão que dá e a que recebe; é todo o envolvimento. Quando comungamos do Corpo de Cristo, a quantas pessoas somos capazes de dar de comer?” voltou a interpelar o prelado.
“Na caridade cristã não gosto de ver escalas de valor sobre o amor: ou é amor ou não é. O amor é sempre amor de Deus se for amor fundado no amor de Jesus aos pobres” disse ainda ressalvando que Jesus antes de matar a fome vive um momento de silêncio que faz ver a fome.
“É este amor que temos de aprender”, disse.
“A caridade, o amor cristão, é uma dimensão constitutiva da Igreja faz parte da vida cristã e se não fizer parte da vida não é completa. Cada comunidade tem que cuidar dos seus pobres; as soluções organizadas vêm depois na missão concreta”, disse ainda.
“ O que entra no céu é o Amor, é a Caridade. A fé e a esperança passarão. A Caridade (Amor) permanecerá, pois Deus é Amor”, referiu.
Neste terceiro e último dia dos Encontros de Reflexão da ouvidoria da Praia, as intervenções começaram com as “Respostas da Ação Social da Igreja”, tomando a palavra Rosa Pires, técnica da Cáritas da Ilha Terceira, que falou nos fundamentos da Ação Social da Igreja, numa Igreja que se exprime numa tríplice dimensão: Anúncio do Evangelho, Liturgia (celebração) e Caridade (serviço).
A Cáritas é “aquele que acompanha”, o que “se faz próximo”, à maneira do Bom Samaritano. Deu como exemplos da intervenção Social da Cáritas da Ilha Terceira o atendimento social, a animação de rua, o desenvolvimento e inclusão juvenil, o trabalho desenvolvido no jardim de infância, e o acompanhamento a presidiários(as), como sendo a expressão visível do trabalho da instituição.
Alice Matos, das Conferências Vicentinas, falou do carisma do movimento vicentino como um braço da Igreja que procura estar ao serviço dos pobres, promovendo a solidariedade entre as pessoas.
A ilha Terceira tem 12 Conferências Vicentinas ativas que no terreno procuram, através da proximidade com os pobres, soluções concretas e individuais para cada caso, cada família, promovendo a esperança e a dignidade humana.
Relatou que uma das formas mais comuns de assistência das Conferências Vicentinas é o apoio em géneros alimentícios e/ou roupas, acrescentando que “por vezes, temos a necessidade de encaminhar para técnicos especializados algumas das pessoas que pedem assistência, tendo em conta as suas necessidades específicas.”
Os Vincentinos promovem, ainda, o apoio a idosos e doentes e trabalham em colaboração estreita com a Cáritas da Ilha Terceira e com o Banco Alimentar.
Letícia Leal, da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória, falou a assistência que a instituição presta abrangendo 450 pessoas, em especial um grupo de homens sem abrigo e jovens institucionalizados.
No dia anterior, usaram da palavra António Barbosa, da autarquia praiense e Carmo Rodeia, diretora de comunicação da Diocese que falou sobre os Sinais de Esperança no mundo atual.
No próximo dia 17 de novembro, pelas 12h00, na Matriz de Santa Cruz da Praia da Vitória, haverá celebração da Eucaristia, presidida pelo Sr. D. Armando Domingues, Bispo de Angra, celebrando o Dia Mundial do Pobre, com a presença de todas as Conferências Vicentinas da ilha.