Igreja/Portugal: Presidente da CEP alerta para aumento da “polarização política” no país

Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa começou hoje em Fátima e debaterá, entre outros assuntos, o  processo de atribuição de compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais

Foto: Agência ECCLESIA/MC

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) alertou hoje, em Fátima, para o aumento da “polarização política” no país, falando na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária dos bispos católicos.

“Em Portugal, os últimos meses acentuaram a polarização política, imprópria para regimes democráticos e que parece esquecer as conquistas que mudaram o rumo da História de Portugal, há 50 anos”, assinalou D. José Ornelas.

O responsável católico considerou que “o equilíbrio parlamentar só tem sentido se for agente da dignificação da política”.

“As mulheres e homens que ocupam cadeiras de poder não podem defraudar as cidadãs e os cidadãos que os elegeram para contribuir para o bem de todos, a dignidade de cada vida e a afirmação de projetos que são garantia de um futuro melhor para toda a sociedade”, acrescentou o bispo de Leiria-Fátima.

O presidente da CEP evocou ainda o “drama da guerra” no Médio Oriente, na Ucrânia, em Moçambique e “em tantas outras geografias do mundo”.

“Sucedem-se conflitos que nos comovem com o seu séquito de miséria, fome, doença e destruição, que conduzem à perda dramática de vidas humanas, especialmente anciãos, mulheres e crianças indefesas e inocentes, que constituem a maioria das vítimas deste desvario”, lamentou.

O bispo de Leiria-Fátima adiantou que a CEP tem estado em contacto com a Conferência Episcopal de Moçambique, “na delicada situação que o país atravessa, com ataques às populações e os protestos após as eleições”, unindo-nos aos apelos dos bispos para que “se encontrem soluções que afirmem a justiça e a verdade da democracia”.

D. José Ornelas denunciou “a situação desastros”a que se vive em Gaza, há mais de um ano.

“Continuamos a afirmar a necessidade da libertação de todos os reféns e o respeito pelas populações que estão a ser tratadas em transgressão de todos os princípios e acordos internacionais, bem como dos valores da mais elementar humanidade, causando dezenas de milhares de mortos e um número muito maior de feridos, sendo 70% destas vítimas mulheres e crianças. Pode-se ser um ser humano e esquecer esta brutalidade?”, questionou.

No dia em que se iniciou a cimeira das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP29), em Baku, capital do Azerbaijão, o presidente da CEP denunciou “os ataques ao equilíbrio ecológico”, que levam à “intensificação da frequência e da força destruidora dos desastres naturais, atingindo níveis que fazem temer a irreversibilidade dos danos”. 

O responsável católico recordou, a esse respeito, o impacto da da “tremenda tempestade” que assolou Valência e a região circunstante, no final de outubro, assinalando que os bispos vão proceder a um “estudo de modos concretos para ir ao encontro de quem tanto está a sofrer”.

“Perante este quadro assustador, a comunidade internacional parece cada vez mais frágil e incapaz de deter as armas e interesses corporativos, para encontrar solução para os conflitos e para o negacionismo cego da situação crítica da Terra. A frequência e dramaticidade deste séquito de morte parece ter deixado de nos emocionar, revoltar e exigir justiça e esforços reais de paz e humanismo, incapazes de dizer ‘basta!’”, lamentou.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse também que os bispos católicos vão debater o processo de atribuição de compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais, pedindo “atenção constante” a esta questão.

“A questão dos abusos sexuais cometidos no seio da Igreja não pode, não deve e não terá uma volta atrás. Precisamos de manter a atenção constante ao sofrimento das vítimas e a firmeza na formação e na prevenção, bem como na clareza e determinação no tratamento de eventuais casos futuros”, referiu D. José Ornelas, no discurso de abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária que se iniciou esta tarde, em Fátima.

A CEP divulgou, no último dia 25 de julho, o regulamento para as compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais, que prevê a criação de duas comissões, falando num “dever de solidariedade” que deve resultar num “benefício significativo”.

O organismo representativo dos bispos e a Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) aprovaram em abril, por unanimidade, a atribuição de compensações financeiras a vítimas de abusos sexuais, anunciando a criação de um fundo da Conferência Episcopal Portuguesa para este fim.

A 1 de junho teve início o período de apresentação formal dos pedidos de compensação financeira, que decorre até 31 de dezembro deste ano, junto do Grupo VITA ou da Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis onde terão ocorrido os factos.

D. José Ornelas sublinhou, esta tarde, a importância do trabalho desenvolvido na proteção de menores e adultos vulneráveis nas comunidades católicas.

“Temos consciência de que a realidade dos abusos sexuais e os dramas das vítimas que causaram não deixou indiferente nem a Igreja nem a sociedade”, indicou o presidente da CEP.

“Há um caminho percorrido, marcado por etapas progressivas, desde a criação das Comissões Diocesanas, passando pelo trabalho da Comissão Independente, a Equipa de Coordenação Nacional e, agora, do Grupo VITA, onde se inclui o trabalho da prevenção, com diversas iniciativas de formações locais e dirigidas a grupos específicos”.

Para o presidente da CEP, o processo de atribuição de compensações financeiras é “uma parte deste caminho”, que visa “ir ao encontro pessoal de cada uma das vítimas”.

Os bispos portugueses vão dar seguimento ao trabalho em curso, “completando os processos previstos, para ir o mais possível ao encontro daqueles que se têm apresentado para este gesto”.

“Sabendo que ninguém pode pagar ou anular os dramas do passado, queremos que este seja um passo importante para o reconhecimento do mal que lhes foi infligido e de pedido de perdão, que contribuam para sarar feridas e afirmar a dignidade, contra a qual nunca alguém devia ter atentado”, assinalou D. José Ornelas.

A 210ª Assembleia Plenária da CEP termina com uma conferência de imprensa, esta quinta-feira, às 15h00.

A CEP, entidade representativa da Igreja Católica em Portugal, foi formalmente reconhecida a seguir ao Concílio Vaticano II, em 1967, com a ratificação pela Santa Sé dos primeiros Estatutos aprovados na Assembleia Plenária de 16 de maio, revistos posteriormente em 1977, 1984, 1999, 2005 e 2023.

De acordo com o Direito Canónico, este é o agrupamento dos bispos das dioceses de Portugal que, sob a autoridade do Papa, “exercem em conjunto certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território”.

A Assembleia Plenária é o órgão colegial máximo da CEP.

A 210ª Assembleia Plenária da CEP termina com uma conferência de imprensa, esta quinta-feira, às 15h00.

A CEP, entidade representativa da Igreja Católica em Portugal, foi formalmente reconhecida a seguir ao Concílio Vaticano II, em 1967, com a ratificação pela Santa Sé dos primeiros Estatutos aprovados na Assembleia Plenária de 16 de maio, revistos posteriormente em 1977, 1984, 1999, 2005 e 2023.

De acordo com o Direito Canónico, este é o agrupamento dos bispos das dioceses de Portugal que, sob a autoridade do Papa, “exercem em conjunto certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território”.

A Assembleia Plenária é o órgão colegial máximo da CEP.

(Com Ecclesia)

 

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