Iniciativa visa dar a conhecer as boas e as más práticas de proteção do Património religioso cuja salvaguarda nem sempre esteve assegurada
Realiza-se nos próximos dias 27, 28 e 29 de novembro, em Angra e na Praia da Vitória, na ilha Terceira, a iniciativa “O Património Religioso e os seus agentes”, informa uma nota enviada ao Sítio Igreja Açores.
O evento é uma parceria entre o CHAM-Centro de Humanidades da Universidade dos Açores, a Ouvidoria da Praia, o Instituto Histórico da Ilha Terceira e os Municípios de Angra e Praia.
O dia 27 arrancará com a participação de Leonor Sá, Conservadora responsável do Museu da Polícia Judiciária, que falará sobre o conhecimento e o inventário dos bens culturais como antepasso da sua proteção, a partir da experiência de um projeto designado Igreja Aberta-Igreja Segura, que coordenou durante vários anos. Esta conferência decorrerá no Salão Nobre da Câmara Municipal de Angra, às 20h00.
Nos dias 28 e 29, serão outros intervenientes, uns locais e outros externos, como Sérgio Pinto Ribeiro, que é investigador do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica e Fátima Eusébio, diretora do Secretariado nacional dos Bens Culturais. Nestes dois dias, as atividades terão lugar na Igreja Matriz da Praia, também a partir das 20h00. Fátima Eusébio falará sobre “As dinâmicas de salvaguarda e fruição dos bens culturais: entre a cultura e o anúncio de uma Igreja viva” e Sérgio Pinto sobre “Os funcionários paroquiais do estado liberal na ilha Terceira (1833-1911)”.
No dia 29, as conferências estarão a cargo de Leandro Ávila, “As confrarias devocionais do concelho da Praia: vínculos entre o espiritual e o temporal”; Marta Bretão que falará sobre a importância da conservação e restauro, “Conservação e restauro das pinturas quinhentistas de são João Batista e São Pedro, da Misericórdia da Praia” e Susana Goulart Costa e Francisco Miguel Nogueira dissertarão sobre o roubo da arte religiosa na Terceira oitocentista.
“Procuramos que esta jornada seja um misto de aprendizagem e partilha de experiências sobre o que corre bem e o que corre menos bem na protecção dos bens culturais da Igreja através do conhecimento” referiu ao Sítio Igreja Açores Susana Goulart Costa, responsável pelo DIO 500, um projeto de investigação histórica e patrimonial da Diocese de Angra no âmbito da comemoração dos 500 anos desta Diocese (1534-2034), que culminará na elaboração de uma plataforma digital dedicada à história da Diocese de Angra e à edição da obra “História Religiosa dos Açores”, em 2034. Este projeto envolve a Diocese de Angra, através do Instituto Católico de Cultura, a Universidade dos Açores, através do CHAM – Centro de Humanidades e a Universidade Católica Portuguesa, através do Centro de Estudos de História Religiosa.
“O que verificamos no terreno é a inexistência de uma política de salvaguarda dos bens da Igreja desde os tempos mais remotos até à atualidade”, afirmou a investigadora.
Por outro lado, há uma preocupação em perceber de que forma os bens culturais podem estar ao serviço da evangelização, cumprindo também eles uma missão.
“O século XXI apresenta-nos desafios diferentes, o chamado turismo religioso é uma realidade, e a Igreja deve estar capacitada do potencial destes bens para corresponder à missão através deles, pois o diálogo entre a Igreja e a cultura também se faz por aqui”, afirma ainda a coordenadora do projeto DIO 500 que tem a intenção de tocar as nove ilhas do arquipélago.
Projeto DIO 500
“No ano passado estivemos na ouvidoria do Nordeste, na ilha de São Miguel; este ano vamos até à Terceira e estaremos nas duas ouvidorias de Angra e Praia da Vitória. No próximo ano iremos a São Jorge se tudo correr como está previsto” refere Susan Goulart Costa.
“Descentrar e diversificar é o caminho que procuraremos trilhar através destes eventos em novembro, uma data simbólica porque foi a data de criação da Diocese de Angra (3 de novembro de 1534- Bula Aequum Reputamus, pelo Papa Paulo III), em que queremos mostrar não só o que estamos a fazer mas também o que podemos aprender em cada um dos lugares da diocese. Assim nos queiram acolher”, refere ainda.
O projeto DIO 500 já está em curso há dois anos, mas ainda assim “está numa fase embrionária”. Há um investigador a trabalhar a tempo inteiro no Arquivo da Mitra, na Biblioteca e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo e já está “muita documentação identificada e recolhida”, estão igualmente mapeados todos os arquivos onde há documentação sobre a diocese de Angra e, neste momento, está a ser feito um levantamento do que existe em concreto, de forma a que esta informação seja disponibilizada aos autores investigadores da história da Igreja nos Açores.
“Estamos igualmente muito empenhados em desenvolver o projeto das rotas dos santuários diocesanos e para isso já temos duas licenciadas a trabalhar no Convento da Esperança, Santuário do Senhor Santo Cristo, também para identificar e fazer não só o levantamento dos bens do Santuário como também do seu arquivo. Queremos, também, abraçar os outros santuários açorianos de forma a criarmos uma `Rota dos Santuários´, que esteja pronta dentro de três anos, sempre tendo presente esta lógica de evangelização”. A investigadora refere ainda “a colaboração que deve ser mantida com os reitores dos santuários” de forma a que o trabalho não seja meramente académico e possa “servir a missão”.
“Cada santuário terá a sua especificidade e por isso não poderá haver um modelo idêntico para todos os lugares, mas essas questões serão atendidas mais tarde”, refere ainda a coordenadora do projeto DIO 500.
“Creio que com os perfis e elementos que caracterizam cada santuário poderemos construir uma rota qualificada dos santuários diocesanos e assim valorizaremos o aspecto religioso que é tão forte na Região Autónoma dos Açores”, conclui Susana Goulart Costa.
O protocolo de cooperação das três entidades que integram o Projeto Dio 500 foi assinado no dia 13 de março de 2023.
Programa DIO 500 Terceira nov. 2024