O prefeito do Dicastério para os Bispos (Santa Sé) disse hoje, no Vaticano, que os trabalhos propõem uma “nova forma de fazer as coisas na Igreja”, que exige tempo.
“Não devemos esperar soluções instantâneas”, referiu o cardeal Robert Francis Prevost, no encontro diário com jornalistas, sobre os trabalhos da segunda sessão da Assembleia Sinodal.
O colaborador do Papa destacou a passagem de temas tidos como polémicos para os grupos de trabalhos criados por Francisco, em fevereiro deste ano.
Estes dez grupos de estudo abordam temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, envolvendo dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, até junho de 2025.
O cardeal Prevost sublinhou que os trabalhos desta sessão sinodal têm apontando a necessidade de mudar o paradigma de uma “estrutura de poder”, com mais organismos de consulta, nas dioceses e paróquias.
Em cima da mesa, acrescentou, está o processo de escolha de bispos e o papel dos núncios, representantes diplomáticos da Santa Sé em todo o mundo.
“O processo de busca de candidatos pode ser mais sinodal, mais aberto, incluindo uma maior participação de bispos, padres, religiosas, leigos e leigas”, assinalou o prefeito do Dicastério para os Bispos.
O colaborador do Papa assumiu que a missão episcopal deve levar cada bispo ao encontro das “necessidades específicas” de cada realidade, reforçando a “presença pastoral e social da Igreja”, onde quer que as pessoas sofram, e a proteção da natureza.
A teóloga Myriam Wijlens (Países Baixos), perita do Sínodo e especialista em Direito Canónico, falou num momento de “reset”, usando a linguagem informática.
“O sistema em que trabalhamos foi reconfigurado”, referiu aos jornalistas, falando numa mudança “notável”.
A perita destacou a insistência nos pedidos de mudanças no Direito Canónico, com encontros eclesiais “a todos os níveis da Igreja”, assinalando a obrigatoriedade da criação de Conselhos Diocesanos e Pastorais, com um reforço da sua constituição.
Outro dos temas em debate foi a valorização das assembleias continentais, com a criação de estruturas “permanentes”.
“Temos um bom modelo” que pode ser oferecido à Europa e ao mundo, indicou Myriam Wijlens.
O padre Gilles Routhier (Canadá), perito teólogo, abordou a questão da autoridade doutrinal e a competência própria das Conferências Episcopais, contestando a ideia de que os episcopados poderiam proclamar “novos dogmas”.
“Não é uma autoridade absoluta, mas tem limites, que são sempre a comunhão com a Igreja”, precisou.
O docente de teologia admitiu que existam receios ao confiar competências às Conferências Episcopais, por causa de uma possível “fragmentação”, convidando a conceber a universalidade na diversidade, com unidade entre todos, sem que isso signifique “uniformidade”.
“Em cada país, em grandes territórios socioculturais, há competências a atribuir às conferências episcopais para ensinar de forma autêntica a fé comum”, respondendo a desafios concretos, observou o sacerdote.
Na abertura do encontro com os jornalistas, Sheila Leocádia Pires, secretária da Comissão para a Informação do Sínodo, explicou que os trabalhos desta manhã se centraram nas “emendas coletivas”, aprovadas por consenso pelos membros das várias mesas, além das propostas individuais.
“Foram apresentadas mais de mil emendas”, das quais 951 dos grupos linguísticos, precisou; já em 2023 tinham sido apresentadas 1200 propostas de modificação.
As últimas duas reuniões gerais acontecem no sábado, com a leitura e votação do documento final.