Comunidades da ilha das Flores assumem nova organização pastoral que transfere para “equipas eclesiais de padres e leigos” a coordenação de serviços e movimentos

No final da visita do bispo de Angra à Ouvidoria das Flores, comunidades assumem um compromisso escrito, aprovado por unanimidade no Conselho Pastoral de Ouvidoria e partilhado esta tarde com todos os fieis

Foto: Igreja Açores /AMG

Apostar na transferência para “equipas eclesiais de padres e leigos” a coordenação de serviços e movimentos dentro da ouvidoria e constituir Conselhos Económicos em todas as paróquias, que sigam os Estatutos das restantes Ouvidorias da Diocese, são dois dos compromissos das comunidades paroquiais da ilha das Flores na sequência da visita pastoral do bispo de Angra à ouvidoria.

D. Armando Esteves Domingues passou a última semana na ilha, naquela que foi a primeira visita pastoral do seu episcopado, e encontrou-se com todas as comunidades desafiando-as a serem “comunidades sinodais”.

A formação de uma equipa de jovens da Ouvidoria para a coordenação do Serviço à Juventude, com um assistente padre e que estará já presente na próxima Assembleia de Jovens que se vai realizar na ilha Terceira, de 1 a 3 de novembro; a coordenação da catequese por uma equipa de três catequistas leigos, aproveitando a geografia territorial já existente; o crescimento da Pastoral Litúrgica e Familiar da Ouvidoria, já coordenadas por leigos, de forma a potenciar uma pastoral assente nos ministérios laicais- catequese, leitores, acólitos, acolhimento- são outros dos compromissos assumidos pelos cristãos florentinos.

O apoio à nova Direção da Cáritas da Ilha, agora presidida por um leigo, reforçando as estratégias de intervenção social e procurando alargar a atuação da Cáritas e reforçar o relevo da Escola de Formação da Ouvidoria “Raízes de Esperança”,  que responda às necessidades de formação contínua de todo o povo de Deus, são mais dois compromissos que resultam da Visita e que constam do documento que este domingo foi apresentado na festa de Nossa Senhora do Rosário, nas Lajes, depois de ter sido aprovado por unanimidade na reunião do Conselho Pastoral, que além de representantes de todas as comunidades passa a ter também representantes de todos os serviços e movimentos na igreja da ilha.

Dada a desertificação verificada em muitas comunidades, os conselheiros sugerem o incentivo da ” inter-paroquialidade sempre que se justificar e for uma solução consensual e natural”.

Por outro lado, e face ao fenómeno crescente da imigração, particularmente relevante no concelho das Lajes, a Igreja pretende desenvolver uma pastoral da mobilidade humana, que olhe para estes novos residentes mas também para aqueles que visitam a ilha, particularmente no verão ( este ano a ilha registou a entrada de mais de 9 mil pessoas, o triplo da sua população residente), aproveitando o diálogo que possa resultar em beneficio do crescimento na fé.

“Não se trata de converter mas de acolher e dialogar”, referia o presidente do Conselho  Pastoral numa entrevista ao Sítio Igreja Açores, no final da Visita Pastoral.

Este Conselho ficará, de resto, responsável pela calendarização de todas as atividades pastorais da ouvidoria, que deverão ser articuladas com as da diocese, sobretudo neste próximo ano em que se assinala o Jubileu da Esperança, mas também no que respeita à própria dinâmica pastoral da ilha, marcada pelas festas dos padroeiros e Espírito Santo.

“A Visita Pastoral que agora termina e permitiu o encontro do bispo, padres, leigos e leigas, é sinal da disponibilidade da Igreja para escutar a voz do Espírito Santo”, afirma o compormisso dando nota de que o que foi vivido nas Flores “é um exercício verdadeiramente sinodal, numa Igreja que se assume constitutivamente relacional e, portanto sinodal”.

“As reuniões que tivemos apontam para uma genuína vontade de corresponsabilidade no discernimento, na decisão e na acção, tendo por base uma verdadeira comunhão, uma empenhada participação e uma convicta disponibilidade para a missão, de todos em conjunto, no respeito pela pluralidade de opiniões e na diversidade dos carismas, reconhecendo a importância do ministério ordenado e do ministério laical como necessários para a vida da Igreja” diz o Compromisso aprovado por unanimidade pelos membros do Conselho Pastoral de ouvidoria.

“Não se trata de substituir uns pelos outros, mas de caminharmos uns com os outros como Igreja Povo de Deus; nem se trata de substituir padres por leigos, em virtude de uns serem  melhores que outros” esclarece o compromisso que apela à criação de paróquias sinodais.

“Uma Igreja Sinodal Missionária precisa de paróquias sinodais, isto é, de comunidades paroquiais que incentivem a participação de todos os batizados. Uma Igreja sinodal precisa, por isso, de seus párocos e dos seus leigos, unidos na oração, discernimento e zelo apostólico”, pode ler-se.

Os conselheiros recordam o tempo que a Igreja insular está a viver, à entrada para um ano santo e ao mesmo tempo de olhos postos no Jubileu dos 500 anos da criação da Diocese, e assumem o contributo que podem dar como parte de um todo.

“A partir da vida concreta das nossas 11 comunidades paroquiais, que constituem uma parcela da diocese de Angra, marcada pela progressiva desertificação, ausência de jovens e envelhecimento dos que mantém prática religiosa, mas vivem ativamente em Igreja, assumimos este compromisso”, conclui o documento que foi lido na celebração litúrgica que encerrou a vista pastoral de D. Armando Esteves Domingues.

Por causa da chuva intensa a procissão em honra de Nossa Senhora do Rosário não se realizou mas os fieis foram convidados a rezar uma dezena do Terço pela paz, associando-se desta forma ao pedido do Papa que hoje em Santa Maria Maior pediu pela Paz na Terra Santa. Amanhã a igreja diocesana junta-se novamente ao Papa num dia de jejum e oração pela Paz.

A Filarmónica União Operária e Cultural Nossa Senhora dos Remédios, da Fajãzinha, acabou por interpretar o hino de Nossa Senhora dentro da Igreja.

No final da celebração, que encerrou a visita pastoral, a comunidade ofereceu ao bispo de Angra um azulejo pintado à mão por um ex emigrante. Também foi feita uma despedida ao ouvidor, Monsenhor José Constância que amanhã regressa a São Miguel depois de ter estado um ano ao serviço nas Flores.

(Com a colaboração de António Maria Gonçalves/fotos)

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