“A sinodalidade não pode ser uma imposição das próprias opiniões e até marcação de agenda. Não devemos manipular a sinodalidade como uma estratégia para levar a água ao nosso moinho”
O bispo de Angra espera que este próximo mês, durante o qual decorre no Vaticano a 2ª sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre sinodalidade, possa ser um momento de aprendizagem “efetiva” do “valor da escuta e da corresponsabilidade”.
“Peço que não nos esqueçamos que a sinodalidade é uma forma muito evangélica de ser Igreja, de construirmos Igreja apelando à participação e missão de todos”, afirma D. Armando Esteves Domingues interpelado pelo Sítio Igreja Açores esta quarta-feira, dia em que começou em Roma, no vaticano, a 2ª sessão da XVI Assembleia do Sínodo.
“O sínodo não é para resolver problemas. É nas dioceses e nas comunidades locais que os problemas se resolvem. O sínodo ajuda-nos a perceber como nos escutamos e isso é muito importante. Pode até nem ser fácil e muito perceptível mas é fundamental”, esclarece o prelado.
“Nós temos uma realidade que ainda assenta muito no ministério ordenado e uma Igreja sinodal propõe outros ministérios na corresponsabilidade do Povo Santo de Deus, que se vai estruturando nos vários serviços, ministérios laicais nascidos do batismo”, acrescenta o bispo de Angra, apontando para as leituras que têm sido proclamadas esta semana, que remetem para o exemplo da criança e da sua humildade como condição para a entrada no Reino dos Céus.
“A imagem da criança é fundamental: a nossa atitude é a da humildade de quem se baixa para ouvir os outros; participar não é uma forma de exercer poder mas corresponsabilizarmo-nos, partilharmos as responsabilidades” salienta, prosseguindo: “a vida comunitária faz-se não de atitudes vistosas dos padres ou atividades concretas de leigos mas do quanto o Espírito Santo vai ajudando a construir a comunidade.”
“É uma abertura ao espírito , à mudança e à conversão” refere ainda.
Aliás, o prelado lembra a celebração penitencial presidida pelo Papa antes da abertura dos trabalhos desta segunda sessão da Assembleia do Sínodo, durante a qual Francisco incentivou os cristãos a pedirem perdão pelos pecados próprios mas também por aqueles que a Igreja deixou que a humanidade cometesse.
“O Papa diz-nos que a atitude sinodal passa por uma conversão pessoal e espiritual”, lembra o bispo de Angra. Por isso, convida a diocese insular, a nestes dias, “a virar-se para Roma, associando-se às grandes intenções do Papa: os contributos que damos para a construção da sinodalidade não podem ser uma imposição das próprias opiniões e até marcação de agenda. Não devemos manipular a sinodalidade como uma estratégia para levar a água ao nosso moinho”.
O prelado recorda, por outro lado, esse apelo à oração constante, feito pelo Papa, nomeadamente o agendamento do dia 7 de outubro como um dia de jejum e de oração pela Paz.
“Quanto nós precisamos de paz nestes grandes palcos de guerra mas também uma oração de paz nas nossas formas de estar, de falar, de ouvir, de construir e de planificar as coisas que são de Deus e não apenas nossas”, destaca.
O bispo de Angra está nas Flores e hoje cumpre o quinto dia da sua primeira Visita Pastoral.
“Eu estou a aprender o que é a sinodalidade. Quando aqui cheguei nem sabia que palavras haveria de dizer pois não tinha uma relação pessoal com muita gente mas depois de começar a conhecer as pessoas, já me é muito mais espontâneo falar, embora eu nesta visita esteja muito mais interessado em ouvir”.
Isto é, “ bispos, padres , leigos: se não tivermos esta atitude humilde dos pequenos, que aprendem a toda a hora, confiantes no amor infinito do pai, confiando nas pessoas que colaboram na melhor vontade para juntos sermos irmãos, não vale a pena”, confessa.
“Acredito que desta escuta eu mesmo sairei enriquecido. Disse desde que cheguei à Diocese que não vinha para ensinar, mudar, dar muitas tarefas às pessoas para que mudem a Igreja. A minha grande proposta é eu próprio mudar, para ouvir e perceber convosco se há caminhos novos para percorrer”, insiste.
A Diocese encontra-se desde o ano passado num processo de escuta das bases num Itinerário Pastoral que irá ditar no fim do biénio um novo ciclo que tem um horizonte temporal de 9 anos que irá conduzir à celebração dos 500 anos da sua criação.
“Temos esse horizonte de 10 anos, temos o desafio do jubileu, já no próximo ano, mas procuro sobretudo que nos conheçamos e possamos fazer o caminho em conjunto e que juntos definiremos”.
A visita pastoral do bispo de Angra à ilha das Flores prossegue até domingo, dia do encerramento com a perspetiva de um compromisso alicerçado na vontade das 11 comunidades que aqui nesta ilha formam a Igreja mais ocidental da Europa.