Nossa Senhora do Pranto celebrada no Nordeste com apelo a que a sua ermida seja um “santuário de devoção às sete dores de Maria”

Foto: Igreja Açores/JG

Este domingo, algumas dezenas de fiéis voltaram a participar na procissão da Imagem de Nossa Senhora do Pranto ao Pocinho, uma devoção antiga na ouvidoria do Nordeste

O padre Jason Gouveia convidou este domingo os fiéis da Senhora do Pranto, em São Pedro do Nordestinho, ouvidoria do Nordeste, a desenvolverem a partir da sua ermida uma “verdadeira devoção às dores de Nossa Senhora”.

A 15 de setembro, celebra-se a festa de Nossa Senhora das Dores, com esta invocação no Nordeste de Nossa Senhora do Pranto. Segundo uma antiga tradição, os cristãos lembram “as sete dores de Maria”: momentos em que, perfeitamente unida ao seu Filho Jesus, partilhou de um modo singular a profundidade da dor e do amor do seu sacrifício.

“Todas as mães sabem o que é perder um filho: para a droga, para as mentalidades deste mundo; quantos filhos estão perdidos e precisam de ser encontrados” afirmou o sacerdote pedindo igualmente “atenção e abraços” para quem “é idoso, está doente ou perde um ente querido”.

“Que neste dia em que celebramos Nossa Senhora das Dores, aqui Nossa Senhora do Pranto, possamos pedir a graça não de não sofrer mas de termos a força para ultrapassar o sofrimento”, disse o sacerdote.

“Quem quiser uma vida sem sofrimento não procura a vida; todo o ser vivo passa por dores basta olhar para o nosso planeta, a poluição, a guerra… A dor faz parte da condição humana. O que precisamos é da graça para a ultrapassar o sofrimento”, afirmou o sacerdote.

“Como era bom que neste lugar, neste pequeno `santuário´ da ilha de São Miguel brotasse uma devoção às dores de Nossa Senhora, sermos capazes de entregar as nossas dores ao coração de Maria para que possamos através da sua intercessão, recebermos do seu filho amado a graça que todos precisamos”, afirmou o sacerdote durante a celebração que decorreu na Ermida de Nossa Senhora do Pranto este domingo, com a tradicional procissão ao Pocinho.

A devoção a Nossa Senhora das Dores tornou-se comum na Igreja por volta do século XIV. Foi revelado a Santa Brígida da Suécia (1303-1373) que a devoção às Sete Dores da Santíssima Virgem Maria traria grandes graças a quem rezar as orações. A devoção consiste em rezar sete Ave-Marias, meditando nas Sete Dores de Maria.

“Sigamos o exemplo de Maria”, desafiou o sacerdote, numa festa particularmente ligada ao Movimento dos Romeiros de São Miguel, que durante a Quaresma ali acorrem.

As sete dores da Santíssima Virgem que suscitaram maior devoção são: a profecia de Simeão, a fuga para o Egito, os três dias que Jesus esteve perdido no Templo, o encontro com Jesus levando a cruz,  a sua morte no Calvário, a descida da cruz e o sepultamento de Jesus.

A Ermida de Nossa Senhora do Pranto foi reaberta ao culto em fevereiro de 2012 depois de obras de ampliação e recuperação, nomeadamente o restauro do altar mor e de todo o espaço envolvente, com a criação de um parque de estacionamento e também de obras de melhoramento no trilho que é seguido pelos Romeiros. Ao longo do seu acesso encontram-se painéis de azulejos com os passos da Via Sacra.

A construção desta ermida na ouvidoria do Nordeste está associada a uma lenda nascida com o grande terramoto que abalou a ilha em 1522 e com o surto de peste que se lhe seguiu.

Em São Pedro Nordestinho, um jovem pastor de gado terá avistado Nossa Senhora que lhe terá ordenado a construção de uma ermida naquele local. Se assim fosse feito, o povo daquela localidade não sofreria da peste nem da crise sismo-vulcânica.

Durante a construção da ermida, outro milagre terá ocorrido quando, perante a falta de água, brotou da parede do templo, junto ao chão, água em abundância que jorrou até concluída a construção. Mais tarde, a água passou a brotar da rocha, no local presentemente conhecido por Pocinho, onde hoje ainda corre e os crentes afirmam vislumbrar a marca do pé de Nossa Senhora.

Segundo a tradição, contada por Gaspar Fructuoso e mais recentemente por José Augusto Borges, no livro “Senhora do Pranto”, naquele ano, quando se registava um surto de peste em Ponta Delgada, um pastor de gado avistou Nossa Senhora e a Virgem ter-lhe-á ordenado determinadas coisas, entre elas a construção da ermida. O povo, tomado de fé, tê-la-ia construído.

Desde então, a imagem de Nossa Senhora do Pranto é vestida com capas oferecidas pelos fiéis.

 

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