Francisco sublinha importância da paz e da justiça social para promover a democracia e a estabilidade
O Papa lançou hoje um apelo ao diálogo entre religiões, no primeiro discurso da sua viagem à Indonésia, perante responsáveis políticos e representantes da sociedade civil, reunidos no Palácio Presidencial de Jacarta.
“A Igreja Católica deseja incrementar o diálogo inter-religioso. Desta forma, podem eliminar-se preconceitos e desenvolver um clima de respeito e confiança mútuos, indispensável para enfrentar desafios comuns, entre os quais o combate ao extremismo e também à intolerância”, referiu Francisco, que chegou ao país na terça-feira, dando início à viagem mais longa do seu pontificado.
O discurso inicial desta visita ao país com mais muçulmanos no mundo destacou a importância de promover uma “harmonia pacífica e construtiva” que garanta a paz e ajude a combater “desequilíbrios e bolsas de miséria”.
O terceiro Papa a visitar a Indonésia, onde os católicos representam 3% da população (mais de 275 milhões de pessoas), Francisco sustentou que a Igreja “está ao serviço do bem comum e deseja reforçar a cooperação com as instituições públicas”
“Mas nunca fazendo proselitismo, nunca. [A Igreja] Respeita a fé de cada pessoa”, declarou.
“A fé em Deus, infelizmente, é muitas vezes manipulada, não servindo já para construir a paz, a comunhão, o diálogo, o respeito, a colaboração, a fraternidade, mas para fomentar divisões e aumentar o ódio”, disse.
A intervenção foi lida em italiano, com tradução simultânea, tendo o pontífice sublinhado a importância de promover a “fraternidade” numa nação, que considerou algo “muito bonito”.
“Tal como o oceano é o elemento natural que congrega todas as ilhas indonésias, assim o respeito mútuo pelas características culturais, étnicas, linguísticas e religiosas específicas dos grupos humanos que compõem a Indonésia é o indispensável tecido conetivo que torna o povo indonésio unido e orgulhoso”, realçou.
Após elogiar a “grande biodiversidade” presente neste arquipélago, ameaçado pelas alterações climáticas, o Papa deixou votos de que cada grupo étnico e confissão religiosa possa agir com “espírito de fraternidade, procurando o nobre objetivo de servir o bem de todos”.
Francisco citou a Constituição da Indonésia, de 1945, que faz referências a Deus e à necessidade da “justiça social”, observando que, a nível internacional, “uma parte considerável da humanidade é deixada à margem, sem meios para viver dignamente e sem defesa para enfrentar graves e crescentes desequilíbrios”.
“A unidade na multiplicidade, a justiça social, a bênção divina são, portanto, princípios fundamentais destinados a inspirar e orientar os programas específicos”, indicou.
A viagem à Indonésia, primeira de um Papa desde a visita de São João Paulo II em 1989, tem como lema ‘Fé, fraternidade, compaixão’.
Francisco assinalou que, no mundo contemporâneo, há “tendências que dificultam o desenvolvimento da fraternidade universal”, dando origem a conflitos e tensões, dentro dos países e entre eles.
Numa das nações mais populosas do mundo, o Papa elogiou a quantidade de famílias numerosas, em contraste com leis que promovem o aborto e a quebra demográfica noutras regiões do mundo.
“Que Deus abençoe a Indonésia com a paz, para um futuro de esperança”, concluiu.
Joko Widodo, presidente cessante da Indonésia, sublinhou por sua vez a aposta do país na “paz e na tolerância”, elogiando a “diversidade” da população da terceira maior democracia do mundo.
Os dois responsáveis tinham-se encontrado em privado, no Palácio Presidencial, onde Francisco assinou o Livro de Honra: “Imerso na beleza desta terra, lugar de encontro e de diálogo entre diferentes culturas e religiões, desejo que o povo indonésio cresça na fé, na fraternidade e na compaixão”.
No fim da cerimónia oficial de boas-vindas, o Papa foi saudado por centenas de pessoas, entre elas muitas crianças com bandeiras do Vaticano e da Indonésia, retribuindo com acenos desde a janela do carro que o transporta, um utilitário branco.
(Com Ecclesia)